[EXTRA] Serendipity

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2 anos depois

Não era um dia comum, ao menos não para (s/n). Ela não era extremamente sentimental, mas aquela era uma data importante. Por isso, quando seu despertador a acordou avisando que começava mais uma manhã, ela despertou com um sorriso. Sete e meia da manhã, um banho quentinho, um shampoo cheiroso e o Spotify fazendo sua presença. Se arrumou toda, como se não arrumava há um bom tempo. A vida já não era mais a mesma. Agora (s/n) estava na faculdade, era praticamente uma adulta. Ainda sim se sentia como a mesma adolescente de 16 anos. Checou sua aparência no espelho, ajeitando o cabelo atrás da orelha. Ele agora estava grande novamente e avermelhado, a satisfazendo completamente. Usava um vestido azul um pouco acima dos joelhos, o clima perfeito para o segundo aniversário de namoro. Saiu com os fones de ouvido como se estivesse em um vídeo clipe.
Ao chegar na faculdade de Direito, mal conseguia prestar atenção nas aulas. Os seus pensamentos voavam para bem longe. Ela enrolava os cabelos com a ponta da caneta.
O dia passou bem rápido, ela quase nem o percebeu passar. Assim que se tocou, percebeu que já eram quatro horas, ou seja, precisava ir embora o mais rápido o possível. Alguns amigos tentaram a parar para conversar, mas daquela vez (s/n) realmente não poderia se dar esse luxo. Nem tentou parecer plena enquanto corria desesperadamente para não perder o ônibus. Por um milagre, ela conseguiu subir no transporte público rumo ao seu destino. De repente, o ônibus parou bruscamente, fazendo com que ela fosse lançada para frente, porém sem se machucar pois usava o cinto de segurança. Atordoada, (s/n) ergueu o olhar e passou a prestar atenção nos comentários das senhoras no ônibus.
- Mas o que aconteceu? - Uma das senhoras perguntou para a outra.
O motorista então se levantou.
- Me desculpem, mas o ônibus enguiçou. Já telefonei para o reboque, mas receio que terão que continuar seu caminho a pé. Todos vocês terão seu dinheiro de volta.
(s/n) grunhiu de infelicidade, pondo-se de pé pronta para descer do ônibus enguiçado. Ainda faltavam dez minutos de caminhada até o hospital, por isso ela gemeu de tristeza. Mesmo assim, começou a caminhar. Não tinha tempo a perder. Eventualmente ela chegou no hospital, entrando sem muitas preocupações.
- Ah, (s/n)! - Dara, a recepcionista a chamou. - Como é bom ver você por aqui!
(s/n) sorriu e se aproximou da mulher.
- Oi, Dara unnie. Como vai?
- Eu vou ótima, e você?
- Na medida do possível, sim.
- Você deve estar procurando pelo Jungkook, não é? - A mais nova assentiu. - Ele está lá atrás, pode ir.
- Obrigada, unnie.
Então a jovem seguiu o seu caminho pelos corredores frios e brancos do hospital, a procura do seu namorado. Ela se sentou num dos bancos ao lado de uma senhora simpática que sorriu para ela. Depois de um tempo, Jungkook apareceu vestido em um jaleco e com sapatos brancos ridículos, além de ter uma prancheta na mão. Ela acenou para ele, que abriu um enorme sorriso e correu na direção dela, a envolvendo em um abraço apertado. Mesmo com cheiro de hospital, ele ainda cheirava extremamente bem.
- Você demorou, o que houve? Aconteceu algum problema? - Ele perguntou enquanto acariciava os cabelos dela.
- O ônibus enguiçou na metade do caminho, o que significa que eu tive que vir a pé.
- Que merda, hein. Mas eu tenho uma boa notícia.
- É mesmo? Qual é?
- Eu tenho o resto do dia todo planejado, e vai ser bem divertido.
- Eu espero que consiga superar o do ano passado.
- Está mil vezes melhor. - Jungkook se virou para olhar o relógio. - Espera só mais um pouco, meu turno vai acabar daqui a pouco.
(s/n) assentiu, se afastando para se sentar de volta no banquinho. Jungkook agora era estagiário no hospital, um grande passo para sua carreira como fisioterapeuta. Ela tinha muito orgulho do trabalho que ele estava prestando e ficava muito feliz ao saber que teve uma contribuição, mesmo que mínima, para esse acontecimento. Olhando para o relógio uma única vez, ela decidiu pegar o celular e ficar mexendo nas redes sociais enquanto esperava. Curtiu algumas fotos no Instagram, comentou algumas publicações no Facebook, retuitou algumas coisas no Twitter, e nada do namorado. Já tinha se passado uma hora e nada dele. (s/n) estava começando a ficar bem impaciente. Como se lesse seus pensamentos, Jungkook saiu e veio na direção dela, mas ainda vestia o jaleco.
- Qual o problema? - Ela perguntou.
- (s/a), me desculpa, o chefe pediu para todos os estagiários cobrirem horas extra hoje, eu tentei argumentar, mas não foi o suficiente... Se você puder esperar mais um pouco, eu vou fazer de tudo para que o resto do dia seja ótimo.
- Não tem problema, posso ficar aqui. Vai terminar o seu turno e curar muitas torções.
Ele sorriu e deu um beijo na testa dela.
- Você é a melhor, sabia disso?
- Claro que sim, você me diz isso todos os dias.
Dito isso ele seguiu novamente para a parte onde trabalhava no hospital.
- Se acalme, (s/n). Vai dar tudo certo. Não se estresse, ele tem tudo sob controle - ela sussurrou para si mesma.
Mais uma hora foi, e finalmente Jungkook saiu sem o jaleco, mas sim vestido com suas roupas. Ele parecia estar extremamente cansado, e ela não duvidava que realmente estivesse. Assim que ele se aproximou, a garota correu para se aninhar com ele, que riu da reação dela. Dando um leve aperto no braço dela, os dois foram em direção a saída.
- Boa noite, Dara noona - Jungkook se despediu.
- Boa noite, gente!
Já estava escuro do lado de fora, mas (s/n) procurou ignorar esse fato. Estava com o garoto que amava, então tudo estava bem. Caminharam por um tempo até chegarem no pólo gastronômico da cidade, sendo invadidos por lindas luzes e decorações.
- E aí, como foi o dia hoje? - Ele perguntou.
- Pra ser totalmente sincera, nem prestei atenção nas aulas. E a culpa é toda sua!
- Minha culpa?! - Ele se fingiu de indignado. - Logo eu, que sou um anjo na Terra?
- Eu vou fingir que acredito.
Jungkook riu e a puxou para mais perto.
- Agora pode me dizer aonde estamos indo?
- É claro que não. Eu sou um agente do FBI, minha especialidade é guardar segredos.
(s/n) revirou os olhos e ele riu alto.
- É brincadeira, coisinha. Nós vamos no Wei Aro's.
Ela arregalou os olhos, recebendo como resposta um sorriso convencido dele.
- Não acredito que você conseguiu fazer uma reserva lá!
- Pois é, eu sou a pessoa mais foda do mundo.
- A mais humilde também.
Entretanto, olhando na direção do restaurante, o sorriso dele desapareceu no exato instante.
- Kookie, o que foi?
Haviam muitos policiais na frente do restaurante. Algumas pessoas observavam chocadas a situação.
- Não acredito que descobriram uma infestação de ratos e baratas logo nesse restaurante! - Uma das pessoas comentou, chocada.
Jungkook parecia 100% cansado de viver, e (s/n) também não estava com a melhor das expressões.
- Eu não sei o que dizer - ele disse. - Me desculpa, (s/n).
- Não tem porque se desculpar, Kookie. Não é culpa sua. Tem muitos restaurantes por aqui, o que não nos falta é opção.
- Mas você queria ir nesse, (s/a).
Ela virou o queixo dele para que a encarasse, um sorriso aberto no rosto.
- Não me importa o restaurante, só me importa se estou com você.
Ele sorriu, juntando os lábios com os dela.
- Muito bem, então aonde vamos comer? Eu soube que tem um ótimo restaurante de comida tailandesa por aqui. Quer tentar? - Ela sugeriu.
- Se você diz, então vamos.
Depois de esperar por meia hora na fila, finalmente conseguiram entrar para comer. O lugar era completamente a céu aberto, o que dava uma ótima vista das estrelas.
- Que bom que não tem teto - ele começou. - Por que aí eu tenho duas lindas vistas: você e as estrelas.
- Ah, meu Deus. Você tá querendo me matar, é isso?
- Só estou enaltecendo a beleza da minha linda namorada e comparando com as estrelas nessa noite... - Ele ergueu o olhar para o teto, uma cara de bunda tomando o lugar da expressão de felicidade. - Estrelada.
Não havia uma estrela no céu. Nuvens pesadas e densas cobriam tudo o que podia ser visto.
- Tudo bem, não podemos controlar o tempo, não é mesmo?
A comida demorou uma eternidade para chegar e a barriga da garota já estava roncando alto demais para disfarçar. Ao menos a conversa e a refeição foram ótimas. Quando tinham terminado, o garçom trouxe a conta.
- Qual o método de pagamento?
- Crédito.
Assim que Jungkook passou o cartão na máquina, esta apitou. Ele passou novamente e nada da máquina ler o cartão.
- Acho que o seu cartão está com problema na placa de leitura, senhor. Provavelmente o método preferencial para o pagamento seria o dinheiro.
- Sem problemas.
Ele abriu a carteira e entregou o dinheiro para o garçom.
- Já está tarde, acho que deveríamos ir para a sua casa - (s/n) comentou.
- Tem razão. Vamos, minha dama? - Ele estendeu a mão.
- Oh, vamos sim, meu doce cavaleiro.
Com as mãos entrelaçadas, o casal esperava no ponto de táxis. Quando o taxista parou na frente deles, Jungkook abriu a carteira para dar o dinheiro inicial, até perceber que não havia dinheiro o suficiente. (s/n) fechou os olhos, na esperança de aquilo ser apenas um sonho de mau gosto e que não estava realmente acontecendo. Ela estava errada, aquilo era bem real.
- Vou ter que dispensar, senhor - o taxista anunciou.
- Tudo bem, senhor. Tenha uma ótima noite - (s/n) tomou as rédeas da conversa.
Eles se sentaram num banquinho que havia bem ali, contemplando a desgraça. (s/n) estava tentando ser positiva, mas parecia que o acaso queria a ferrar. Jungkook estava debruçado com as mãos sobre o rosto. Ela se aproximou e colocou sua cabeça no vão do pescoço dele.
- Isso está sendo um desastre - ele disse com a voz frustrada. - Me desculpa por tudo isso, (s/n). Que irresponsabilidade a minha de não ter chegado se tinha dinheiro o suficiente. Agora teremos que voltar a pé.
- Não, eu acho que tenho dinheiro o suficiente para inteirar a passagem de ônibus com você. Não precisa se desesperar. Não tem como piorar.
Foi como se o acaso risse na cara dela, pois no exato instante que ela disse aquilo, um raio seguido de um trovão cortaram o ar, fazendo com que ela quase morresse de susto, e uma chuva pesada começasse a cair nos dois. Foi a gota d'água. Sem nem perceber, (s/n) começou a chorar, sendo abraçada pelo namorado. Os dois ficaram ali na chuva sem saber o que fazer.
- Pelo menos não estamos pelados - ele brincou.
- Esse vestido encolhe quando molha, Jungkook.
Ele mordeu o lábio, sacudindo a cabeça e olhando nos olhos da menina. Ele tirou a jaqueta molhada e colocou sobre ela. Mesmo não sendo de muita ajuda, ela sorriu. Os dois se abrigaram em uma loja de conveniência, onde Jungkook conseguiu comprar um guarda-chuva extremamente barato. Se aninharam um no outro e seguiram seu caminho até o ponto de ônibus. Por um milagre o dinheiro foi o suficiente para levá-los até a casa de Jungkook. Assim que chegaram, os dois se jogaram no sofá. Respiraram por alguns segundos antes do rapaz ir até o quarto e trazer roupas secas dele para que ela se trocasse, e ele fez o mesmo. Jungkook pegou o telefone e discou o número da pizzaria, pedindo uma pizza de quatro queijos. (s/n) pegou o controle e ligou a televisão no Netflix, selecionando um filme de terror qualquer e se aproximando do garoto, que passou seu braço pelo ombro dela e puxou o cobertor macio sobre o corpo dos dois. O cabelo molhado de (s/n) já estava praticamente seco quando a pizza chegou. Os dois comeram como porcos e ainda comeram balas de gelatina depois. De alguma forma inexplicável, aquilo era melhor do qualquer restaurante caro pela cidade. Trocaram uns beijos que com o tempo foram esquentando, gerando alguns minutos de prazer, enquanto o filme ainda rolava e as caixas vazias de pizza deixavam o cheiro empregado no lugar.
Jungkook olhou nos olhos de (s/n), ambos vestidos novamente, e a acariciou com todo o carinho do mundo.
- (s/n) - ele chamou.
- O que foi?
- Eu te amo.
Ela o puxou para um abraço intoxicante.
- Eu também te amo, Kookie.

Playing With FireWhere stories live. Discover now