Capítulo Cinquenta e Três - Explosões

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Merda.

Isto sim é um dilema.

— Eu estava pensando que precisamos conversar.

— E ao que vejo, não é apenas sobre vocês dois. — Jacqueline pontua.

Não foi uma pergunta, uma dúvida ou uma sugestão; foi um fato constatado por ela.

Adam, curioso e subitamente preocupado, me encara sem disfarçar emoção alguma.

— Sobre o quê? — Ele pergunta.

— Nada que não possa esperar, Garoto. — Lanço um olhar para as crianças mergulhadas em seus sonos tranquilos. Ou... Quase.

— Abaixa a TV! — O gêmeo do sofá murmura, a voz rouca soando quase inaudível.

— Não quero incomodá-los. Nós conversamos mais tarde. — Digo, mas a curiosidade ou a preocupação cravou suas garras no Adam e ele não irá abandonar o assunto com facilidade.

— Eles estão dormindo. Não irão ouvir coisa alguma, mesmo que gritemos com eles. Pode falar.

— Você chamou o meu filho de "Garoto". — A voz da mãe do Adam soa aguda e, por algum motivo, indignada. — Por favor, diga-me que é alguma piada.

Os lábios do Adam se retorcem em um belo sorriso bobo e seu rosto cora ao explicar:

— Ela me chama assim, às vezes. É uma espécie de apelido carinhoso.

Ele, como ficou bem óbvio, não percebeu o tom de voz amargo da sua mãe.

— Abaixa! 'Tá alto. — O menino resmunga mais uma vez e começa a se remexer no sofá até que os seus olhos enormes se abrem e, sonolentos, nos encaram. — O quê? O que foi? — Phillipe pergunta à mãe e ao irmão.

Ele me encara e diz um "Oi" um tanto confuso.

— Você dormiu enquanto brincava. — Adam diz e isto faz o menino se sentir derrotado.

— Isso é coisa de criança! Eu sou gente grande, agora. Não queria ter dormido... — Ele suspira, desolado. Ele me faz sentir comovida, como se ele realmente estivesse vivendo um enorme problema.

Sua mãe, confusa pela explosão do filho, diz:

— Fique acordado conosco enquanto conversamos, então.

O rosto do menino vira tão rapidamente para olhar a mãe que parece ter chegado próximo a se quebrar. É como se ele tivesse acabado de ouvir um tremendo absurdo com o qual não concorda de maneira alguma.

— E espere os outros acordarem para vocês brincarem mais. — Adam emenda e parece aliviar a decepção do menino.

— Não... Eu vou dormir no meu quarto, a minha cama é mais boa. Só mais hoje... Eu já dormi mesmo, não é? Não vai fazer mal tirar uma soneca. Mas é só mais hoje, ouviu? — Phillipe estira um dedo para o Adam e sua entonação e o seu olhar fazem parecer que ele está advertindo o mais velho por alguma imprudência.

Eu me esforço para não rir e pelo canto do olho eu vejo que Jacqueline não está muito diferente.

Adam consente com seriedade.

— Vou levar os seus irmãos para a cama, também. — Adam fala.

O menino dá de ombros, pula do sofá e corre para o quarto.

Eu ajudo o Adam a pegar a Marion – a mais leve e, consequentemente, a que eu consigo carregar com facilidade – e levo-a para a sua cama e o Adam leva o Allain.

Efeito AliceWhere stories live. Discover now