Quando tudo é como antes

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Clarie

Eu estava balançando as pernas num quarto de hospital gélido. Ao meu lado,estava Miguel dormindo como um anjo e recebendo soro na veia. Ele sofreu muitos traumas,tanto físicos e certamente psicológicos e estou disposta a dar toda atenção a ele por isso. Se for necessário acompanhamento com psicólogos,irei colocá-lo em um. Sofia está com a cabeça deitada no meu colo e eu acaricio seu cabelo longo e loiro. Ela insistiu vir até aqui junta com Tia Ane,que está aqui inquieta,resevando  seu tempo entre uma poltrona e ficar andando pelo quarto.Minha mãe está ainda em casa com Enzo. E estamos aqui faz mais de duas horas aguardando a cirurgia do Artur terminar.

Obviamente que eu estava aérea demais para pensar em outra coisa. Vivi minha vida inteira sabendo que eu era filha única e depois de mais de vinte anos, eu tenho dois irmãos. Irmãos entre aspas, porque para àqueles eu não devo atribuir o título de irmão. Fiz alguns exames quando cheguei aqui também e minha pressão estava acima do normal e meus batimentos cardíacos ultrapassavam limites. Mas o que posso fazer? Meu marido está entre a vida e a morte no sala de cirugia e meu filho está traumatizado.
Ainda mais saber que meu pai traiu minha mãe. A versão dela por ele ter a colocado num manicômio foi diferente. Mas isso não me importava mais agora. Eles não mudariam mais nada na minha vida,porque ficariam presos por um longo tempo. E finalmente sinto que vou ter paz novamente na minha vida.

Alguém bate na porta e logo depois um médico entra. Fico em alerta e tento decifrar o que sua face quer dizer.

-A cirurgia ocorreu bem-ele diz- Seu marido está estável e creio que terá uma ótima recuperação.

Aquilo foi como água quente nos meus músculos.Senti tudo relaxando dentro de mim. E é uma sensação que faz tempo que eu queria sentir.

Levanto e abraço o médico e o agradeço de todo coração por ter me dado uma sensação boa. A mãe do Artur faz o mesmo. Ele explicou que ainda não pode receber visitas,mas que mais tarde, quando ele acordasse, poderíamos ir vê-lo.

Agradeço novamente e ele se retira da sala. Deito na cama de acompanhante com Sofia ao meu lado e em questão de segundos já estava dormindo. Pela primeira vez, eu estava me sentindo relaxada de verdade e dormi como se não houvesse amanhã.

*
Acordo com a luz na minha cara e aperto os olhos até enxergar e raciocionar onde eu estava

-Bom dia,bela adormecida!-a voz é da minha sogra-Dormiu doze horas seguidas.

Eu olho para o lado e o Miguel estava concentrado em alguma coisa no seu tablet.

-Bom dia-minha voz sai rouca e baixa- Como estão as coisas?

Pra quem tem o costume de dormir pelo menos seis horas por dia (e depois do Enzo isso diminuiu para duas) e dormiu esse tempo todo, precisa se atualizar de tudo que aconteceu. Convenhamos que me senti maravilhosa depois de dormir todo esse tempo,mesmo numa cama desconfortável de hospital.

-Artur está muito bem. Já visitei ele ontem de noite e ele já perguntou por vocês. Miguel,como você pode ver, está muito bem e já vai sair hoje. Sofia está em casa e eu pedi para que ela dar um descanso a ela. Acredita que ela já estava com consciência pesada por não ter estudado esses dias?-eu solto uma risada.Da Sofia,eu não espero mais nada-E o Enzo está ótimo,mas ele já está sentindo muita falta do papai e da mamãe.

Realmente deve estar. Ele é um bebê de semanas e eu deveria estar dando o aconchego materno a ele.Tadinho.

-Será que posso ver o Artur?-pergunto

-Se ele não estiver dormindo,eu acho que sim. É melhor você falar com alguma enfermeira.

Eu me levanto e caminho até a cama do Miguel,depositando um beijo e o abraçando com cuidado para não machucá-lo ainda mais. Saio do quarto e falo com a primeira enfermeira que vejo. Ela me direciona até uma recepção,onde eu dou meus dados e tenho acesso de ir até o quarto do Artur como visitante. Como Miguel estava na ala da pediatria,tive que pegar o elevador e subir um andar. Vou até o quarto que me falaram e dou duas batidas na porta antes de abrir.

Lá estava ele. Mais pálido do que o normal,mas aparentemente estava bem. Me senti muito mais aliviada quando eu vi,com meus olhos,que ele realmente estava bem. Quando nota minha presença,ele sorri

-Desculpa,moça,não tente me seduzir. Já sou casado com a mulher mais linda desse mundo.

Como não amar um marido assim?

Fui até ele e o beijei do jeito mais carinhoso e caloroso possível. Que falta eu estava sentindo disso. Que falta eu estava sentindo do meu marido de volta. Nossas bocas se encaixavam e nossas línguas pareciam estar numa mesma melodia. Parecia que estávamos nos beijando pela primeira,igual a dois adolescentes.

-Você está bem?-pergunto,após recuperar meu fôlego.

-Estou tão bem que já posso te beijar novamente e ultrapassar para a outra fase- ele fala,o que já podemos concluir que ele está ótimo.

-Você não sente muita dor?-sento na ponta da sua cama.

-Não muita-ele levanta a camisola de hospital,mostrando um curativo enorme cobrindo boa parte do seu abdômen- Perdi muito sangue. Na hora,eu sentia muitas dores,mas nada melhor do que morfina para passar. Mas eu estou muito bem,de verdade.

Ele fez um gesto com a mão para que eu me aproximasse dele. Hesitei um pouco,mas fui com cuidado para não machucar. Deitei ao seu lado,mas tentei ficar o mais longe possível do ferimento.

-Você achava mesmo que iria se livrar de mim assim tão fácil?-beijo o cantinho da sua boca.

-Pensei,mas graças a Deus não me livrei e pretendo demorar muito- ele fala- Como está o Miguel?

-Está bem também-eu digo- Estou apenas preocupada do que vai vim depois. Tenho certeza que ele vai precisar de muita mais da gente e quem sabe até psicólogo.

-Vamos fazer o que for necessário. Ele não precisa se lembrar de coisas como essas.

Passamos algum tempo em silêncio,apenas apreciando o momento e a parede branca do quarto.

-Quando você vai poder sair daqui?Miguel já vai embora hoje.

-Eu estou me recuperando muito bem,segundo o médico. Talvez em alguns dias eu volte para casa-ele respira forte e vejo que fez uma careta de dor. Eu me afasto mais dele por precaução- Não,não. Venha mais pra cá.Estava sentindo falta de ficar somente nós dois sozinhos assim.

-Você tem certeza que está bem?-eu pergunto

-Claro que sim. Por que não estaria?Tá,eu levei um tiro,mas isso já foi resolvido. E eu descobri que tinha dois cunhados ontem. Mas isso não importa. Miguel está bem,Sofia e Enzo estão muito bem protegidos e nós dois vamos nos casar novamente em alguns dias.

Me apoio no seu travesseiro

-Ouvir isso é relaxante, você não tem noção o quanto...Peraí,o quê?-eu levanto a cabeça com meus olhos arregalados.

-Miguel está bem,Sofia e Enzo...

-Não,isso eu ouvi. Repete a última frase, só pra ter certeza que o infarto que estou tendo agora tem um motivo.

-E nós dois vamos nos casar em alguns dias.

-É o quê?-franzo a testa- Como assim
eu vou me casar de novo e nem sabia?

-Clarie,meu bem,você acha mesmo que todo aquele tempo que eu ficava até tarde era somente trabalhando?Não mesmo. Estava vendo salão de festa,igreja, decoração, cerimonialistas e tudo. Quando eu pedi para renovarmos nossos votos,eu não estava fazendo isso por nada. Eu realmente queria sentir o nervosismo de te esperar no altar novamente. E agora vai ser muito melhor,porque vai ter tudo que você merece e vamos estar com toda nossa família reunida.

Ele puxa alguma coisa debaixo do travesseiro. Uma caixinha de veludo azul. Quando aberta,mostra duas alianças maravilhosas.

-Nossas novas alianças-ele diz- Para uma nova vida.

E de novo nos beijamos de forma mais calorosa possível como se fosse antigamente.

O idiota do meu primo 2[Concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora