XXVII

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Os wyverns batiam suas asas em longos e espaçados intervalos, mesmo assim não perdiam velocidade ou altitude. Os monstruosos lagartos demonstravam pouco cansaço em voo, ainda que empreendessem uma viagem de longa distância e em alta velocidade. A cada batida, a musculatura das criaturas se contorcia e o contato da pele nua dos humanos, nas regiões sem roupa ou proteção, com as escamas dos wyverns, mostrava o quão impressionante era a estrutura corporal dos répteis.

Do alto, tudo parecia pequeno. As planícies, vilarejos, árvores e até mesmo os problemas. A realidade é que, em contato com as nuvens, os ventos mágicos sopram com mais força. Acima das ondas de preocupação e rotina, pesadas e próximas do chão, sopravam os ventos inspiradores, ventos mágicos e coloridos da criação mágica.

Flayfh ajeitava o cabelo que insistia em obstruir sua visão e secava um pouco das lágrimas que escorriam dos olhos ressecados pela exposição ao vento. Apertava os braços contra o pescoço do réptil, buscando apoio para se segurar. Gavril e seu wyvern estavam alguns metros adiante, voando ligeiramente mais rápido e o espadachim guiava a criatura em direção ao destino ao qual se dirigiam.

Pela facilidade com a qual o guerreiro manobrava a criatura, era difícil acreditar que era a primeira vez com que fazia aquilo. Curvas, subidas e descidas, tudo isso segurando Udur que seguia desacordado.

A visão do lugar logo abaixo era reconhecível a qualquer distância. As casinhas esbranquiçadas, dispostas de maneira organizada. O pequeno templo de pedra e mármore com a torre de observação estelar. Pomena continuava o mesmo vilarejo, com a graça dos Dez Deuses, intacto.

No solo, os guerreiros que protegiam o local se apressaram em reunir armas que pudessem utilizar à distância. Alabardas, lanças e arcos. Os possíveis inimigos voadores poderiam causar muito dano caso alcançassem o pacífico recanto.

Os primeiros disparos passaram próximo das criaturas voadoras que, instintivamente, desviavam dos ataques. Arremetendo contra o solo em grande velocidade, ao comando de Gavril, os wyverns causaram pânico na população de Pomena, que corria em desespero para os abrigos de seus casebres.

Ao atingir o chão com graça e leveza, inesperados para o tamanho e ferocidade das criaturas, os dois foram cercados pelos guerreiros do local.

- Senhora Flayfh? – disse o líder dos homens, armado com uma lança de batalha.

A clériga desceu de sua montaria e ajudou o espadachim com o transporte do anão inconsciente. Após voarem por dez horas ininterruptas, estava exausta e sem forças para mais nada. Precisava de um banho e de algumas horas de sono.

Distribuiu ordens para que os guerreiros patrulhassem o perímetro em busca de possíveis criaturas com aparência de ratos humanoides. O espadachim despediu-se dos Wyverns que partiriam para caçar longe dali. Seria arriscado manter dois animais famintos, carnívoros e vorazes tão próximos de um vilarejo como Pomena.

**

A clériga repousava em seu templo, imersa em um colchão de penas e desconectada dos problemas que a aguardariam. Acreditava que tivesse dormido por algumas horas quando foi despertada pela ardência em seus olhos. Suas capacidades proféticas retornaram com força total.

Arrebatada de sua cama em um arroubo de energia divina, visualizou um vilarejo nas planícies, próximo ao Lago de Cristal, totalmente tomado pela presença dos Nyax, que se encontravam reunidos ali. O feiticeiro azulado estava lá e um gigantesco portal se abria nos céus, tamanha era a escuridão que emanava do círculo aberto nos céus, que eclipsava a luz dourada solar naquela manhã.

Antes mesmo de se recuperar do que sentira, Flayfh deixou o tempo à procura de Gavril, mas foi impedida por dois dos seus principais guerreiros, os mais fiéis.

Espada e Dever  - Um livro no Mundo de ThystiumOnde as histórias ganham vida. Descobre agora