XVIII

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Horas depois, dentro da construção.

– Você fez um excelente resumo de tudo que passou nas mãos da criatura. – disse Galiomordianstro com sua voz metálica e sem emoções. – Estou mais impressionado ainda, contudo não estão de posse da espada, presumo eu.

– Não, mas Udur garantiu que a traria para nós. – disse Gavril. – Ele é leal aos deuses, não mentiria quanto a isso. Você mesmo disse que ele é tido em alta conta pelos deuses.

– Os registros eternos confirmam o que você diz, espadachim. – disse o homem-ave. – Sei o que irão perguntar, então adiantarei. Os registros eternos são informações sobre cada um dos seres que caminham sobre Thystium. Apenas os escolhidos pelas Estrelas têm permissão para acessá-lo. Uma mente simplória simplesmente colapsaria ante a quantidade infindável de informações que o oceano subconsciente é capaz de oferecer.

– Você pode encontrá-lo, então? – perguntou Flayfh.

– O anão Udur está de fato vindo para cá. – respondeu a ave metálica. – Mas o feiticeiro ao qual vocês procuram, somente você pode encontrar. Foi o que as Estrelas me disseram. É assim que irão penitenciar você, com um mergulho no oceano de ideias inacabadas.

A clériga manteve-se compenetrada, sem demonstrar nenhum abalo ante à informação que havia recebido, enquanto Gavril dirigia-se a entrada do templo para deixar os dois servos dos deuses à sós. O guerreiro sentia sua mancha negra queimar seu corpo, a dor não era das maiores, porém incomodava o bastante.

– Você faz parte desta missão, guerreiro. – disse Galiomordianstro. – Você irá defender o templo contra os invasores, enquanto eu auxilio a clériga para que ela se mantenha viva no mundo subconsciente.

– Proteger contra o quê? – perguntou o guerreiro.

– Contra quem. – respondeu a ave. – As criaturas que seguem a vocês dois estão se reunindo e já os encontraram, seguiram as manchas negras em seus corpos, farejando como cães farejam o medo. Chegarão aqui ao amanhecer em grande quantidade.

– Os malditos devem pensar que temos a espada, não é? – perguntou Gavril dirigindo o olhar para Flayfh. – Só pode ser isso. Que assim seja então. Cuidarei do templo.

O espadachim apertou o cabo de sua espada e fechou os olhos imaginando cenários de batalha em sua mente. A mancha negra pulsava em sua pele e, ao passo que mantinha a concentração, Gavril sentia a ferida se espalhando em sua alma.

Os dois servos do Povo das Estrelas rumaram para as partes mais internas da construção através de um longo túnel rochoso e parcamente iluminado por tochas espaçadas nas paredes. Comentaram sobre uma conexão maior com os céus e a voz de ambos desapareceu conforme deixaram a entrada do local, bem como a proteção da mesma, a cargo do espadachim de olhos dourados. Flayfh arriscava alguns olhares para trás, em direção à Gavril, sequiosa por saber o que se passava na cabeça do guerreiro. Preocupada com o que viria pela frente.

**

A noite foi longa e arrastou-se o quanto pode. Gavril manteve-se desperto, sentado à porta do templo, observando o horizonte, sentindo a temperatura local cair, imaginando deuses vivendo na escuridão dos céus, iluminando tudo com seus olhos cheios de magia. Era um mundo louco de se viver.

Os primeiros raios de sol despertaram o guerreiro de seu breve cochilo. Uma horda de dezenas de criaturas dirigia-se ao templo em grande velocidade. Os Nyax pareciam maiores, mesmo à grande distância. Um frio subiu à espinha e o espadachim concentrou-se na tarefa, buscando em sua mente a voz de sua lâmina. Estava grato por finalmente poder enfrentar aquelas criaturas sem nenhuma preocupação que não fosse eliminar cada um deles. Com sorte, o próprio Feiticeiro Azulado estaria entre os invasores, poderiam vencer a maldição ali mesmo.

Espada e Dever  - Um livro no Mundo de ThystiumWhere stories live. Discover now