Capítulo 4

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Eu acordo e imediatamente levanto da cama, calço meus chinelos e corro para fora do meu quarto, indo para o andar de baixo de casa. Quando alcanço o final da escada, dou de cara com minha mãe.

— Emy, calma! — minha mãe me segura para que eu não caia em cima dela.

— Desculpa mãe! É que... a festa... James... — eu falo ofegante — O que houve? Onde ele está?

Ela me chama para nos sentarmos no sofá e eu reparo que a sala ainda está meio bagunçada, com coisas e comida espalhadas no chão. Sinto uma pontada de culpa em meu coração, por todos os problemas que eu causo para meus pais. Minha mãe me diz que meu pai foi levar James até a casa da família dele enquanto ela cuidava de mim aqui em casa. Ela conta que depois de eu ter desmaiado, todos da festa já haviam fugido – ela vacila enquanto dizia essa parte, com medo de me ofender, e não querendo assumir que as pessoas fugiam de mim.

— Mas... a quanto tempo ele saiu? Que horas são? — eu olho para o que era a janela e vejo que ainda está escuro.

— São quase uma da manhã, querida. — ela olha no seu relógio de pulso.

— Uma da manhã! — a festa começou às nove horas, o acidente deve ter acontecido lá pras onze da noite...

— Seu pai já deve estar voltando e vai falar como o James está, não fique nervosa filha. — ela diz e me abraça.

Eu desabo, e começo a chorar em seu ombro.

— Por que... as pessoas são assim mãe? Eu não sou tão diferente delas! Não é mesmo? — eu saio do abraço e a encaro — Eu... eu posso ler mentes, mãe. E eu escutei a da Patty, não por querer, mas eu senti nela e em todos na sala, todo o medo... um sentimento que era como... como terror. Eles estavam aterrorizados, com medo de que eu fizesse alguma coisa contra eles.

Eu recomeço a chorar e ela me abraça de novo.

— Filha, você não pode escutar o que esse tipo de pessoa fala. — sua voz é calma e seu carinho nos meus cabelos é reconfortante. Eu ignoro o fato que as pessoas que elas está se referindo são meus parentes e amigos — Você não pode deixar que eles te atinjam! Você é a melhor pessoa que eu conheço, e nada nunca vai mudar isso. Eles estavam assustados por que a garota começou um escândalo, e as pessoas são assim, uma segue a outra e então a confusão estourou.

— Eu senti muito desespero. — olho pra ela de novo — Eram muitas vozes. Eu não sei porque esse poder só despertou agora. É tão confuso!

— Eu sei filha. Você só precisa descansar. E eu acho que sei o que pode melhorar seu ânimo...

Ela me leva para a cozinha, e eu ignoro os vestígios da confusão que restou da minha festa. Minha festa de dezoito anos... E eu nem ao menos comi uma fatia do...

— Bolo! — eu exclamo. Minha mãe tira da geladeira a enorme fôrma retangular, e coloca o bolo totalmente de chocolate e granulado na mesa.

— Bem, com tudo que aconteceu hoje, não tivemos tempo para o bolo. — ela dá um sorriso triste.

Ela serve bolo pra nós duas e voltamos pra sala.

— Bem... — eu digo, meu ânimo já um pouco melhor — ...pelo menos para uma coisa essa confusão toda serviu.

— É mesmo? — minha mãe pergunta — E pra que serviu?

— Serviu para deixar todo esse maravilhoso bolo só pra nós!

Nós duas rimos. Por um momento o desespero, a tristeza e a culpa desaparecem.

|X|

Quando meu pai chega ele me fala da situação de James e a reação dos pais dele.

— Eles me expulsaram da casa deles! — ele exclama — Sabe, filha, eu gosto do James, ele é um bom rapaz. Mas os pais dele...

Eu fico horrorizada com o que ele diz. Como eles podem expulsar meu pai assim? Ele não fez nada! A culpada do filho deles ter se machucado fui eu! Sinto raiva de mim mesma, dos meus poderes e dos meus pais de sangue que me abandonaram sem nenhum tipo de carta ou manual de instruções. "Ah, e ela é uma mutante, sim? Para controlar seus poderes ela deve... Passo 1: fazer Yoga". É, um manual de instruções seria bem útil agora.

Eu agradeço meu pai por tudo que ele fez e subo para meu quarto. Sento em minha cama e faço umas canetas da minha escrivaninha flutuarem, distraída.

Meus pais de sangue não podiam ter feito isso comigo. Eles provavelmente tinham as respostas que eu preciso, como por exemplo, como viver em harmonia com meus poderes e as pessoas ao meu redor... Mas eles me abandonaram sozinha em um orfanato... Provavelmente pensavam que eu era uma aberração ou algo do tipo.

Espera... O orfanato! Lá seria o melhor lugar para procurar respostas. Começo a pensar no que meus pais diriam, se eles vão aprovar essa minha "busca" pelas pessoas que me deram a vida.

Eu me levanto e desço as escadas de novo. 'Preciso ter uma conversa séria com eles.' penso quando os chamo até a sala de estar.

Depois que estamos os três na sala sentados – comigo de frente para os dois – eu começo a explicar minha teoria de que no orfanato eu teria alguma chance de encontrar informações sobre meus pais de sangue e que eu assim poderia responder uma das piores perguntas da minha vida: Porque eles me deixaram?

Enquanto falo, suas expressões mudam de seriedade para apreensão. Eu sei que eles se preocupavam e que pensavam que eu me machucaria nessa "aventura", que eu poderia achar alguma coisa que me desagradasse, mas eu precisava saber.

— Mãe, pai, eu sempre tive este pensamento... E mesmo que ele sempre tenha ficado ali no canto mais escondido de minha mente... Eu sabia que poderia acontecer. Eu sempre tive medo de machucar mais alguém algum dia. E parece que esse dia chegou. Eu não consegui controlar meus poderes, e isso fez com que o James se machucasse. Eu não posso ficar a vida toda esperando que meus poderes fiquem fora de controle e que alguém se machuque. A melhor solução é procurar respostas.

— Filha, nos te apoiaremos em tudo que você decidir. — meu pai diz.

— Mas só pedimos que tome cuidado! — minha mãe olha pra mim com uma mistura de orgulho e apreensão — Te daremos o endereço do orfanato.

Eu os abraço forte e agradeço.

Parece que vou começar minha jornada em busca de respostas.

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