Kathellen e eu voltamos para a redação do 100%Notícia e chegamos por volta das 17 horas. Os 20 segundos até o elevador atingir o quinto andar pareceu durar uma eternidade. Ainda achava incrível a capacidade de Kathellen falar tanto em pouco tempo. Mal a porta se abriu e a moça disparou pelo corredor para adiantar as matérias do dia. Suspirei exausto, havia muitas coisas a serem feitas. Quando cheguei até a porta, meu amigo surgiu.- Vamos. - disse Bruno indo em direção ao elevador.
- Aonde? - questionei confuso.
- Conversar, só vamos sair de madrugada - respondeu meu amigo - então vou falar com você agora.
- Mas eu acabei de chegar - retruquei.
- Vamos lá, está na hora do café.
Confesso que relutei em segui-lo, pois estava com medo de novas repreensões, no entanto Bruno nunca pedia ou fazia algo que pudesse prejudicar alguém. No elevador ele permaneceu quieto e eu procurava ver na expressão dele o assunto a ser dito. Sem sucesso.
Bruno é mais alto que eu tendo 1,84 de altura. Tem ombros largos e a musculatura forte, porém pouco definida. As orelhas são pequenas e pontudas, a boca grande e o cavanhaque aparado. O olhar castanho é sempre distante como se estivesse enxergando além, ele não mudou muito desde que nos conhecemos no colegial.
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Foi no início de mais um ano letivo. Eu ingressava na segunda série do Ensino Médio. Como sempre, cheguei dez minutos adiantado na sala de aula. Tirei meu material: cadernos, canetas, uma lapiseira e um livro de ficção. Abri o livro e comecei a ler enquanto ouvia música no fone de ouvido. Pouco antes de o sinal tocar e o professor chegar, Bruno entrou. Na ocasião foi a primeira vez que o vi. Hesitante e sem cumprimentar ninguém, ele seguiu direto para uma das últimas carteiras. Tive a impressão de que não era muito sociável assim como eu, mas depois entendi a razão dele sempre sentar no fundo.
Demorou algumas semanas até conversarmos um com o outro. Na verdade posso dizer que só nos falamos devido a atividade em dupla que concluímos juntos.
- Você não é muito bom em sociologia não é? - interrogou Bruno enquanto escrevíamos um texto sobre senso comum e senso crítico.
- Eu não gosto dessa matéria - foi o que respondi.
Um dos motivos para eu demorar a fazer amigos era minha timidez e sinceridade ao extremo. Isso funcionava como um repelente de pessoas ruins, mas podia acabar espantando as boas também.
- Você não gosta por que é antissocial ou por que não gosta mesmo? - perguntou Bruno. Para mim ele só queria quebrar o silêncio.
- Falou o cara que senta isolado no fundo da sala - retruquei.
- Eu sento no fundo para ter uma visão completa de todo o ambiente - respondeu ele. A conversa gerou uma discussão sem sentido - E de lá vi que você senta no meio para fingir que esta enturmado.
- Errado - afirmei - Eu sento aqui porque gosto do número trinta e três.
Bruno franziu o cenho confuso, afinal que ligação havia entre o meio da sala e o número trinta e três? Simples, eu me sentava exatamente na terceira cadeira da terceira fileira, era apenas mania de fanático em simbologia.
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Ponto De Vista
SpiritualA vida é como um quebra-cabeças cujo as peças escolhemos para montar. Uns a preenchem em demasia com dinheiro, luxúria, adultério, boas doses de orgulho e indiferença. Outras a colorem com a simplicidade, humildade e generosidade. São fiéis e leais...