Capítulo 12 - QUANDO A VERDADE VEM À TONA

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Q... que lugar é esse?

Parece um hospital... Por que eu to num hospital?

AI! Meu ombro... ta, acho que eu já lembrei..

FILHO! Graças a Deus!

Mãe? – olhei para o lado quando a ouvi me chamar. Ela se jogou contra mim (e eu tive de me segurar para não gritar de dor. Meu ombro ainda estava sensível)

Pobre mamãe, chorava compulsivamente. Olhei para minha mão por sobre o ombro dela e respirei aliviado quando vi que não havia nenhum implante. Que bom que não está frio lá fora.

— Mãe, eu to bem. – ela me soltou e me encarou com os olhos em chamas. Minha mãe me dava medo às vezes.

Como você levou um tiro, menino?

Tiro... sim, eu levei um tiro quando estava na... Meu Deus.

— Mãe, cadê a Sarah?

— Não mude de assunto. – ela estava alterada, brava, triste, preocupada. Tudo junto dentro de uma só pessoa. Sentimentos normais, dado o momento, para uma pessoa normal, mas não para a minha mãe...

— Mãe, eu to bem. Cadê a Sarah?

Ela olhou feio para mim, mas voltou a respirar com mais calma. – Ela estava com você? O que vocês faziam na escola a essa hora da noite?

— É complicado, mãe... – Pronto, não tem como sair dessa sem contar a verdade. E ela não vai acreditar. – Prometo que te falo mãe, mas...

— Nada de mas, mocinho. – Por que será que eu sabia que ela ia dizer isso? – Pode começar a falar agora. Comece com esse tiro no braço.

Não tem como discutir com a minha mãe, quando ela toma uma decisão.

Precisei me segurar para não chorar na frente dela. Faria quando estivesse sozinho em casa, no meu quarto. Ele servia para isso.

Segurei a mão dela e apertei com força. Respirei fundo e pedi forças para Yoda. Ela me olhava sem entender.

— É difícil mãe. Então, por favor, me deixa falar. – Ela concordou em silêncio. Tentei tomar a pose mais série a responsável que um menino de doze anos poderia tomar.

— Levei um tiro na escola, mãe. Tem umas coisas acontecendo desde a minha matrícula. Aquela escola está divida em dois grupos. Os perfeitos e... nós... – ela não tentou protestar, bom sinal. Então continuei.

— Essa escola não é normal, mãe. Você... lembra dos alunos que eu disse que saíram da escola? – novamente ela concordou em silêncio. Um ensurdecedor e torturante silêncio. – Não foram transferidos...

— Com...

— Mãe... por favor. – Ela tapou a boca com a mão livre e concordou.

— Davi e Samu... Eles... eles não foram viajar... Eles morreram mãe. E quem mais se machucou com isso foi a Sarah.

— Filho...

— Mãe, me deixa falar... – eu não estava mais conseguindo segurar e chorava junto com ela. Não queria falar essas coisas para ela, justamente para não piorar o seu problema, mas não tinha outra saída. – Tem gente muito ruim naquela escola, mãe. Gente que some com as pessoas que não estão de acordo com os seus padrões de perfeição. Eles matam mãe. Deficientes físicos, mentais, negros, transferidos, bolsistas, de religião diferente... Eu estou na mira deles há muito tempo, e agora pegaram a Sarah.

Ela chorava. Apertava a minha mão e chorava. Não é fácil consolar a minha mãe por causa do problema dela, mas eu não tinha mais como poupá-la disso.

Instituto Athenas (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now