Capítulo 14

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Infelizmente, voltar pra casa ao alvorescer não contava como dormir em casa. Como consequência eu estava de castigo por um mês. Eu só poderia sair para trabalhar na loja ou vender parafina na praia com a mãe, como uma mistura de prisioneiro e escravo.

Eu não conseguia entender tanta injustiça. Eu sempre fui um bom filho, nunca dei problemas. Ainda assim meu pai quase desceu a mão na minha bunda, e a mãe chorou como se eu tivesse cometido um crime.

Certo, eu usei algumas coisas que não eram exatamente legais, mas disfarcei bem ao chegar, eu acho. E eu não estava machucando ninguém. Só queria parecer legal pro Grande Alisson.

Eu rolei sobre a cama, tentando não pensar naquele macho maravilhoso, nem nas sensações incríveis que ele me fez sentir. Meus pais apareciam a cada dez minutos pra brigar comigo e me pressionar a contar onde eu fui, seria constrangedor se eles me vissem duro.

Tentando manter a mente longe de safadezas, eu vasculhei o bolso da bermuda, que eu ainda vestia. Alisson não acreditava em sorte, mas foi quase um milagre meus pais não vasculharem meus bolsos, desconfiados como estavam. Eu peguei o envelopinho e agitei diante dos meus olhos, assistindo o pó branco dançar, de um lado a outro.

Minha cabeça pareceu sofrer um espasmo elétrico. Eu gemi de dor e levantei, decidindo parar de brincar com aquela coisa.

Eu guardei o envelopinho no meio da minha gavetas de meias, arfando e sentindo uma gota de suor descer pelo meu pescoço. Assim que fechei o armário o desconforto diminuiu um pouco, mas eu precisei ir ao banheiro lavar o rosto, assustado com a ansiedade estranha que apertava meu estômago.

Eu mergulhei a cabeça sob a torneira, deixando que a água fria escorresse pelos meu cachos e levasse com ela aquela raiva absurda que eu sentia.

Será que o Alisson brigaria comigo, se eu usasse só um pouquinho? Não foi minha intenção roubar as drogas dele, eu só me preocupei que ele fosse ter um troço.

Droga, pensar no estado dele aumentou minha ansiedade ainda mais. Eu soquei a cuba da pia, enlouquecido pela frustração, e voltei pro quarto antes que meus pais me enchessem de novo.

Eu nunca aguentaria um mês longe do Alisson. Eu precisava fugir.

Em meio aos sons da televisão, ouvi meus pais conversando na sala.

"É um adolescente, Magnólia. Nosso filho está virando um homenzinho, tente relaxar."

"Relaxar como, Morgan? Ele sempre foi um anjo, e de repente some por dias, sem dar notícias. Primeiro larga o ensino médio, e agora isso? Você conhece qualquer amigo dele?"

"Não precisamos ser tão apocalípticos. O menino arrumou alguma namorada, e está envergonhado."

"Sei... tudo bem. Esse seu otimismo ainda vai ser nossa ruína."

Eu suspirei, tentando acalmar as palpitações no peito. Eu não estava fazendo nada errado, eu só... transava bêbado e chapado com um cara mais velho.

Meu Deus, se os meus pais descobrissem eu seria morto ou por eles, ou pelo Grande Alisson, que me fez prometer segredo. Eu precisava tirar meus pais do meu encalço, mas como?

Só então tive um estalo, e me senti estúpido por não ter percebido mais cedo. O patrocínio do Grande Alisson, era isso! Quando meu pai soubesse que consegui parceria com ele, eu não só seria perdoado, como ganharia o troféu de melhor filho do universo.

Ainda assim, seria arriscado eu mesmo contar a eles. Eles poderiam suspeitar sobre como eu consegui convencê-lo tão rápido, então eu agiria como um mestre do crime: faria o próprio Alisson conversar com eles. Se o Alisson pedisse pelo patrocínio, e comentasse ter sido ideia minha, ninguém nunca suspeitaria de nada.

O Preço da Adoração (AMOSTRA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora