Capítulo 9

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— Não precisa ficar tão embaraçado assim...— Disse Klaus enquanto caminhava pelas as ruas estreitas do povoado, tendo em sua frente um bastante irritado Victor. Este parou subitamente, por pouco o lobo não colidiu de encontro a ele.

— Quem está embaraçado? Eu não estou! Na verdade, estou perfeitamente normal! –O humano dizia isso mesmo com o rosto tão vermelho quanto a jaqueta escarlate que usava. E o motivo de todo aquele alarde? O fato de ter dormido abraçado com o lobo. Victor nunca tinha compartilhado a sua cama com alguém. Como iria imaginar que agira daquela forma? Abraçar uma fonte de calor, entrelaçar suas pernas e... Tentou não pensar nisso, já fora vergonhoso o suficiente acordar de manhã daquela maneira. Tinha até babado sobre o peitoral musculoso do lobo. E o pior? Era que Klaus estava ali, o observando com seus grandes olhos dourados, parecendo adorar o evento. Até tinha dado um cafuné nos cabelos loiros encaracolados do humano. Que ousadia!

— Não tem nada de errado em você me abraçar...

— Quieto! –Disse isso com o dedo indicador sobre os próprios lábios –Não falamos mais sobre isso!

Klaus rolou os olhos, mas parecia que não iria questiona-lo mais sobre o assunto. Para o alivio de Victor.

"E quando chegasse a hora de dormir?" Tentou não pensar naquela pergunta que surgia em sua mente. Tinha que se preocupar com outra coisa: a missão.

A dupla estava se dirigindo a prefeitura. Casas erguidas em pedras rusticas. Flores silvestres cresciam sob as paredes e surgiam dos telhados. As ruas eram recobertas de paralelepípedos irregulares o que não era ideal para carro sem tração nas quatro rodas. Talvez isso explicasse a ausência de carros e o excesso de carroças. Um modo de vida discrepante do ambiente urbano da capital do reino, cheia de seus carros, bondes e milhares de pessoas andando para um lado e outro. Aquele era o povoado de Alsfeld uma representação ideal de como seria a vida dos Arcanianos há algumas décadas atrás.

O ar puro do campo, o andar lento de seus habitantes, a falta da necessidade de olhar para os dois lados antes de atravessar a rua... Aquilo tudo não trazia um efeito perturbador para Vcitor, ao contrário, se sentia relaxado. Contudo a presença dos caçadores estava causando uma alteração no cotidiano mudado do povoado. Conforme se aproximavam da prefeitura – localizada no centro do povoado, onde existia uma grande praça circular e uma pequena feira, segundo o guia turístico dado (ou melhor vendido) pelo o dono da pousada, o duende mão-de-vaca com nome esquisito – as pessoas os lançavam olhares misto de curiosidade e assombro.

— Será que é a jaqueta? — O lobo fez a pergunta enquanto tentava ajustar a dita jaqueta escarlate em seu corpo, como se a roupa de couro não se moldasse maravilhosamente bem em seus braços roliços e firmes. Não que Victor tivesse notando essas coisas!

— Você está ótimo! Não tem nada errado com a jaqueta! –Respondeu prontamente.

— O grande caçador me acha ótimo? –Klaus arqueou uma sobrancelha e mirou de relance o humano que no momento estava tossindo de forma forçada.

— O ar daqui é meio puro demais, não achas? — Pigarreou, querendo mudar de assunto, obviamente. O lobo deu uma sonora risada o que só fez que Victor ficar ainda mais mal-humorado.

Andaram mais alguns metros em direção ao centro. O número de pessoas aumentava, bem como as carroças. Tendas também começaram a ser vista. O tagarelar de uma feira se deu início. Ali devia ser o coração do povoado. O que chamou atenção de Victor foi a estrutura que se erguia logo no meio de tudo aquilo, tornando sombrio o ambiente até agora relaxante. Entre as tendas. Na praça. Um grande monumento de bronze.

Capuz Escarlate -Legado do loboWhere stories live. Discover now