Capítulo 64

739 31 12
                                    

O som dos meus passos ecoam, cada passo acompanhando o ritmo do meu coração. Sinto como se o mundo começasse a girar, e tenho vontade de vomitar. Em cada lado do corredor vejo quatro celas, todas com apenas uma pequena janela feita de vidro reforçado dando uma visão de dentro da cela. Ao passar por cada uma não vejo nem ouço ninguém, até chegar a última do corredor direito. A única cela ocupada, a ocupante sendo a pessoa que mais odeio nessa vida.

Quando paro em frente a cela, ouço uma risada feminina, soando quase insana. Vejo-a sentada no chão, de costas para a janela.

- Já era hora! Ficou perdida pelos corredores? – Lara zomba.

- Você sabia que eu viria? – pergunto. Tento ler a mente dela, mas não consigo. Algo me bloqueia.

- Ora, é fácil deduzir que depois de tudo o que te cause... – ela se levanta e arruma suas roupas cinzas de prisioneira – Você iria querer receber algumas respostas. Então, comece logo a perguntar!

Ela se vira para me encarar, e me assusto ao ver a loucura que brilha em seus olhos. A luz branca da sala faz com que ela pareça um fantasma, e imagino como ela chegou a esse ponto desde a última vez que a encontrei.

- Por que? – pergunto – Por que você planejou tudo isso? O que você ganharia? E por que eu?

- Por que? – ela repete minha primeira pergunta, ignorando as outras.

Lara se aproxima da janela e faz sinal para que eu me aproxime, e eu obedeço hesitante.

- Você quer ouvir uma história? – ela pergunta e fecha os olhos como se estivesse lembrando de algo – A história de uma garotinha inocente, uma mãe que só queria proteger sua família, e o monstro que caiu do céu.

Ela abre os olhos repentinamente e bate com o punho no vidro e eu cambaleio para trás de susto. Ela me lança um sorriso distorcido.

- Quando aquele buraco se abriu no céu de Nova York, eu era só uma mulher comum! Vivia minha vida normalmente, cuidava de minha família... E então eles chegaram, destruindo tudo em seu caminho, caindo do céu como uma chuva mortal. Meu marido, minha filha e eu fomos a sorveteria da esquina tomar milkshakes, e estávamos voltando pra casa quando tudo começou. E então tivemos que fugir. Nós voltamos para nosso prédio, e então quando chegamos a entrada, um dos aliens... Um deles matou meu marido, na frente da minha filha.

Ela para e respira fundo.

- O maldito alien atirava para todo lado, e um dos tiros acertou bem no peito do meu marido. E então eu mandei minha filha não olhar pra trás e correr. Mandei ela subir as escadas e se esconder junto de nossa vizinha no nosso andar... Eu disse pra ela que tudo ficaria bem... Que a mamãe iria ajudar o papai... Que nós iriamos nos reunir. Ela obedeceu. Correu escada acima. O alien já estava longe, mas não tenho certeza... Só conseguia ver meu marido no chão... Sem vida.

Lara para de falar e passa as mãos pela cabeça, puxando fios de cabelo e arranhando o couro cabeludo. Ela então me olha nos olhos e continua a contar, nem por um segundo quebrando o contato visual.

- Eu cai de joelhos ao lado dele. Mas não consegui... Não consegui fazer nada... então... o grande Homem de Ferro passou com o míssil pelo portal, e o dia foi salvo! Os Vingadores derrotaram o irmão malvado do deus do trovão e os aliens caíram do céu pela última vez.

Ela da as costas para mim e depois de alguns segundos volta a falar.

- Tudo terminou bem, não é? Menos para minha família... Meu marido já estava morto, eu estava chorando ao seu lado, e então um daqueles monstros gigantes caiu em cima do nosso prédio... Eu mal consegui sair de lá sem ser morta pelos escombros. E eu sabia que minha filha também já estava morta. Ela, minha vizinha, muitos outros também. Minha família morreu, e eu sobrevivi.

Mundos Opostos Onde as histórias ganham vida. Descobre agora