Capítulo 13

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Terra úmida, folhas com mesclas de coloração do laranja, amarelo e castanho, caiam das copas ínfimas das árvores, dançavam e rodopiavam em pleno ar, era a valsa do outono. Victor inspirou profundamente, deixando que o ar puro e selvagem das fronteiras do mundo conhecido preenchesse seus pulmões. Aquele era o habitat ideal de um caçador, pelo menos, no passado os membros da ordem focavam suas investigações nas pradarias, bosques e colinas obscuras de Arcadia, buscando por monstros ferozes (tanto humanos e não-humanos) que ameaçavam a população e principalmente a recente paz alcançada. Hoje em dia, com a urbanização, cada vez mais os caçadores se viam transplantados para a selva urbana, caçando suas presas em meio a ruas movimentadas, becos malcheirosos e favelas.

— Até que parece um bosque comum e pacifico. — Comentou, se virou para fitar seu parceiro, este tinha se tornando estranhamente silencioso ao longo do trajeto do pub até os limites da cidade. Klaus detinha um lenço sobre a boca e lançava olhares críticos e assustados para todo o lado. Cada passo que dava era feito com relutância e asco. Victor quase não pode segurar o riso com aquela demonstração de frescura por parte do lobo.

— Pelos deuses! Isso é só mato, não vai te atacar!

— Não vai? Sabia que existem aranhas caranguejeiras que vivem por debaixo da folhagem, apesar das picadas em humanos (e também de não-humanos) são serem de importância médica. O que se conhece delas é que podem provocar irritação na pele e mucosas devido aos "pelos" urticantes, que algumas espécies liberam como forma de defesa. Além desse, existem milhares de animais venosos e perigosos, desde cobras que mimetizam tão bem no ambiente que caso você pegar em um cipó perceberá que na verdade é o dito réptil! Insetos diversos, como vespas, abelhas, alguns mosquitos que propagam doenças fatais como a febre do porco doido, ou mesmo a famosa diarreia cachoeira são endêmicos a habitats selvagens! E nem te falo das quantidades de plantas e cogumelos tóxicos que existem! Por isso, não me diga que é só mato! Não me diga que não pode me atacar!

Victor não pode mais se segurar, caiu no chão e teve um ataque de risos, o desespero evidente na fala do lobo era cômico demais.

— Eu não vejo como esses fatos que citei sejam motivo para riso!

O caçador limpou as lágrimas dos cantos dos olhos.

— Posso até considerar que a floresta não é o símbolo de segurança, mas você está exagerando! A cidade também não é um exemplo de perfeição! Temos poluição, violência, pragas...

— Também temos hospitais e farmácias próximas caso alguma eventual emergência ocorra. — Respondeu contrariado Gallego, Victor estava , em parte, surpreso com aquela nova faceta descoberta do tão controlado e inteligente lobo, na verdade, estava feliz de encontrar um "defeito" em Klaus. Um defeito que inusitadamente achou fofo.

— Confie mais em seus instintos. Pensei que lobos fossem criaturas ligadas a natureza, afinal, muitos vivem em comunidades meio que Hippies, não é mesmo?

— Eu não sou como outros lobos, nunca vivi em uma alcateia. — Rezingou Klaus.

Aquela informação foi recebida com assombro por Victor, ao ponto do mesmo parar de rir loucamente e passar a fitar o lobo com interesse e curiosidade.

— Você está falando sério?

— Não fui criado por lobos. — Disse, sucinto e enfático.

— Oh... — Havia muitas perguntas que Jägered queria fazer. Como foi a infância de Klaus? O mesmo tinha dito, a alguns dias atrás, que compartilhava semelhanças com o próprio Victor, que os via como iguais. O que ele realmente quis dizer com isso? Que também era órfão? Que fora criado por estranhos que ocultavam, em grande parte, seu passado? Que tinha feridas emocionais que, apesar dos anos que se passaram, não se cicatrizaram? Havia tantas coisas que gostaria de saber, mas sua boca não moveu, o único som que emitiu foi aquele sonoro "Oh".

Capuz Escarlate -Legado do loboWhere stories live. Discover now