- Sonho e Realidade -

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     Depois de agradecer a Deus em pensamento, adormeço e sonho estar no paraíso ou céu, não sei ao certo porque na realidade não conheço nada em relação ao Criador. Nunca havia visto um lugar tão calmo e lindo quanto o que estava adiante. Haviam flores por todos os lados, a brisa suave exalava um perfume doce, os pássaros cantavam em perfeita melodia e voavam sobre o céu alaranjado. Ao longe podia ver e ouvir uma cachoeira, do topo resplandecia muita luz e eu caminhava para lá. Ouço uma voz me chamar, então subitamente acordo como se estivesse sendo expulsa daquela terra maravilhosa.

- Luciana? - Repete o Dr. Villar - você está bem?

- Sim - respondo ainda fraca.

- Certo, eu vou fazer alguns exames - declara o médico - pode abrir a boca por favor?

      Abro a boca em resposta ao pedido, ele inseri um palito e recolhe saliva depois disso segura a lanterninha e checa minhas pupilas, pergunta quantos dedos vejo e se estou sentindo alguma dor. Digo que não, então ele pega uma agulha e retira um pouco do meu sangue.

- Certo - diz o Dr Villar - Seus pais estão vindo, eles foram abrir um boletim de ocorrência. Você terá que contar para a polícia o que aconteceu ontem, se importa?

- Não, mas Quanto tempo fiquei desacordada? - indaguei, estava desnorteada sem saber informações tão simples quanto dia e hora.

- Você esteve desacordada por 18 horas. Hoje é sábado e são quinze horas e vinte minutos - afirmou o médico olhando o relógio.

- Pensei que ia morrer - suspirei cabisbaixa.

- Todos pensamos. Você chegou aqui sem pulso, perdeu muito sangue. Por isso terá que repousar um pouco mais.

     Fico em silêncio com a notícia, o Dr. Villar permanece no quarto anotando algumas coisas em sua prancheta. Não consigo evitar de recordar a última vez em que estive numa UTI de hospital, o que faz pouco mais de dez anos.


💠 💠 💠

Tudo começou com uma discussão. Passávamos por momentos difíceis na família. Meu pai havia sido demitido e minha mãe estava grávida de poucos meses do meu  irmão. Um irmão que nunca chegou a nascer. Estávamos com ordem de despejo da casa de aluguel da qual morávamos e a luz havia acabado de ser cortada, o que gerou o estopim. Infelizmente meus pais não souberam lidar com aquela situação e começaram a brigar um com o outro. Eu tinha apenas nove anos e assistia a cena por detrás da porta do meu quarto. Minha mãe culpava meu pai pelo vício dele em jogos de azar e ele a chamava de fraca e que nunca se casaria com ela se não fosse por minha causa. Sim, sou fruto de uma gravidez indesejada, até então ambos apenas namoravam. Quando o resultado do teste saiu, decidiram se casar e morar juntos. A agressão física se iniciou após meu pai ofender minha mãe com um palavrão, ela revidou com um tapa na cara dele que furioso partiu para cima dela. Imediatamente tentei separar, mas foi em vão. O que uma garotinha podia fazer contra um homem grande e forte? Eu gritava e chorava, porém isso não o comovia, foi então que cometi um dos piores erros da minha vida. No anseio de ajudar minha mãe, peguei uma vassoura e comecei a bater nele, porém ele a tomou de mim e usou para agredir minha mãe que, horas mais tarde, foi internada no hospital em processo de parto aonde ela viria perder o bebê e ficar em grave estado de saúde.

- Se alguém perguntar, diga que ela caiu da escada - foi o que ele pediu para eu dizer.

Éramos muito pobres naquela época e a polícia sequer averiguou a situação. Como minha mãe não tinha condições de falar, então creram na história que meu pai havia contado. Permaneci o tempo todo ao lado dela, chorava muito e me culpava. " Se eu não tivesse pego aquela vassoura, se ao invés disso tivesse saído e pedido ajuda " era o que pensava. Antes de morrer, minha mãe me chamou para perto de si, acariciou meus cabelos e rosto deixando escapar um doloroso e curto sorriso.  Finalizou a vida dizendo um simples, porém inesquecível "Eu te Amo”.

Ponto De VistaWhere stories live. Discover now