CAPÍTULO 15 - FALTA DE AR

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Davi, por favor, reage. Fala comigo! Você sorriu, tenta falar alguma coisa.

Eu tentava aquecê-lo, esfregava seus braços, já o havia coberto com o meu casaco, mas ele não parava de tremer.

Por que eu não tenho a droga de um ant...

Espera...

Aimeudeus, eu tenho a droga de um antitérmico... os remédios da mamãe...

Puxei a minha bolsa e procurei de novo, minha garrafa de água estava lá, e estava cheia. Achei o saquinho com a caixa de remédio.

Como é que não confiscaram isso de mim? Bom, melhor não reclamar.

Abri a caixa do remédio e peguei uma das cartelas. Tinha... seis... oito comprimidos em cada, isso dá... Droga! Não dá pra fazer essa conta sem saber o que ele tem e sem ler a bula...

Rezei para não matá-lo e pus um comprimido na boca de Davi, abri a garrafa e o fiz beber e engolir aquele remédio.

Vai, Davi. Colabora comigo. A sua mãe tá pirando porque acha que você morreu. Então vê se colabora comigo e continua vivo!

Passos.

Tem alguém vindo.

A porta se abriu e a luz quase me cegou. Protegi meus olhos no peito de Davi.

A sombra que apareceu jogou alguma coisa dentro da cela e fechou a porta.

— A-ai... – É um menino.

— Quem é você?

— S... Sarah?

Samu??? – Céus, ele estava vivo também... estiquei a mão na direção da porta e encontrei a dele. Eu o ouvi se arrastar até mim e nos abraçamos com força. Aimeudeus, ele também está careca. – Vocês estão vivos, que bom!

— Eu sou muito teimoso pra morrer agora! Preciso aguentar pra manter o Davi vivo.

— Acabei de dar um antitérmico a ele.

— Onde achou um antitérmico?

— Na minha bolsa, minha mãe me deu quando eu fiquei doente aquela vez, mas eu sempre me esquecia de tomar.

— Espero que ajude. – Eu o senti mexer no meu cabelo. – Sarah... você gosta de ter cabelo comprido?

O que essa pergunta tem a ver com o que está acontecendo?

— Seja forte, ta? – Ele me disse.

Eu estava com medo. Devia ter escutado o meu pai e deixado ele me mudar de escola. Eu queria o meu pai...

Comecei a chorar e ele me abraçou de novo.

— S-Samu... O que acontece agora?

Ele respirou fundo.

— Seja forte, Sarah... Pelo Davi.

Eu me encolhi, ainda com Davi nos braços, e Samu me apertou em seu peito nu.

— Acredita em nós agora?

Eu senti que ele não quis ser cruel com aquela pergunta, mas mesmo assim, ela doeu. Eu tentava aquecer Davi. Esfregava seus braços por debaixo do casaco.

— Logo... alguém vem me buscar, né?

Samu ficou em silêncio. Só pôs a mão no meu rosto, subiu até a minha testa então eu o senti beijar o topo da minha cabeça, ficou ali apenas respirando.

— Quando foi que tudo isso começou? – Ele perguntou baixinho.

— Em 1933 – eu respondi.

— Me jogaram aqui, dizendo ser um tratamento especial, então eu achei o Davi. Ele estava tão fraco...

— Como conseguiu mantê-lo vivo?

— Uma vez por dia eles nos dão um grude ralo pra comer... eu dava uma aparte do meu pra ele. A febre chegou essa semana...

— Temos que sair daqui.

— Eles estão armados, Sarah.

— Eu sei. Eles... atiraram no MD. – eu senti meus olhos marejarem e Samu se mexeu. Claro, quem não se assustaria ao saber que o melhor amigo...

— Ele...

— Eu não sei, Samu... Até um minuto atrás eu achei que vocês dois também estavam. Agora eu não sei de mais nada.

Eu me desprendi dele, mas ainda segurava sua mão. Era bom saber que meu amigo estava vivo, que estava bem e estava ao meu lado.

Respirei fundo. Davi e Samu estavam vivos, mas agora MD podia não estar...

A porta se abriu com força e tive de cobrir os olhos por causa da luz forte.

AI! Meu cabelo.

— Não! Me solta! – Não consigo enxergar. Ai!

— Sar... ai!

Droga de brucutu que não pára de me empurrar.

— Não precisa empurrar!

— Cala a boca.

Educaaaaado... Droga de luminosidade. Meus olhos estão doendo.

AI! Eu fui jogada numa porcaria de cadeira... inclinada?

Enfim...

Era besteira resistir, então deixei que ele prendesse minhas mãos e minhas pernas. É burrice, eu sei, me entregar para o inimigo, mas... eu já não sabia o que fazer.

Queria poder coçar os olhos... mas já estavam se acostumando com a claridade. Estava um pouco embaçado, mas dava pra ver AIMEUDEUS, voltei pra Sala 7... é hoje que eu morro...

O quê? Alguém pegou no meu cabelo. Tentei ver quem era, mas a pessoa girou minha cabeça para frente com certa delicadeza.

É isso aí... me ferrei.

AI!QUE FOI ISSO?

Poxa, se queriam que eu deitasse a cabeça, era só pedir. Encaixaram meu pescoço de qualquer jeito numa... coisa... sei lá o que é isso. E agora vai ficar todo dolorido.

AI! Assim você arranca o meu cabelo. Opa! Água... água?!

Essa... pessoa ta... lavando o meu cabelo?!?

Eu não entendi.

Lavando...

Passando creme...

Ih, ela saiu e eu ainda estava presa.

Depois de algum tempo, provavelmente os dois minutos que indicam nas instruções do condicionador, mas que foram uma eternidade para mim, que só podia ficar olhando para o teto branco, ela voltou. Enxaguou meu cabelo com água morna, secou com uma toalha, passou alguma coisa que eu nem quero saber o que é e depois passou o secador de cabelo com uma escova.

Por que eu estava recebendo um tratamento de beleza? Pra ficar bonita no caixão? (credo, que deprimente.)

Penteando... penteando... penteando... puxandoAI!... prendendo num rabo de cavalo... fazendo uma trança... Clique...

Clique?!?!?

Aimeudeus... Senhor, diz que esse som não é de um... É! NÃO! MEU CABELO! NÃO! Ele tá raspando o... meu cabelo. Meu cabelinho tão lindo...

E eu não... podia fazer nada... a não ser chorar.

Instituto Athenas (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now