Capítulo 02

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Pela primeira vez em muito tempo, minha rotina teve algumas mudanças. Quando o trabalho terminava eu corria à praia e me escondia entre os matagais e coqueiros. A fome grunhia meu estômago, mas eu me alimentava da esperança de vê-lo de novo. O Grande Alisson. O príncipe do surfe e mestre das ondas.

Às vezes eu dava azar e encontrava apenas outros surfistas, que até faziam umas manobras bacanas, mas sem nada da magia e da pureza dos movimentos do Alisson.

Eu não precisava entender de surfe para perceber seu talento. O inclinar de seu corpo ao passar sob as ondas, a forma como seus pés aderiam à prancha, a maneira como ele alongava os braços fortes buscando o equilíbirio ideal... Alisson era mais que um surfista, ele era a perfeição.

Embora algumas mansões suntuosas já se erguessem à beira-mar, a maior parte da cidade era mato. Isso facilitava as coisas, pois o Grande Alisson surfava na parte mais nobre da Orla, justamente onde eu teria mais problemas.

Naquele fim de tarde a sorte enfim me iluminou. Alisson apareceu com alguns amigos e eles montaram uma fogueira perto do mar. Logo todos estavam bebendo cerveja, fumando e rindo muito. A risada do Alisson devia ser tão encantadora quanto o seu sorriso, mas seria arriscado me aproximar. Eu era apenas um pirralho magro, e todas aquelas pessoas aparentavam a idade do Alisson, uns vinte e dois anos ou mais. Os homens eram musculosos, as mulheres magrinhas e de seios fartos. Até o musculosão fisiculturista divertia-se com eles, enquanto comia um milho. Eu nunca seria aceito entre gente tão legal.

Eu me abaixei entre as folhas altas, e esperei minha parte favorita: Alisson subindo em sua prancha para domar cada uma daquelas ondas. Mas o que avistei esfriou meu sangue.

Bem adiante, na areia branca, Alisson sentou com os outros em torno do fogo. Ele acendeu um cigarro e conversou com os amigos, rindo de se matar enquanto duas das moças acariciavam seu torso e davam beijinhos, competindo pela sua atenção.

Com um sorrisinho arrogante e orgulhoso, Alisson agarrou a a bunda das duas e devolveu beijos molhados, parecendo bem confortável em deixar a garota hippie do cabelo de palha descer as mãos para a frente de sua bermuda, mesmo à vista de todos. Pela falta de reação dos amigos, eles pareciam bem acostumados.

Não sabia por que, mas aquela cena esmagou meu coração. Eu sentei de costas para a praia, sentindo o ar faltar e uma vontade de chorar terrível. O que estava acontecendo comigo?

Para aumentar meu susto, um volume formou no meu calção. Eu sabia o que era aquilo. Já roubei várias revistas de mulher pelada, como qualquer adolescente, mas nunca fiquei assim vendo uma cena ao vivo.

Tá certo, calma, eu fiquei assim vendo as mulheres de biquini. Sim, definitivamente o motivo eram as mulheres.

Eu encostei os ombros no tronco de um coqueiro e tentei esfriar os pensamentos. Só queria aprender sobre surfe, e tornar os sonhos loucos do pai um pouco mais possíveis. Observar os glúteos fortes do Alisson colarem na bermuda molhada era apenas um adicional que eu precisava ver, como parte da espionagem.

Após alguns minutos meu corpo se acalmou, e eu arrisquei espiar adiante. A maioria dos caras já estava pegando ondas, mas nenhum deles era o Grande Alisson, que também não estava à beira do fogo.

Eu inclinei o corpo, tentando localizá-lo. Até as mulheres de antes surfavam sozinhas, dividindo uma prancha cor-de-rosa. Alisson parecia ter desaparecido.

"Ei, você!" Alguém falou logo à frente.

Eu me levantei do meu esconderijo por impulso, e quase tive um ataque cardíaco. Era o Grande Alisson, vindo na minha direção. Ele carregava sua prancha amarela sob o braço e tinha uma expressão difícil de ler. Parecia curioso.

O Preço da Adoração (AMOSTRA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora