Capítulo 52

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No outro dia de manhã, pegamos nossas malas e vamos para o quintal. A neve continuava a cair.
- Já pegou tudo? - Jofrey me pergunta.

- Sim. E você pegou as chaves da casa?

- É claro que eu peguei... - Jofrey diz procurando nos bolsos da calça e da jaqueta. Ele não acha as chaves e suspira. - Espera aqui que eu já volto.

- Se não fosse por mim você se esqueceria de tudo! Não sei como sobreviveu até hoje! - digo rindo.

Jofrey volta pra dentro de casa e após alguns segundos sai balançando a chave. Ele tranca a porta e se vira pra mim como que esperando ordens.

- Ok. Nós vamos pegar os documentos e ir direto para o aeroporto. Lá você vai comprar as passagens e não vai fazer nada estúpido ou maluco. E por favor não gire enquanto anda. - falo com Jofrey enquanto esperamos o táxi que ele chamou.

- Ok, chefa! - ele fica ereto e finge bater continência.

Eu reviro os olhos e o ignoro (arte na qual estou ficando muito boa). Quando o táxi chega, o motorista sai do carro para ajudar com as malas. Ele pergunta para onde vamos e eu falo o endereço. O carro segue até a Ótica Ótima, vulgo covil do mal de Jon.

~~~*~~~

Quando eu e Jofrey entramos na ótica, a primeira coisa que reparo é que quem está no balcão hoje é uma mulher baixinha e com cara de poucos amigos.

- Olá! - Jofrey diz com seu melhor sorriso - Nós estamos aqui para...
- Eu sei quem vocês são e porque estão aqui! Tome logo esses papéis e nunca mais voltem aqui! - a mulher interrompe Jofrey e entrega um envelope grande para ele.

- Então está tudo certo? - Jofrey pergunta olhando dentro do envelope. 

- Sim! Agora caiam fora. Ordens de Jon. Nunca mais voltem! - ela diz grossa.

Jofrey parecia querer dizer mais alguma coisa, mas mudou de ideia quando a cara fechada da mulher se retorce em um sorriso forçado, assim que um cliente entra na loja.

Nós saímos e voltamos para o táxi, que nos leva para o aeroporto.

~~~*~~~

- Deixa que eu falo. Temos que parecer amigáveis. - Jofrey sussurra pra mim.

- O que você quer dizer com isso? Eu não sou amigável? - retruco indignada.

- Claro que é! Só quis dizer que você não está acostumada com isso de "identidade falsa".

- E você está?

- Não. Mas eu tenho um carisma natural. - Jofrey sorri e arruma os cabelos loiros e vai para o balcão onde a atendente espera.

Ele coloca as malas no chão e:

- Dia moça bonita! - ele diz imitando a um caipira - Nós é do interior sabe? Eu e minha sobrinha aqui! Nós vamos para Nova York pela primeira vez!

Jofrey me puxa pelo braço e tento dar um sorriso, mas a vergonha é tanta que tenho vontade de sair voando dali. Nós estamos tentando nos passar despercebidos e ele faz isso.

A mulher, que de acordo com seu crachá se chama Laurel, nos dá um sorriso educado e fala o preço das passagens. Jofrey me solta e eu me afasto dele discretamente. Finjo estar esperando alguém, e ignoro Jofrey enquanto ele conversa com Laurel. Ela responde com educação, mas sei que ela tem que aturar esse tipo de situação todos os dias.

Depois de uns minutos Jofrey se despede da moça.

- Até mais bela moça! - ele diz e ela acena com a mão.

Jofrey olha ao redor me procurando e quando me acha, sorri e vem até onde estou.

- O vôo sai daqui uma hora. Temos que esperar. Estou com fome.

- Que porcaria de sotaque é esse? - pergunto. 

- O que? Meu sotaque e ótimo! E ele nos ajudou. Você não queria que nos descobrissem, não é?

- Aaah! Esquece isso! - digo frustrada - vamos comer que eu ganho mais...

~~~*~~~

Sentamos em nossas poltronas e eu relaxo. Consegui passar. Olho para Jofrey mas ele está suando e com os olhos arregalados.

- Você está bem? - pergunto. 

- Si...sim. Estou ótimo!

- Você tem medo de voar de avião?

Ele me olha como se eu tivesse descobrido o seu pior segredo.

- Eu não... - ele para quando o avião começa a se mover - TÁ BOM! EU ADMITO EU TENHO MEDO! ME TIRA DAQUI!

Jofrey crava as unhas no encosto da poltrona e fecha os olhos.

Eu falo baixo com ele:

- Não se preocupe, o avião não vai cair. E mesmo que cair, eu sei voar e te salvo.

Ele me olha horrorizado.

- Muito obrigado, ajudou muito! - ele reclama.

E o avião decola.

~~~*~~~

Assim que descemos do avião, Jofrey se joga e beija o chão. As pessoas olham pra ele e eu continuo andando fingindo não o conhecer.

- Ah! GRAÇAS A DEUS! - ele levanta as mãos pro céu.

- Levanta daí que você está me fazendo passar vergonha. - falo pra ele. - E não foi tão ruim.

Ele me ignora e olha pro céu. Começou a nevar.

- Vamos pegar nossas coisas. Temos um trabalho a fazer. - digo puxando Jofrey.

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