Compreendendo o papel da Suíça

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Não deu pra fugir. O churrasco acabou acontecendo.

A parte boa foi que todos compareceram e isso deixou papai feliz.

A parte ruim foi que todos compareceram...

É, parece contraditório, eu sei, mas quando se está no meio do fogo cruzado, você não sabe para que lado apontar.

Se eu ia falar com os "Exilados" (apelido carinhoso dado pelo Frederich), Líriam e toda sua turma faziam bico. Se eu ficasse com o Império (pronto, isso já pegou em mim também) a Resistência achava ruim. E se eu não falasse com ninguém, papai acharia estranho e diriam que eu sou mal-educada.

Acho que vou ficar maluca mais cedo do que pensei...

A classe toda estava lá... dividida em duas panelas. Fico feliz em pensar que criança é assim mesmo, faz birra com tudo. Então as panelinhas eram o menor dos meus problemas.

Seria inocência demais de minha parte pensar que tudo isso poderia ser uma oferta de paz para todos?

Olhei para os dois lados. Líderes de torcida e nerds da sala de ciências... Agora vai que vai! Sentei-me numa das mesas, à sombra de um guarda-sol amarelo.

— Sarah, você é doida? – olhei surpresa para o lado de onde vinha a voz. Frederich estava de pé, segurando dois pratinhos com lanches.

— Oi? Como é? – ele pôs um prato na minha frente e sentou-se ao meu lado.

— Está doida? Por que convidou esses nerds e os exilados?

— Papai pediu para convidar a classe toda. E eu já conversei com alguns deles, Frederich. Eles são bem legais.

— Não é questão de ser legal, Sarah... – ele foi bem agressivo ao dizer isso, mas se recompôs, olhando discretamente para os lados. – Sarah, você conhece a história dessa escola? – eu neguei com a cabeça, então ele continuou. – Uriel Nicolai Lacerda, o bisavô de Líriam era apaixonado pelo ensino. Tinha grande visão de futuro e sonhava que o país fosse comandado pelas melhores crianças, as mais bem-preparadas. Mas isso não era para qualquer um...

"Estudou muito e conseguiu um bom cargo político e então fundou a nossa escola. Selecionou os melhores profissionais para trabalhar lá. Depois que ele morreu, o filho dele seguiu seu sonho. E aqui estamos, sendo cuidados pelo pai da Líriam, mas acho que ele é muito coração-mole, porque agora qualquer um pode entrar na escola."

— Qualquer um? Como assim?

— Você fez o vestibular, Sarah! Viu como ele é relativamente difícil.

Relativamente? O que ele quer dizer com relativamente? Concordei com a cabeça lembrando daquele calhamaço absurdo que eu fiz várias e várias vezes. – "Quantas horas levou para fazer?" – eu despertei quando ele perguntou.

— Eu não me lembro bem. Acho que quase cinco horas. E você? – acrescentei quando o vi altear uma sobrancelha.

— três horas e meia...

Senhor... três horas e meia? Levei quase dez horas na primeira vez... Deprimente! Isso quer dizer que eu estudo pouco... EU DURMO DEMAIS!

— Então... – eu voltei a atenção a ele. – esse vestibular foi elaborado para os melhores. Mas agora qualquer um entra. Está transformando nossa escola excepcional numa escola comum. Nossa reputação está acabando.

Espera um minuto... Não, meu cérebro se cansou tanto de estudar, e agora estou ouvindo coisas? Já fiquei maluca?

— Desculpe, pensei tê-lo ouvido dizer que a reputação da escola estava caindo por causa de alunos comuns...

Instituto Athenas (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora