Penúltimo Capítulo

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Neste momento só penso em desancar o meu pai à porrada.
Isto tudo é culpa minha e culpa dele.

Entro no carro e não dirijo em direção ao hospital. Dirijo sim até à casa dos meus pais.

Deixo o carro todo mal estacionado e entro pela casa a dentro.

A minha mãe está com cara de assutada e o meu pai com cara de caso.

- Temos que falar seu merda.
- Com quem é que você pensa que está a falar Vitória?
- Consigo seu otário.
- Mas que linguagem é essa?
- É a linguagem de uma filha que finalmente soube de toda a verdade!
- Qual verdade? Podemos ir conversar num local mais reservado filha.
- Não! Conversamos aqui porque a mãe precisa de saber a merda de marido que ela tem.
- Cala a boca Vitória. Vamos falar para o meu escritório.
- Não! Mãe - falei diringo-me para a minha mãe - a senhora sabe que o pai a traí-a mesmo antes do vosso casamento? E sabia que ele amava outra mulher e só casou consigo porque você estava grávida de mim? E sabia que ele tem um filho dessa mulher? E sabia que ele deixou essa mulher morrer de cancro? E sabia que ele deixou o próprio filho passar fome? Sabia disso mãe?
- Do que é que ela está a falar Marcus? - falou a minha mãe para o meu pai com as lágrimas já a formarem-se.
- Sílvia ouve...
- A única coisa que eu quero ouvir é se o que a nossa filha disse é verdade ou não.
- Infelizmente é, mas eu posso explicar querida.
- Não quero explicações nenhumas, quero que saias da minha casa já.
- Vitória porque é que fizeste isto?
- Isso pergunto eu pai. Por tua culpa tenho um cão morto e a mulher da minha vida no hospital.
- Por minha culpa? Eu não tenho nada a haver com isso. Se não fosses lésbica isto secalhar não acontecia.

Fiquei furiosa e dei um estalo no meu próprio pai por ele ser um reles homofóbico.

- Prefiro ser lésbica do que trair uma mulher durante 25 anos. O teu filho matou-me o cão, matou uma mulher, traficou crianças, quase que matou o amor da minha vida e quase me matou a mim. Porque tu nunca quiseste saber dele e não ajudas-te "a mulher da tua vida" e a deixas-te morrer. Diz-me, foste ao funeral dessa mulher?
- Eu fui mas..
- Mas nada. Se amavas aquela mulher tinhas o direito de a ajudar e de estar com ela. Não tinhas o direito de enganar a mãe e de casar com ela por obrigação.
- Marcus...
- Desculpa Sílvia. Eu esqueci aquela mulher. Desde que casámos eu nunca mais a vi nem nunca mais falei com ela. Desculpa Sílvia.
- Não Marcus. Eu quero que te vás embora. Eu quero o divórcio. É incrível como nós estamos com uma pessoa durante tantos anos e não as conhecemos de verdade. Só quando tudo acaba é que ficamos a conhecer realmente a pessoa que nós pensávamos que conhecíamos melhor que ninguém... Mas eu não te consigo reconhecer Marcus. Enganaste-me durante 25 anos e fizeste-me perder bastante tempo da minha vida com mentiras. Não dá mais.
- Por favor Sílvia não faças isso. Perdoa-me querida.
- Sai daqui Marcus.
- Desculpa por favor.
- Acabou MERDA põe-te no caralho.
- Ok Sílvia se é assim que queres adeus.

Ele sai e bate com a porta com bastante força. Como se a quisesse partir de raiva.

- Como você está mamãe?
- Estou mal e bem ao mesmo tempo. Agora sei de toda a verdade.
- Desculpe por algo mãe.
- Tudo bem filha. Saiba que eu te amo. Apesar da sua sexualidade eu amo você. Você é minha filha e nasceu assim. Você não tem culpa de ser lésbica. Eu te aceito desse jeito filha. E te amo incondicionalmente.
- Você é a melhor mãe do mundo - disse em meio às lágrimas - e eu te amo muito mãe.
- Eu também filha. Agora vai ver a mulher da tua vida.
- Espere um pouco mãe. Independentemente do que eu possa fazer, você perdoa-me?
- Perdoo filha.
- Obrigado mãe. Beijo. Te amo muito...

Saio de casa e começo a dirijir até ao hospital, mas entretanto o meu telemóvel toca. Deve ser o meu pai com uma treta qualquer. A julgar-me por ter contado a verdade ou a dizer que fui uma má filha com ele...

A Paixão de um Sorriso (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now