Capuz Escarlate -Legado do lobo

Capítulo 21

Tédio.

Era isso que Victor sentia, um extremo e irritante tédio.

Deitado no sofá, observava o padrão do teto, haviam pitando uma cena bucólica justamente ali em cima, talvez com o intuito de entreter alguém que estivesse com tédio, não é mesmo? Afinal, por que alguém pintaria uma obra de arte no teto? Pois bem, a cena era de uma caçada, havia cães, vários deles, um pequeno grupo de caçadores (obvio!) e uma raposa logo no limiar do ampla pintura, fugindo. Ficar encarando aquilo estava lhe dando um tremendo de um sono, pintar uma caçada era diferente de participar de uma! Afinal, ali estavam todos os personagens parados no tempo, não havia ação! Pior ainda era a cara de espanto dos caçadores que se postavam bem atrás dos seus cachorros que apresentavam, por sua vez, as bocarras abertas, exibindo os dentes, longa língua e baba...Muita baba. Como aquilo era incrivelmente chato! Os Grimms sempre tentaram lhe ensinar sobre o prazer da apreciação da arte, o arrastavam para museus, operas e teatros... Algo que Victor simplesmente odiava, pelo menos a parte dos museus, as vezes as Operas e teatros podiam ser interessantes quando a peça é sobre algum evento histórico do passado ou melhor... Sobre histórias de terror e macabras! Nada de romance! Sentia vontade de vomitar com aquelas historinhas melosas!

— O chá estava ótimo...Você devia ter tomado algo. — Klaus o fez despertar de suas divagações sobre a arte para recordar outra coisa que não gostava: Chá.

— Dane-se essa água fervida idiota! — Resmungou cruzando os braços diante do peito — Bem que podia ter outra coisa para comer aqui além dessa coisa!

— Tem os biscoitos. — Indicou o Lobo para alguns que sobraram sobre a bandeja de prata.

— São biscoitos que se comem com chá... Logo, não quero!

Gallego soltou um suspiro, daquele tipo que Victor identificou como "Que os deuses me deem paciência para lidar com esse caçador infantil".

— Vou morrer de tédio aqui. — Continuou a reclamar ignorando o fastio do Lobo.

— Você sabe que a senhora Úrsula saui a apenas 15 minutos...Não acho que seja tempo o suficiente para morrer e muito menos de tédio.

— A morte não tem limite de tempo! — Argumentou o caçador — E você não sabe o quão mortal pode ser o tédio!

— Alguém já te disse o quanto es dramático? — Vicky lançou uma mirada aborrecida para Gallego e o encontrou sorrindo, não era um sorriso arrogante, muito menos provocador, era apenas um tipo de sorriso que fez o coração do loirinho dar uma leve acelerada nos batimentos cardíacos — Não que eu esteja reclamando... Pelo contrário, acho adorável.

"Um caçador não deve ser dramático e tão pouco adorável!" Censurou Victor em sua mente, sem dúvida não eram características a serem estimuladas. Tentando retomar a decoro, pigarreou e acalmou o seu coração, para assim pensar em uma forma de mudar de assunto...

—Já sei que devíamos fazer: explorar a casa! — Disse finalmente.

— Tem certeza disso? E se a velha senhora chegar?

— E o que tem isso?

— Ela pode ficar brava por estarmos bisbilhotando.

—Inventamos alguma desculpa, ora! Podemos dizer que estávamos buscando o banheiro, sei lá! — Vicky fez um sinal com a mão como que espantando os problemas futuros — Ela seria muito ingênua em pensar que iriamos ficar aqui sentadinhos e comportados!

— Pessoas educadas não fariam isso. — Enfatizou Klaus com um novo sorriso, desta vez era do tipo provocador.

— Pois é, algo que não sou, não é? — O caçador se levantou do sofá e mirou em volta buscando um caminho a seguir, explorar um local desconhecido ainda mais por ser algo que não devia fazer, dando todo aquele clima gostoso de proibição... Despertava uma animação em seu íntimo. Gallego também se levantou de sua poltrona confortável, parecia, entretanto, que não compartilhava da euforia de seu parceiro.