Capítulo 2

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Foi como estar de volta àquele sonho estranho e me ver em miniatura. O vestido branco com três rosinhas bordadas em prata, na parte superior esquerda, a sapatilha branca combinando. Eu fiquei esperando que aparecesse o Poliguador ou algum dos garotos, quem sabe? Depois que Arthur abraçou a garotinha, Shannon a acomodou à mesa e todos sentamos também. O café parecia ter sido feito especialmente para mim. Tinha pãezinhos, ovos, bacon, morangos, suco de laranja, de pêssego, cereal, leite e muito queijo. Meu pai estava radiante de felicidade e eu me perguntei que pai não ficaria. Mesmo que no começo ele quisesse adotar um menino por já ter criado uma filha, Shannon o convenceu como sempre. Sentei-me ao lado dela, eu era a única pessoa que ela não conhecia ainda. Fiquei pensando por alguns instantes, até que as palavras óbvias me vieram.

− Olá Amanda.

− Olá - ela disse alegremente. - Você é Melissa? A minha irmã?

- Sim.

Ela deu um sorriso tímido, pegou o garfo com a mão esquerda e começou a comer o bacon de seu prato. Parecia uma criança cheia de alegria, assim como eu havia sido. Desejei mentalmente que o meu pai cuidasse bem dela.

Ele se dirigiu a mim.

− Filha, está se sentindo animada com a ideia de uma nova escola?

Animada não seria a palavra correta. Era uma palavra muito forte para o momento.

− Eu espero que seja melhor que a anterior. − disse sem muita expectativa.

− Eu não tenho dúvidas de que ela se sairá bem. − disse Arthur, enquanto pegava um pedaço de pão.

Minha madrasta começou a tagarelar sobre roupas, sapatos e maquiagens básicas que eu poderia usar no meu tempo livre no internato, como se fosse a minha melhor amiga, ou como se eu gostasse mesmo de moda. Eu me contentava com jeans, tênis e uma camiseta básica. E no inverno, botas, e um casaco de couro, isso resumia o meu guarda roupa.

− Eu gosto de vestidos − disse a garotinha quando Shannon passou a falar deles. − Eu adorei este que você fez para mim.

Pela primeira vez eu tive que me dirigir a ela.

− Você fez este vestido?

− Sim. − ela confirmou com entusiasmo. Depois se dirigiu a Amanda − Quando eu era pequena minha mãe costurava roupas para mim e meu irmão. Eu adorava e por isso achei que você também fosse gostar.

Amanda me olhou animada com um sorriso, e eu sorri de volta.

− Então você vai ficar aqui? − perguntou a pequena, parecendo envergonhada.

− Aqui... − balbuciei sem entender.

− Sim, aqui. Você podia morar aqui, tem um quarto sobrando. − não pude deixar de ficar emocionada. − Eles podem ser os nossos pais.

E então por um momento eu esqueci que estava falando com uma criança. Shannon minha mãe?

− Ela não pode ser minha mãe. − eu disse um pouco ríspida.

Não sei por que, mas o olhar de Shannon pareceu brilhar de tristeza. Talvez fosse encenação. Só podia ser. Meu pai estava com uma expressão vazia, de quem já havia desistido e meu padrinho demonstrava reprovação.

− Mas você disse que é minha irmã agora. E irmãs devem ficar juntas.

Eu achei que se não dissesse nada ela ia começar a chorar. Seus olhinhos brilhavam de emoção.

− Tudo bem Amanda, mas é que Shannon é só a sua mãe e...

Shannon se levantou abruptamente, jogou o lenço que estava amassando há tempos na mesa e saiu correndo em direção ao seu quarto. Isso surpreendeu inclusive a mim. Em seguida meu pai a acompanhou, correndo e chamando o seu nome. Eu me senti horrível, mas eu não podia permitir sequer a ideia de que ela pudesse ocupar o lugar da minha mãe. Era incrível como ela fingia sofrer, não era? Eu olhei para as minhas mãos juntas em meu colo pensando como isso tudo era injusto, eu queria ir embora, subir na árvore mais distante e chorar. Eu era a vilã agora, que ótimo. A minha linda madrasta preparou um lindo café da manhã para mim e eu estraguei tudo... eu podia jurar pela expressão do meu padrinho que era exatamente isso que ele estava pensando. Mas voltei minha atenção para Amanda, não seria nada bom discutir com Arthur porque eu já estava em pedaços mesmo.

− Como eu ia dizendo, bem, a Shannon não é a minha mãe, mas o Damian é o meu pai então por isso você será minha irmã.

Não gostei da minha explicação, mas eu não sabia o que dizer.

− Tudo bem. − disse ela. Seus olhos pousaram sobre um pãozinho próximo, ela o pegou e mordeu. Eu sempre quis ter uma irmã, em circunstâncias diferentes, é claro, mas eu já gostava dela.


AuroraWhere stories live. Discover now