XXI

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O trio deixou o templo na manhã seguinte. Preces aos deuses garantiram que o espadachim estivesse plenamente recuperado dos ferimentos que restavam da batalha contra os dezenas de Nyax. Ao partirem, receberam do metálico zelador do templo uma contribuição para sua viagem: poções destiladas no local, capazes de curar todo e qualquer ferimento ou envenenamento. Mais poderosas do que as preces dos dois clérigos eram capaz de curar, criadas pelas mãos dos próprios deuses milênios atrás, conforme mencionou a ave de metal.

Seguiriam viagem contando com os conhecimentos do clérigo Udur, que estimava a localização da prisão em um local chamado de Cratera Fumegante. Ocupando uma grande porção do Sul de Thystium, a região enevoada era responsável em parte pelas lendas que corriam acerca das maldições do sul.

A trilha que os levava para o caminho correto era repleta de carcaças desossadas, o que indicava um predador hábil ou tremendamente sádico. Ter cuidado era o mínimo que poderia ser feito ao viajar por terras tão perigosas, ter cautela era obrigatório, mas ter sorte era o mais recomendável.

– Você sabe o caminho exato que nos levará até lá? - perguntou Gavril, recebendo um menear positivo por parte do anão. – Pode pedir aos deuses que nos arrumem uma daquelas montarias?

– Gostaria, mas infelizmente não teria para todos nós. – respondeu Udur. – É recomendável que mantenhamos o mesmo passo.

– Vocês já pensaram no que vamos fazer ao chegar nesse local? – perguntou Flayfh. – Digo, não é como se eles fossem deixar uma prisão com inimigos terríveis desprotegida.

– Não existem mais dragões. – disse Gavril coçando o queixo. – O último que existia morreu junto com sua cidadela, em uma batalha. Cinco anos atrás. Vocês não ficaram sabendo?

– Minha preocupação é descobrir que os dragões não estão tão distantes assim. – asseverou Flayfh. – Isso faria questionar tudo o que sabemos sobre nossa história dos últimos séculos. E, além disso, teríamos que enfrentar qualquer coisa que os dragões tenham deixado para trás.

– É uma preocupação, válida. – disse o anão. – Mas somos amparados pela Luz das Estrelas e temos o exército de um homem só ao nosso lado. Seja lá o que tiver guardando o lugar, enfrentaremos.

Pelos próximos dias caminharam pela desolada e deserta região sul, curiosos por não encontrarem nenhum perigo digno de nota. Alguns ursos-cuspidores de fogo, afugentados pelos poderes dos clérigos, sobretudo de Udur que parecia ter algum conhecimento da região.

Exceto pelos trolls.

Um grupo de seis trolls pantanosos vagava pela região e cruzou com os três viajantes, pegando-os de surpresa. As criaturas julgaram por bem transformar os três em uma refeição e atacaram inicialmente à distância com pedregulhos que removeram do chão lamacento.

– Cuidado! – o grito de Flayfh foi levado em alta conta por Gavril e Udur, que conseguiram evitar do primeiro ataque, mas foram atingidos por pedras menores lançadas em sequência.

Buscando a origem dos golpes, Flayfh encontrou os trolls escondidos entre árvores repletas de cipós que se estendiam até o chão lodoso. Tentou contar quantos eram, mas as criaturas se camuflavam bem no ambiente.

– Udur, fique de prontidão por aqui com a Flayfh. – Gavril ouvia sua lâmina e se preparava para atacar sem nem mesmo saber onde estavam os inimigos. Os encontraria ao atacar.

Udur assentiu e retirou um pequeno instrumento de sua bolsa de viagem que trazia presa à cintura e tentou avisar o plano que havia bolado em sua mente, mas a clériga já havia avançado no encalço de Gavril para engajar-se em batalha contra os trolls.

Com um salto, Gavril avançou em direção ao troll mais próximo e girou sua lâmina em direção ao braço da criatura, que só percebeu o ataque ao sentir o braço arrancado do corpo. Aproveitando o impulso do golpe, o espadachim apoiou-se em uma das árvores próximas utilizando a perna direita e ganhou embalo para um segundo ataque, desta vez contra a cabeça de outro dos trolls, este ainda segurava um dos pedregulhos e perdera o tempo do arremesso. Caiu no chão soterrado pela pedra que erguia.

Utilizando os cipós grossos como ferramenta de batalha, o mais musculoso dos trolls os lançou em volta do pescoço de Gavril que não teve reação o suficiente para evitar ao ataque e acabou preso pelo inimigo. O troll mais próximo do espadachim ergueu a garra e avançou sem hesitar contra o pescoço do guerreiro humano aprisionado, mas teve sua mão esmagada contra o chão pela maça de Flayfh. A clériga olhou para Gavril esperando que ele resolvesse o problema em que se encontrava e ergueu sua maça novamente para finalizar o troll que se encontrava ferido à sua frente.

Gavril girou sua lâmina de baixo para cima, livrando-se dos cipós e tomando impulso no chão, deu um salto mortal e aterrissou atrás do mais musculoso entre os trolls, desferindo três cortes em alturas variadas numa fração de segundos.

– Gavril, os trolls regeneram ferimentos. Jamais vamos conseguir detê-los com armas comuns! – Flayfh se desvencilhava do ataque de mais um dos trolls e largava sua maça contra a cabeça do mesmo com toda potência de seu braço direito.

O espadachim olhou ao redor buscando um plano e percebeu que os trolls abatidos estavam levantando para batalhar novamente. "Isso só pode ser brincadeira", o mais musculoso entre os inimigos já estava de pé novamente e sua cabeça começava a regenerar-se por completo.

– Deixem essa parte comigo, humanos! – Udur tinha ao seu lado dois dos ursos-cuspidores de fogo, imensos e com cara de poucos amigos. – Mas recomendo que saiam da frente!

Flayfh abrigou-se atrás de uma das rochas e foi seguida de perto por Gavril, que correu às suas costas. Assim que Udur soou o apito que trazia consigo, os dois ursos disparam uma imensa labareda em formato de cone, atingindo todos os seis trolls ao mesmo tempo, impedindo que regenerassem e os destruíndo por completo.

– Você é cheio dos truques, Udur! – disse Flayfh empolgada, mesmo com parte de seu cabelo chamuscada pelas chamas.

O anão utilizava seu apito para dispensar os dois animais e retornava para próximo dos seus companheiros humanos, com sua passada decidida e firme, queixo erguido e peito estufado, Udur sabia que tinha feito um bom trabalho.

– Em Gamilsin todo clérigo aprende a lidar com criaturas como aquelas, faz parte do treinamento em Enlil dominar as habilidades de doma, é parte importante de como nosso exército luta.

– Os anões tem um exército? – perguntou Gavril sem conter o espanto.

– Acho que já falei demais por hoje. – respondeu o anão com um sorriso que não combinava em nada com sua expressão embrutecida.

Espada e Dever  - Um livro no Mundo de ThystiumOnde as histórias ganham vida. Descobre agora