2. Where it came from?

41 4 0
                                    

1 ano e 4 meses antes

Eu já tinha começado a fazer a contagem regressiva para o final do período na faculdade. Era o primeiro, ainda sim, eu desejava o término. Enquanto comia um sanduíche de presunto encostado na área de lazer do prédio, senti meu telefone tocar. O apanhei, lendo o nome "Taehyung" no visor.
Atendi, colocando o celular contra meu ouvido.
- Alô.
- Oi, sou eu.
- Eu sei ler.
- Nossa, alguém está de mau humor hoje.
- Vai direto ao ponto, hyung. Por que me ligou?
- Quer ir ao cinema?
Ergui minhas sobrancelhas, não acreditando na proposta repentina de meu amigo.
- Por que? - Perguntei desconfiado.
- Caralho, Jungkook. Precisa ter um porque pra chamar meu melhor amigo para ir ao cinema comigo?
Ele estava certo. Talvez eu estivesse mesmo sendo muito pragmático.
- Qual filme?
- X-Men: Apocalypse.
Suspirei, mas logo dei minha resposta.
- Tá. Que horas?
- A sessão de 16:30 fica boa pra você?
Ponderei durante alguns segundos, mas logo concordei.
- Ótimo - ele disse. - Não se atrase.
- Eu nunca me atraso.
Só percebi depois que ele já havia desligado. Pus meu celular no seu lugar e terminei de comer meu sanduíche, pegando meu rumo pra casa. A melhor coisa sobre Seul de fato era o transporte público. Depois de uns 15 minutos no metrô, desci praticamente na entrada do meu bairro. Ao chegar em casa, cumprimentei minha mãe com um abraço apertado e fui direto para o meu quarto.
Eu tinha duas opções: colocar a matéria em dia ou assistir Naruto Shippuden.
Obviamente escolhi assistir Naruto Shippuden.
Horas se passaram e eu nem percebi que tinha caído no sono. Esfreguei os olhos tentando afastar minha sonolência, percebendo que precisava ir dormir mais cedo.
Tateei minha cabeceira atrás do relógio, descobrindo que já eram 15 horas. Me levantei como um zumbi andando lentamente até o banheiro para tomar um banho e tirar o cheiro de presunto de meu corpo. A água quente preencheu cada centímetro de mim, renovando meu corpo completamente. De uma coisa eu podia me gabar com certeza absoluta: sempre saía cheiroso do banho.
Pouco tempo depois estava arrumando e preparado para ir ao shopping. Não demorou pra chegar lá. Entretanto, não havia sinal de Taehyung. Bufei, já devia desconfiar que ele se atrasaria. Peguei meu celular e abri o Twitter a procura de alguma coisa que prestasse. Por que eu estava com o humor tão ruim? Ultimamente tudo estava me tirando do sério. Literalmente tudo; inclusive as pequenas coisas diárias da vida. Não era saudável estar tão de saco cheio, mas eu estava. Alguns minutos se passaram até sentir alguém me cutucando. Ergui meu olhar e encontrei meu amigo com seu típico sorriso quadrado.
- E aí, cara?
- Tá atrasado.
- Pelo amor de Deus, Kook. Você tem 19 anos, não 91.
- É, eu sei. - Me levantei, espreguiçando. - Você vai querer pipoca?
- A (s/n) foi comprar.
Arregalei meus olhos.
- Você chamou ela?!
- Chamei, qual o problema?
Antes que eu pudesse contar o ocorrido de um mês atrás, a garota chegou segurando um enorme balde de pipoca, que apenas a fez parecer mais baixinha. Ela sorriu quando me viu, e eu, mesmo nervoso, respondi da mesma maneira.
- Espero que não se incomodem com a manteiga extra que eu pedi - ela falou entregando o balde pra Taehyung, que entregou pra mim.
- Jungkook é alérgico a manteiga.
Os olhos dela se arregalaram e sua boca se transformou em um O, a medida em que eu encarei o garoto sem entender nada.
- Ah, meu Deus, me desculpa! Eu vou comprar outra agora!
- Não precisa, eu não sou alérgico a manteiga.
- Mas... - Ela ficou confusa durante alguns segundos. - Tae?
- Não acredite em tudo que te falam.
Após falar isso, ele saiu andando sem nos esperar. Nós nos encaramos sem entender absolutamente nada, mas começamos a andar assim que vimos a distância que ele estava.
Chegamos na fila para a compra dos ingressos.
- (s/a) - Tae chamou.
- Sim?
- Cadê aquele garoto?
A olhei de rabo de olho.
- Changkyun?
- Ele mesmo.
- Ah, ele não pôde vir. Teve que estudar pro teste de matemática do colégio dele.
- Ele é seu namorado?
Eu nem percebi que tinha perguntado. Só entendi o que estava acontecendo quando senti seu olhar em mim para responder o questionamento.
- Não, não... Ele é só um amigo.
- Amigos não se beijam.
A garota ficou vermelha e tentou se esconder em seu enorme moletom, falhando.
- Para de deixar ela desconfortável - eu o repreendi.
Tae me olhou com uma expressão descrente e comprou nossos ingressos. Entramos no cinema, mas entramos em um impasse pelos lugares.
- Quem senta no meio é sempre quem está com a pipoca.
Nesse caso, eu.
- Nesse caso, o Jungkook.
Dei de ombros. Não fazia diferença alguma.
- Um dos motivos de eu adorar esse cara é que ele topa tudo.
Sorri de lado, me encaixando em meu lugar. Coloquei a pipoca por entre as pernas, como sempre fazia.
Taehyung se inclinou para falar com a irmã de Jimin.
- Há quanto tempo você está saindo com esse cara?
(s/n) se inclinou também para responder o garoto. Eu fiquei no meio, tentando ignorar a conversa constrangedora.
- Desde um pouco depois do meu aniversário.
Coloquei uma pipoca na boca, percebendo que o sabor estava sensacional.
- Achei que você estivesse livre de encontros.
- Aconteceram umas coisas no período do meu aniversário que me fizeram questionar o porquê de eu me recusar a ter encontros.
Engasguei bruscamente com a pipoca. Eu sabia muito bem do que ela estava falando.
- Não morreu - Tae anunciou para o resto do cinema após me acudir.
Limpei as lágrimas da tosse em meu rosto e fui invadido por um calor absurdo. Sacudi minha própria camisa a procura de frescor. Os dois me encaravam preocupados.
- Podem continuar a conversa. Estou ótimo.
Assim que terminei de pronunciar as palavras, as luzes se apagaram, indicando o início dos trailers.
- Merda - sussurrei.
Eu terminaria como o esquisito da conversa. Tentei esquecer as maluquices em minha cabeça e bebi um pouco do refrigerante que Tae comprou.
Trailer após trailer, o filme finalmente começou. O bom dos filmes 3D é que as coisas parecem voar no seu rosto, e eu adorava quando isso acontecia. O balde de pipoca estava praticamente vazio na metade do filme. Não havia mais manteiga derretida porque eu comi tudo. De repente, senti uma mão na minha coxa. Dei um pulo pra trás, assustando a garota, que recolheu sua mão imediatamente.
- Desculpa, achei que era o balde.
Balancei a cabeça repetidamente em concordância, não sabendo o que responder. Dessa vez, a mão dela acertou o alvo, agarrando uma certa porção de pipocas. Voltei a me concentrar no filme, até sentir sua mão novamente no balde.
E então eu percebi que ela estava com a mão no meio das minhas pernas. Para achar uma pipoca molhada, ela enfiou a mão por entre as outras pipocas, sacudindo o balde. Mordi o lábio inferior, me contendo, enquanto sentia uma gota de suor escorrer pela minha têmpora.
Ela finalmente conseguiu o que queria, pegando a tão desejada pipoca com manteiga.
Respirei fundo, mas o alívio não durou mais que dez minutos. O braço dela passou por cima de mim em busca do refrigerante do outro lado, esbarrando diversas vezes em meu peito. Peguei a bebida e entreguei na mão dela, que a bebeu e a colocou no braço da poltrona mais perto de si.
Que bom que ela havia desistido das pipocas, pois ela poderia acabar sentindo algo que não deveria estar ali naquele momento. Me foquei na briga entre Professor Xavier e Apocalipse ao invés de prestar atenção na garota que havia se curvado para bebericar do refrigerante, encostando em meu ombro.
Só podia ser proposital.
Depois de um tempo, os contatos físicos cessaram e permaneceram desse jeito até o final do filme. Assim que as luzes se acenderam, Taehyung foi o primeiro a retirar os óculos e abrir um sorriso.
- Amo dinheiro bem gasto.
- É de fato um bom filme - comentei. - O que achou, (s/n)?
- Adoro filme em que coisas explodem na minha cara.
Sorri, percebendo que tínhamos a mesma opinião. Debatemos um pouco sobre o filme.
- Vamos ficar aqui o dia todo? Tenho que estudar pra uma prova na faculdade - Tae anunciou.
- Eu também - disse enquanto me segurava para não rir. - Mas, honestamente, não estou afim.
- Joguem mesmo na minha cara que já estão na faculdade e não precisam mais aturar o ensino médio - a menina falou irônica.
- Podia ser pior - comecei. - Você poderia estar no fundamental ainda.
Ela concordou, dando de ombros em seguida. Finalmente resolvemos sair da sala de cinema que já estava praticamente vazia, dando direto na praça de alimentação. Pra variar, eu estava me divertindo.
Entretanto, não estava nem um pouco afim de ir para casa estudar para mais uma prova estúpida. Eu queria fazer alguma coisa.
Pensei em virar para a garota e perguntar se ela estava com vontade de continuar por ali em vez de ir direto pra casa, porém, eu era tímido demais pra isso. Só de pensar na possibilidade, milhões de situações constrangedoras brotavam na minha mente.
Qual era o meu problema? O máximo que poderia acontecer era receber um não, o que eu conseguia lidar perfeitamente, afinal, não sou, e nunca fui, um babaca. Eu pude sentir o olhar dela fixo em mim, como se estivesse esperando alguma atitude minha.
Entretanto, quebrando todas as expectativas, eu fiz totalmente o contrário: me virei para Taehyung.
- Você quer ficar por aqui?
- Acabei de te dizer que tenho que estudar - ele respondeu. - Por que? Você tem algo em mente?
- Não, só preferiria passar mais algum tempo aqui.
A situação permaneceu constrangedora, afinal, eu não sabia o dizer depois daquilo. Literalmente estava esperando por uma solução cair do céu. Isso meio que aconteceu, mas não foi bem do céu que veio, mas sim na forma de ligação no celular de (s/n). Ela atendeu o telefone na hora.
- Alô? - Se comunicou. - Ah, olá, oppa!
Aparentemente era o tal Changkyun. Mordi meu lábio enquanto voltava a mexer em meu celular.
"Oppa"?, rosnei em meus próprios pensamentos. Que tosco.
- Posso sim. Já estou indo, oppa.
Ela desligou, virando-se para nós.
- Fui chamada pra ir ao Starbucks. Alguém quer vir?
Ambos negamos com a cabeça. Absolutamente ninguém queria atrapalhar o encontro.
Minha vontade foi de gritar a todos os pulmões "não, (s/n), ninguém quer atrapalhar o teu namoro com teu oppa!", mas eu não faria isso. Não era da minha conta.
Ela então nos abraçou de maneira apertada como despedida. Confesso que gostei. Abraços apertados são muito bons.
Antes de ir embora, ela me olhou durante alguns segundos, como se estivesse esperando por alguma última tentativa da minha parte. Eu, covarde como sou, nada fiz. Observei de longe enquanto a garota se afastava.
Logo após ela, Taehyung.
E eu estava sozinho.
Exatamente como estou agora.

Playing With FireWhere stories live. Discover now