XXIV

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O chão metálico denunciava as passadas que ecoavam na ponte central do local. A estrutura  atravessava o saguão, criando um elo entre o local onde Udur, Gavril e Flayfh encontravam-se e os Sabris presos às paredes. Ao longe era possível ouvir passos vagarosos. 

Alguém se aproximava do trio que explorava o lugar.

Udur utilizava sua visão privilegiada de anão para buscar o Sabri mais próximo, onde poderiam retirar a estaca com menos dificuldade, porém desviou o olhar para descobrir quem era o recém-chegado que avançava em direção ao grupo, as passadas lentas chamaram sua atenção.

Era alto, delgado e com rosto de feições finas e simétricas. O nariz era fino e pontudo, já a testa destoava da aparência, pois era protuberante e denotava momentos iniciais de calvície. A criatura humanoide era do sexo masculino, todavia envergava um longo vestido negro que recobria até mesmo seus pés. Os olhos eram intensos e malignos, o tipo de olhar de alguém que não guarda nenhum apego à moralidade.

– O que você viu, Udur? – perguntou o espadachim, tentando falar baixo.

– Encrenca. – respondeu ele entre os dentes. – O lugar não estava vazio, seria sorte demais.

Flayfh era a mais sensitiva dos três e percebeu com espanto quando uma mão invisível alisou seu rosto, retirando uma mecha de cabelo que caíra sobre um dos seus olhos. Conteve o grito de susto. Seja lá o que fosse, ela não daria esse prazer.

Em seguida, a tocha carregada pela clériga se apagou. Sem vento nem nada que indicasse naturalidade no evento.

– Vocês passaram pelos meus Wyverns. – disse a voz arrastada, com arrogância e desdém. – Mas a audácia de escravos das estrelas invadirem um santuário não pode ser tolerada. Não sujarei minhas mãos com a impureza de criaturas tão patéticas.

Uma lufada forte perpassou o ambiente. Pela escuridão que se apresentava, os dois humanos não puderam ver quando uma dúzia de esqueletos avançou contra o grupo e foram desintegrados pela exposição à fé de Udur, que ergueu seu símbolo divino por reflexo. Contrariando o que acreditavam, a fé nos deuses os amparava até mesmo ali, no lar dos maiores inimigos das Estrelas. Flayfh e Gavril ouviram os sons, mas não faziam ideia do que acontecia ali.

O ventou recomeçou a soprar, agora trazendo outro tipo de criaturas. Lagartos humanóides, armados com lanças e tridentes. Os monstros aparentavam ter sido arrancados de algum pântano. Tinham aspecto lamacento e fediam a lodo.

Percebendo que não poderia continuar naquele ritmo, Udur tomou uma providência diferente. Invocou uma oração que nunca utilizara outrora, gerando um globo de luz em suas mãos. Era inútil quando se convivia com anões, mas fundamental para os limitados olhos humanos.

– Detesto ser portador de notícias ruins, mas temos um bocado de companhia. – disse Udur.

As criaturas se locomoviam com lentidão, mas tinham corpos fortes e maciços. Braços longos e alongáveis adicionavam perigo extra, desconhecido do trio que explorava o lugar. Descobriram da pior maneira, quando as garras retráteis dos monstros atingiram Flayfh, deixando um rastro de sangue ao perfurar seu ombro.

Gavril flexionou os joelhos e tomou impulso, lançando-se sobre os adversários, como costumeiramente fazia. Contava com seus reflexos superiores para desviar dos ataques que recebia e com a integração mental com sua lâmina, uma extensão de seu corpo, para se proteger contra garras que se aproximassem demais. Utilizava sua espada com maestria, mas era dotado de forte instinto, agarrava as criaturas com o braço livre e atirava umas contra as outras, puxava alguns deles pelas orelhas feitas de folhas e desferia joelhadas diretamente contra a face das criaturas, desfigurando-as com a potência do golpe.

Espada e Dever  - Um livro no Mundo de ThystiumOnde as histórias ganham vida. Descobre agora