Capítulo 10

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Eu atravessei as quadras amplas e bem iluminadas do bairo central, seguindo Alisson como um patinho segue a mãe.

Mil coisas percorríam minha mente. Nós entraríamos na casa dele, ele trancaria a porta e no instante seguinte me prensaria no sofá, saboreando meu corpo virgem. Ou então ele testaria minha coragem, indo até seu quarto e esperando que eu o seguisse, para então arrancar minha virgindade. Ou talvez algo mais romântico. Subiríamos as escadas de mãos dadas, e ele me deitaria nos lençóis macios e, entrelaçando os dedos nos meus, sussurraria coisas gostosas no meu ouvido...

Entretanto, quando chegamos na casa dele, Alisson continuou tão distraído quanto antes. Ele ignorou o vermelhão no meu rosto e jogou as chaves no porta-chaves, parecendo esquecer que eu existia.

Eu acompanhei seus gestos com o olhar de uma coruja. Alisson largou a prancha na parede, se espreguiçou e foi até a cozinha americana, que ficava logo após a mesa de jantar.

"Vou fazer janta, você quer?" Perguntou ele.

"Pode ser." Falei, nervoso demais pra pensar em comida.

Alisson ligou o fogão e começou a preparar alguma coisa. Eu não soube como reagir. Lá estava eu, na casa do Grande Alisson novamente, e dessa vez não haviam pranchas a parafinar.

Tentando distrair a cabeça, eu explorei a sala. Sofá simples, poltrona simples, uma pequena televisão de tubo sobre a estante... eu gostava dali. Era meio bagunçado mas aconchegante e com o cheiro do Alisson. Só de olhar para o sofá eu esquentava. O Grande Alisson me chupou bem ali, e me fez gozar em seu rosto. Aquela memória, de tão louca, nem parecia real.

Querendo evitar uma reação do meu corpo eu ergui o rosto, e algo na parede me fez franzir a testa. Ainda havia um retângulo de poeira, fantasma de seja lá o que havia ali.

"Era um quadro?" Perguntei.

Alisson espiou pelo balcão da cozinha, e por um instante ele pareceu tensionar os ombros.

"Ah, mais ou menos. Um porta-retrato velho." Ele voltou a mexer na panela. "Venha se servir, já está pronto."

Eu estranhei a comida ficar pronta tão rápido, e quando entrei na cozinha logo entendi o motivo. Eu deixei uma risada escapar.

"Miojo? É isso o que oferece para as visitas?" Falei. Nem a minha mãe preparava esse tipo de coisa.

"Pois saiba que miojo de caranguejo é o melhor e mais raro dos miojos." Ele me alcançou uma tigela, sem ligar para a provocação. "Tem queijo ralado na geladeira, caso prefira um jantar gourmet."

"E estragar o sabor deste miojo raro? Não, obrigado." Respondi, e fui premiado com a risadinha gostosa do Alis.

O Grande Alisson fingia não ligar pra mim, mas estava mesmo tentando me deixar confortável.

Nós dois jantamos escorados no balcão da cozinha, Alisson falando bobagens e rindo, e eu tentando não derreter para a sua voz, sua proximidade, e o brilho profundo em seu olhar.

Eu amava ele. Eu amava tanto, que chegava a doer.

"Posso te assistir no próximo campeonato?" Perguntei.

"O da semana que vem? Sei lá, a praia é pública, né?" Alisson gargalhou, e pôs nossas tigelas na pia. "Tô brincando, claro que pode. Aliás, deve. Meu aprendiz tem que aprender com o melhor."

Eu abri um sorriso enorme. O Grande Alisson me queria por lá? Ele não temia que a família dele descobrisse sobre nós?

Pensando bem... será que a família dele iria? Alisson nunca falou sobre isso.

O Preço da Adoração (AMOSTRA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora