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A fechada sociedade dos anões é um caso único em Thystium. Vivem isolados em suas tradições e regras, comandados por uma rígida classe religiosa. Elfos treinam seus servos das Estrelas através da sabedoria das xamãs, humanos adotam a relação de mestre e aprendiz, onde raramente um clérigo treina mais de um noviço.

Os anões abordavam o assunto de uma forma diferente. Centralizavam todo o treinamento no imponente templo de Enlil, localizado na parte mais profunda de Gamilsin, ou Montanhas Gêmeas, como são chamadas por humanos. Assim, os moradores das montanhas escolhiam promissores jovens entre as famílias mais tradicionais e os treinavam em turmas, formando clérigos dotados de grandes conhecimentos em história e diversos outros tópicos.

Valendo-se dos seus grandes conhecimentos, Udur começou a narrar a história de um confronto que precedeu a guerra contra os dragões. 

"No passado, criaturas devoradoras de magia e de inspiração conhecidas como Sabri começaram seu ataque à realidade como conhecemos. Eram dotados de grandes conhecimentos em rituais, além de possuidores de poderes capazes de distorcer a realidade com seus tentáculos enegrecidos, algo que rivalizava com os tirânicos répteis.

Poderosos e sedentos, eles causaram baixas entre os filhos dos dragões e para surpresa dos répteis, nada os fazia morrer. Eles transitavam com facilidade entre o mundo dos vivos e dos mortos, mesmo com o controle de entidades ancestrais que zelavam pelos portões da vida e morte, mesmo quando desintegrados pelo supremo sopro dos dragões Urototh, eles retornavam. A alma das criaturas não se dobrava aos desmandos da morte.

A única maneira encontrada pela grande inteligência dos Urototh para deter os monstros que sempre voltavam, foi criar armas capazes específicas para lidar com eles. Diversos dragões reuniram-se em torno do projeto que deteria a ameaça dos bebedores de magia, resultando disso na criação de estacas produzidas com a madeira das árvores que abundavam na Mata Eterna, conhecidas desde sempre como poderosas e mágicas.

Os dragões e seus filhos caçaram sem clemência cada um dos Sabri, como os inimigos se chamavam, e os aprisionaram entre o mundo dos vivos e dos mortos, utilizando as poderosas estacas".

– Está dizendo que iremos roubar armas criadas milênios atrás pela magia bruta de diversos dragões e que são utilizadas para aprisionar criaturas imparáveis? – Flayfh foi incapaz de conter o espanto.

– Sim, esse é o plano. – Udur respondeu sem abalar-se com a reação de Flayfh. – O Feiticeiro Azulado é uma ameaça maior do que podemos visualizar no momento. Com sua imortalidade e sua magia, ele eventualmente irá conseguir realizar os objetivos a que se propõe. Não é como simplesmente pudéssemos prendê-lo em uma caixa e jogar no fundo do oceano.

– Nem todos os Sabri foram destruídos durante o expurgo. – disse a ave metálica. – Uma entre eles escapou e causou grande mal e sofrimento durante séculos e séculos. Seu nome era Sidh e ela era vista como uma entidade dos pesadelos entre elfos e humanos.

– Era só isso? – disse Flayfh. – Ela foi destruída durante o Sol da Meia-noite. Era apenas uma bruxa que servia aos Lordes da magia. Pelo que ouvi através Leste, ela não era esse terror todo.

– Ela era um mero capacho dos verdadeiros Sabri. – respondeu Galiomordianstro. – Mesmo assim era dotada de conhecimentos capazes de rivalizar com os maiores magos. A bruxa criava portais e viajava livremente por todo o mundo dos sonhos, feitos possíveis somente para aqueles finamente sintonizados com a magia.E só foi destruída de fato com o poder do Nexus Mágico Joe Cornwall, que era uma verdadeira entidade das estrelas.

Gavril apenas observava a conversa entre os três servidores dos deuses. Não possuía nada próximo do conhecimento histórico daqueles que discutiam, mas entendia da tomada de decisões. Esforçou-se por levantar, vencendo as dores que rasgavam seu corpo de ponta a ponta.

– Se é a chance que temos, é a chance que iremos utilizar. – disse o espadachim. – Cansei de ver esse feiticeiro escapando e sobrevivendo, conseguindo seus objetivos.

– Espero que tenham ciência que estão para libertar uma criatura de grande mal e perversa como jamais nenhum de vocês conheceu. Uma entidade que acompanhada dos seus fez com que as criaturas mais egoístas do mundo se unissem em prol de um objetivo comum. – disse a ave.

– Primeiro derrubaremos o Feiticeiro Azulado, depois o monstrão que iremos despertar. É o que fazemos, somos heróis. – disse Gavril. – Encontraremos um jeito.

– Que os deuses tenham pena do mundo se vocês falharem. – disse a ave metálica.

– Estamos seguindo a vontade do universo, a verdadeira vontade dos deuses. Não existe falha quando se trilha um caminho assim, deveria saber disso, Galiomordianstro. – respondeu Flayfh com o peito estufado e olhar firme.

Espada e Dever  - Um livro no Mundo de ThystiumOnde as histórias ganham vida. Descobre agora