17 - A ÚLTIMA ESPERANÇA

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Meu... cabelo...

Eu ouvi meu barbeiro arrumar as coisas e ir embora.

Eu estava sozinha, com frio e sem cabelo. Entendi a pergunta do Samu, agora... isso era realmente um campo de concentração dentro da escola. Será que vai demorar muito pra câmara de gás?

O que estava acontecendo com todo mundo, afinal?

— Sarah, como vai?

Lírian.

Eu não podia vê-la, mas sua voz era inconfundível. Então ela apareceu e desfilou na minha frente segurando a longa trança que havia sido cortada, instantes atrás. Sorriu para mim de forma sádica e ao mesmo tempo cínica.

De melhor amiga a pior inimiga num único minuto. Essa menina era, definitivamente, louca!

— Você-cortou-o-meu-cabelo! – Eu rosnei para ela.

— Ué, você não vivia falando que precisava cortar: Te fiz um favor. E você fez um pra mim também. Eu estava mesmo querendo uma echarpe nova. E o seu cabelo dourado é tão macio e perfeito.

Ela vai transformar o meu cabelo numa echarpe? Que espécie de LOUCA NAZISTA ela é?

— Você me dá nojo Lírian!

Ela fechou a cara.

— Não, Sarah. Você me dá nojo. Todos aqueles encontros com... Ah! Não consigo nem falar o nome deles. Você mentiu pra mim, Sarah. Me disse que havia prestado o vestibular! Que havia estudado... e no final eu descubro que não passa de uma... transferida.

Ela cuspiu a palavra, como se fosse algo repugnante. Fui transferida e me orgulho disso.

— Gays! Negros, religião? São pessoas como qualquer outra, Lírian – eu a olhei indignada. – Bolsistas? Até bolsistas?

Ela arregalou os olhos. – "Ah, não, Sarah! Assim você me ofende. Eu não tenho nada contra bolsistas. Até os admiro. Quase se matam de tanto estudar para poder ter uma formação decente, mesmo levando em conta a sua situação financeira. Passam as madrugadas com a cara nos livros e ainda têm saúde para trabalhar, cuidar da casa, fazer os deveres..."

Ela fez uma cara dramática, então me olhou.

— Disse ao meu pai que fazia questão de receber os bolsistas no primeiro dia de aula. Até pedi para que aumentassem o número de vagas, porque quem realmente quer, Sarah, consegue.

Eu estava chocada. E também não entendia mais nada.

— Mas... – ela continuou com o nariz franzido, como se sentisse um cheiro ruim. – transferidos. Eles simplesmente vêm de qualquer escola porque estão para repetir o ano ou porque foram expulsos.

Ei! Eu não fui expulsa e era a melhor da minha sala!

— Uma escola não pode recusar uma transferência, Sarah. E se uma escola com um nível superior como o nosso aceita qualquer um, quer dizer que não é tão boa assim, e a minha escola, Sarah, tem de ser a melhor!

É isso aí. É agora que eu vou morrer.

— Lírian!

Opa, alguém entrou esbaforido. Ficou atrás de mim, mas pela voz, parecia ser o...

— O que foi, Frederich?

Bingo.

Mas... ela ficou nervosa, mau sinal.

— Tem duas viaturas na frente da escola.

O quê?

— O quê? – Ih, ela ficou mais brava ainda. – Como assim?

— Carros de polícia, Lírian. Estão rondando a escola e eu vi um deles apontar a janela quebrada.

A janela pela qual o MD caiu... Tomara que ele esteja bem.

— Eles não podem entrar. As luzes estão apagadas. – Ela disse resignada e eu a vi respirar fundo, tentando acreditar no que dizia.

— Mas eles vão ligar para o seu pai, Lírian. E disso a descobrir que você não está na cama é uma só... – Eu falei isso alto?

— Ninguém pediu a sua opinião, escória! – E eu apenheeeeei de novo, ótimo! Mas, sim, era bom, eu a deixei em dúvida.

Meus parabéns, Lírian. Você fez um movimento errado.

— Lírian, ela ta certa. – Obrigada, Frederich, mas isso não tira os cinco dedos dela da minha cara e nem devolve o meu cabelo. – Se ligarem para o seu pai falando de uma suposta invasão, logo ele vai descobrir que você não está em casa.

Ela rosnou. Jogou minha trança no chão e socou a parede mais próxima. Boa sorte pra sair da escola sem ser vista.

— Leva essa coisa daqui! Preciso pensar!

O bom de não ter mais cabelo foi não ter como ser arrastada por ele pelo Frederich. Ele teve de me desamarrar e me empurrou até a minha cela novamente. Caramba, como estava frio.

AI!

Não existe mais gentileza hoje em dia.

Fui arremessada de volta na minha cela.

— Sarah! – Era a voz preocupada de Samu, mas ele não se moveu. Tateei até ele.

— Como ele está?

— A febre baixou um pouco. O que fizeram pra você? Você está bem?

Suspirei longamente. Eu estava cansada. Cansada de tudo, de fingir para todos, de brigar por uma luta que não era minha. Simplesmente fui até ele e tencionei tomar Davi para mim.

— Eu cuido dele agora, pode deixar.

— Sarah...

— A Líriam vai fazer uma echarpe com o meu cabelo, Samu... – suspirei de novo. Acho que fui grossa com ele.

Ele me entregou Davi em silêncio.

— Sarah, eu...

— Eu a confundi.

— O quê?

— Não. Eu não. Acho que foi o MD.

— Do que você está falando?

— Quando estávamos conversando, ah, e você ser bolsista não era problema.

O quê? Sarah não estou entendendo nada.

Certo, eu falo muito rápido aquilo que passa pela minha cabeça.

— Desculpe. Primeiro que eu descobri que o fato de ser bolsista não foi o motivo de você vir para cá. E segundo, depois que ela cortou o meu cabelo, Frederich entrou correndo e disse que havia duas viaturas paradas aí na frente.

— Sério?

— Sim, os policiais estavam rondando o prédio e já haviam visto a janela quebrada.

— E o que o MD tem a ver com isso?

— Acho que ele está vivo. Ele caiu daquela janela. Deve ter ido avisar a polícia. Ele deve tê-los mandado para cá.

Eu sorria, e mesmo que Samu não pudesse me ver, ele podia ouvir na minha voz. A esperança de MD estar bem havia reacendido em meu coração.

— Eu disse a ela que não demorariam a descobrir que ela estava por trás de tudo.

— Quero acreditar nisso.

— Então acredite – eu suspirei rapidamente. – Ela ficou perdida... me deu um tapa e continuou perdida.

Eu o ouvi rir levemente. Claro que achávamos certa graça nisso. Apanhamos e tivemos nossas cabeças raspadas, mas saber que a Líriam estava perdendo a cabeça de tal forma que a impedia de atuar era muito gratificante.

Demos as mãos e oramos silenciosamente.

E foi quando eu ouvi o primeiro tiro.

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