Capítulo 41 - Roda Viva I/II

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22h00, 7 de setembro – Condomínio de Salvador Lavezzo

Estouraram os primeiros fogos em sua homenagem. Parceira da formidável lua, a noite acompanhava estrelas cintilantes e moldurava um inigualável quadro do autor tempo. Ao redor, poderiam ser escutadas as palmas e os assovios dos milhares de convidados, porém, nada acontecia no majestoso palco. O que estava por detrás da cortina vermelha? Uma banda? Dançarinas? Mais um nome internacional? Nada disso!

— Se eles soubessem o que estou pensando, nem me dariam boa noite — após a carona dada por seu imediato, angustiado tal qual os sentenciados à morte, Salvador resmungou ao ouvir o início da chamada.

Aguardando o sinal de Jonas Quintella, caminhou pelo tablado de madeira. Alguns fogos explodiram pelo ar e a voz melodiosa do astro latino lhe dera um instante de sossego. Primeiro estranhou a música interpretada, depois, reconhecendo-a, lastimou-se por um cantor tão pobre estragá-la diante de seus convidados.

And now the end is near

And so I face the final curtain

My friend, I'll say it clear

I'll state my case of which I'm certain

I've lived a life that's full

I traveled each and every highway

And more, much more than this

I did it my way

Desligando-se da correria do dia-a-dia, apoiado sobre a estrutura do palco, embora detestasse a voz enrolada do intérprete, deixou-se abater pelo efeito da música, abrangendo tanto o aspecto físico quanto o emocional. Refletia sobre a sua letra favorita, deixando-se chegar a um nível de abstração em que não mais reconhecia palavras, intérpretes ou arranjos.

A letra era de uma simplicidade tão ímpar quanto profunda. Arranjada em tom melancólico, por se tratar dos últimos suspiros de uma pessoa relatando o apanhado de sua vida. Porém, diferente da morbidez temática, mal se escutavam menções ao arrependimento ou desespero. Pelo contrário, a letra se desenvolvia sobre uma espécie de louvor à superação do homem pelo próprio, no qual, assumindo as consequências de seus ideais, enfrentou toda e qualquer imposição sem se acovardar, ou se deixar levar pela influência de terceiros. Ou seja, preocupou-se com o seu caminho, vivendo, literalmente, do seu jeito.

Regrets, I've had a few

But then again, too few to mention

I did what I had to do

And saw it through without exemption

I've planned each charted course

Each careful step along the byway

And more, much more than this

I did it my way

A canção fora eternizada por um gênio explosivo e alcoólatra, amante incansável da vida, de comportamento violento e estreita ligação com a máfia. Salvador via em Frank Sinatra um dos seus. Viver do que se tem vontade é um calvário e, arrependido ou não, vencido ou derrotado, também trilhou seu próprio caminho.

For what is a man, what has he got?

If not himself, than he has naugth

To say the things he truly feels

And not the words of one who kneels

The record shows, I took the blows

Bella Mafia - Dinheiro se lava com SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora