Capítulo 3: Melancolia Constante

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Não tive coragem de ligar para os meus avós depois de receber a maldita carta, afinal, de nada adiantaria e eu me consideraria um covarde por jogar tamanho problema nos ombros das pessoas que me carregaram a vida inteira e eram incapazes de me ajudar. Preferi deixá-los acreditar que continuava tudo bem. Se não fosse por Selly, ficaria em estado vegetativo até que as duas semanas passassem e eu não fosse mais, oficialmente, um aluno de Stanford. Ela me ofereceu tudo que tinha em sua conta-poupança, mas não seria certo tirar o dinheiro que juntou por tanto tempo para abrir sua própria clínica no futuro.

Nada restou para mim, além de continuar frequentando as aulas e o estágio rotineiramente até o último minuto da minha vida. Fechei-me em meu próprio mundo sombrio durante três dias. Era como se assistisse os meus sonhos esvaecerem bem diante dos meus olhos e ir nesses dias para a universidade era uma espécie de tortura masoquista particular para mim, — estar perto e poder tocar algo que eu nunca teria— até que uma intervenção foi feita.

— Não acredito que vai desistir assim — Selly jogou meus livros longe e eu simplesmente a encarei como se não ligasse.

— O que espera que eu faça? — Bufei. — Acha que posso conseguir o dinheiro da mensalidade pedindo esmola na rua? Ou quem sabe até choramingar de joelhos até convencer o reitor a me devolver a bolsa?

— Você ao menos tentou? — Encostou-se de braços cruzados na lateral da mesa da sala.

— Pedir esmola? — Sorri ironicamente.

— Conversar com o reitor — revirou os olhos.

— Sim, — pus os cotovelos na mesa puxando todo meu cabelo — mas nem ao menos me deixaram passar da recepção.

— Pensei em algo nessas últimas horas, já que você não aceitou a minha ajuda... — olhou-me arqueando a sobrancelha esperando que eu mudasse de ideia.

— Prossiga com sua nova ideia — respirei fundo fitando seus olhos.

— Seu financiamento estudantil — completou.

— Não dá ao menos para pagar uma das aulas durante uma semana — encarei a parede automaticamente — e eles diminuíram o valor quando deixei de morar no campus.

— E se você conversasse com ela?

­— Kara Xavier? — Franzi a testa cogitando a hipótese. — E o que eu diria a ela?

— A verdade — ergueu os ombros. — Afinal, você não fez nada de errado e ela é sua amiga, não é!?

— Na verdade, acho que ela sentiu pena da minha história — recordei vagamente da conversa que tivemos no metrô quando nos conhecemos.

—Melhor ainda — Selly sorriu. — A pena dela aumenta suas chances de zero para cinquenta e cinco por cento.

Selly não estava me dizendo nada absurdo, embora pensar em reencontrar minha gerente do banco e lhe pedir um favor estivesse me causando momentâneas dores de estômago.

— Acha mesmo que devo tentar? — Enruguei a testa franzindo os lábios.

— O que mais você tem a perder? — Encorajou-me.

— Tem toda razão — cerrei o olhar para ela lhe dando um meio sorriso.

—Eu sempre tenho — bufou revirando os olhos com um falso egocentrismo na fala.

Moveu seu corpo rapidamente para o meu colo, sentando-se de frente para mim e segurou as laterais da minha mandíbula iniciando um beijo lento e um tanto instigante. Sentir seu perfume de lavanda acalmou um pouco da minha ansiedade, então decidi aproveitar o momento esquecendo por minuto os meus problemas. Repousei minhas mãos firmemente sobre seu quadril e pressionei seu corpo para baixo, contra o meu. Uma atitude leviana me surpreendeu, seus dedos ágeis abriram os botões da minha camisa azul e a tiraram de meu corpo num só movimento. Não sabia ao certo qual o passo seguinte deveria seguir, mas acreditei piamente que aquela seria a noite em que entregaria seu corpo para mim.

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