- Reencontro -

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- Está tudo bem? Posso te ajudar moço? - perguntou Lucy, ela pareceu confusa ao me ver ali.

- Você não se lembra de mim? - questionei.

- Me desculpa, eu não sou muito boa em reconhecer pessoas - Lucy ajeitou uma mecha de cabelo por trás da orelha - Você é algum amigo do meu pai?

Me aproximei dela, estava nervoso e tremia, mas o álcool no sangue me dava coragem para falar com ela.

- Nós estudamos juntos, eu e você eramos da mesma sala - declarei.

- Sério? Nossa - Lucy corou, acho que ela sentia vergonha em falar com pessoas da mesma idade - Espera você é amigo do Bruno não é?

- Sim, sou eu Thiago - fiquei feliz que ela tenha se recordado, mas por que ela se lembrava de Bruno e não de mim? Independente do motivo isso me gerou ciúmes, eu gostava de Lucy a tanto tempo e nunca havia falado com ela até esse instante - Lucy eu...

Fiquei em silêncio por um tempo, tentei tocar na mão dela, mas de imediato ela se afastou e o semblante mudou, será que ela havia percebido que eu estava embriagado? Não. Ela sempre foi reservada e o fato de nem saber quem eu sou a mantinha em alerta para não permitir nenhuma proximidade.

- Eu gosto de você - Falei olhando nos olhos dela.

- Sinto muito, eu nem sei quem você é - Foi o que ela respondeu e soou como uma facada no meu peito - Desculpa eu preciso entrar.

Após dizer isso Lucy abriu o portão e entrou para dentro de casa sem olhar para trás e ali meu mundo desabou. Esperei tanto tempo por aquele momento e tudo ocorreu da pior forma possível. O fio de esperança que restava foi despedaçado. Pode parecer exagero, mas que outra chance eu teria? Sequer moramos na mesma cidade e a única coisa que tinhamos em comum era a escola, mas nem de estudar comigo ela se lembrava e se eu começasse a aparecer todo dia em frente a casa dela ela poderia até chamar a polícia com medo de ser perseguida.

- Eu sou um inútil! - gritei arremessando o capacete contra a parede.

📸📸📸

Frustrado e com raiva de mim mesmo, decidi voltar para casa. 60, 80, 100, 120 e por fim 150km/h. Eu acelerava ainda mais sob o asfalto molhado, passava por entre os carros e fazia curvas difíceis sem diminuir a velocidade. A sensação era a de estar voando, de ter, por um momento o controle de algo sob a minha vida, no entanto aquela rodovia tinha um nome popular e não era por acaso. Estrada da morte. Composta por curvas complicadas, sinalização fraca e iluminação precária, mas não me importei. Não muito depois de alcançar os 200km/h, ao fazer uma curva eu me deparei com um carro vindo na contra mão após fazer uma ultrapassagem indevida. No susto joguei a moto no acostamento, mas perdi o controle e me desequilibrei. Tentei frear, mas na velocidade na qual estava só piorou e não pude evitar de capotar. A harley Davidson deu uns cinco giros no ar quicando pelo asfalto. Fiz o que pude para tentar me segurar, mas em uma das pancadas minhas mãos se soltaram e fui lançado pela estrada.

Eu gemia estirado no chão, mas não conseguia me levantar, devido ao efeito do álcool não ter passado, estava desnorteado sem saber identificar aonde ficava pra cima, ao de para baixo, esquerda? Direita? O medo tomou conta e acelerou meus batimentos cardíacos e os pulmões solicitavam por mais oxigênio, porém o capacete impedia que eu respirasse, tentei tirá-lo, mas não tinha forças. Desisti. Olhei para o céu, ou pelo menos aonde eu achei que ficava o céu. Ao longe uma luz alaranjada, um poste de energia talvez. Fiquei encarando aquela luz e aos poucos percebi que ela enfraquecia. Não, não era a luz. Eu estava perdendo a consciência. Lágrimas escorreram, tudo escureceu...

Ponto De VistaWhere stories live. Discover now