18 - RESGATE À TARANTINO

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 — Obrigado pela carona, Rafa.

— Minha irmã também agradece. – Ele respondeu sério. Acho que descobrir sobre Luiz mexeu com ele.

Pobre Eva...

— Juro que vou cobrir aquele moleque de socos quando o encontrar.

— Calma. Precisamos salvar a Sarah. – Isso soou um tanto egoísta, eu sei. Ajeitei-me no banco. Meu ombro me incomodava, esqueci de tomar o remédio.

Espera. Isso é...

— Tem alguém atirando?

— É – eu concordei. – É o que parece.

Ele estacionou o carro na rua paralela à escola.

Não fiquei surpreso ao ver os policiais trocando tiros com os alunos, mas fiquei surpreso ao ver mais do que as duas viaturas que eu havia visto sair de lá. E mais duas passaram ao nosso lado.

— O negócio lá tá feio. – Ele disse então se virou para mim. – Como está o seu braço?

— Me enlouquecendo. – Eu respirei fundo. – Precisamos ajudá-los a entrar. Vou abrir o estacionamento.

— Quer levar outro tiro?

— Não. Quero que isso acabe!

Aquele tiroteio estava me preocupando. Ficava pior a cada minuto e, olhando de novo... DEUS!!!

Dois policiais estavam mortos.

Não dava para acreditar a que ponto as coisas chegaram. Crianças estão fazendo isso...

Olhei em volta. Muitas luzes de casas e apartamentos ao redor da escola estavam acesas. Vi algumas cabeças escondidas por detrás das cortinas, querendo saber o que as havia acordado.

Então tive uma ideia louca: Peguei meu celular e disquei.

— Tá ligando pra quem?

Eu apenas sorri em resposta a Rafael.

— Ah! Boa noite, eu tenho uma bomba para vocês...

Eu ri ao ver uma perua velha com o símbolo do jornal mais importante da cidade chegar, seguida pelos carros de reportagem de outros jornais e televisões. Até as rádios vieram.

Muitos dos policiais não gostaram muito daquilo. Aquela brincadeira havia virado um massacre e envolver gente de fora não estava nos planos deles.

Uma Unidade Móvel de Saúde havia chegado, e meu sorriso murchou quando vi mais policiais abatidos.

Já estava fora de controle.

Eu precisava dar um jeito nisso. Só ficar atirando não resolvia em nada.

Os tiros vinham de dentro com mais intensidade do que os que voltavam.

— Eles precisam entrar! – Eu estava aflito.

— Cara, não tem jeito.

Então eu faria ter.

Olhei para os lados e tentei chamar a atenção de um repórter e do policial mais próximo. Eles correram, desviando-se das balas, o policial quase foi atingido.

— O que foi, garoto? – Perguntou o repórter que, segundo o seu crachá, se chamava Juliano. O policial me olhava seriamente.

— Não foi você que falou disso pra gente lá na delegacia? Devia estar em casa agora! É perigoso aqui.

— Mas vocês precisam entrar e eu sei como colocá-los lá dentro.

Não esperei resposta. comecei a andar pelas folhagens até o portão do estacionamento dos professores. Olhei para trás para ver se estavam me seguindo.

Estavam. Inclusive Rafael.

Verifiquei o portão e estava destrancado. Agora era só entrar em silêncio e...

— Por aí não!

Eu olhei para trás e me espantei quando vi Luiz chegando atrás de todo mundo.

— Tem gente aí. Ficaram espertos depois que você caiu.

— O que você tá fazendo aqui? – Rafael rosnou para ele, e eu tive de segurá-lo, com certa dificuldade.

— Depois. Não dá pra entrar por aí.

— Como é que você sabe, garoto? – O policial entrou na frente.

— Porque depois que ele caiu da janela, fomos procurá-lo, mas ele havia sumido. Então eles perceberam que havia mais jeitos de entrar, e lá dentro tem gente armada.

— Por que acreditaríamos nisso? Foi você que atirou nele. Você levou a minha irmãzinha.

Estava difícil manter Rafael estável, então Juliano me ajudou.

— Isso é verdade, garoto? Você atirou nele?

Vi Luiz confirmar em silêncio. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Era David Lynch demais, até mesmo para mim.

Luiz estava se entregando?

— Filho, sinto muito, mas terei de levá-lo comigo.

— Eu ponho vocês lá dentro, tudo isso acaba e você pode me levar. Aquelas pessoas não são amadoras. E tem gente inocente presa lá.

O quê? Tem gente viva? Isso quer dizer...

— A Sarah tá viva? – Soltei Rafael e fiquei na frente de Luiz.

— Até a hora que eu fui pra sua casa, sim.

Ah! Deus. Obrigado!

— Como vai colocar a gente lá, filho?

— Sigam-me.

Ele passou por nós (e dessa vez, o policial teve de ajudar Juliano a segurar Rafael).

Continuou o caminho até a rua de trás. Abriu a cerca da lixeira.

— E como entramos garoto?

— Pelo duto de lixo... – eu respondi automaticamente. Todos me olharam.

Como eu poderia ter esquecido do duto de lixo? Era o meio mais clássico dos filmes. Como sou estúpido!

— Sim, pelo lixo. – Luiz foi até a caçamba e subiu nela. – Isso aqui dá na área de serviço e ninguém se lembra de lá. Principalmente as princesinhas da escola. Eu descobri isso aqui há algumas semanas e não contei pra ninguém.

Se isso fosse um filme ou um livro, ele nos guiaria pelo duto, e quando chegássemos lá, descobriríamos que havíamos sido traídos... de novo...

Bom, o jeito era confiar. Fui até lá e ele me ajudou a subir na caçamba.

Eu o olhei seriamente. Não sabia o que ele estava fazendo, mas não havia escolha. Olhei para dentro do duto. Não era tão íngreme, dava para subir. Só precisávamos suportar o cheiro.

Estava vazio e escuro, e o lugar todo cheirava a cândida. Por um minuto eu achei que fosse vomitar.

Era agora ou nunca!

Luiz ia nos guiar, mas o policial tomou a frente. Tentou nos impedir de entrar, mas somos teimosos e suicidas demais para ficar só esperando.

Subimos, um atrás do outro. O policial na frente, Juliano e Luiz depois, Rafael e eu por último. Era isso ou voltar para casa.

Fiquei feliz ao constatar que a lavanderia estava vazia. As luzes estavam apagadas, mas a claridade da lua que entrava pelas grandes janelas de vidro nos dava certa visão.

— Certo. – Luiz virou-se para nós. – Vamos fazer silêncio. Eles são apenas crianças, mas sabem usar uma arma com destreza. Então tenham cuidado.

Todos concordamos e ele nos guiou às escondidas pela escola.

Instituto Athenas (EM REVISÃO)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin