13. I'm your toy

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5 meses antes

Era a décima vez que eu tentava acertar aquele exercício sobre anatomia. Minha mente não conseguia se focar, não importava o que eu fizesse, continuava me lembrando dos lábios de (s/n) em contato com os de Yoongi. Deveria estar tudo bem - como ela mesma disse, aquele "relacionamento" já tinha começado errado, então por que eu ficava insistindo em me torturar? Sinceramente, não faço ideia. Desisti daquele maldito exercício, lançando o lápis sem pena em cima da escrivaninha. Olhei para o teto a procura de algo para me distrair, mas nada vinha a minha mente. Sem pensar muito bem no que estava fazendo, me levantei e coloquei um casaco, abandonando o dormitório sem pestanejar. Meus passos eram longos e rápidos, como se estivesse fugindo. Ao chegar no pátio da faculdade, o céu estava nublado e sem sol. Nem um pouco normal pra dias de primavera, mas condizente com meu recente humor. Eu sabia bem que dia era aquele, infelizmente. Exatamente um ano atrás eu tinha ficado extremamente bêbado na festa de aniversário de (s/n) e isso acabou gerando um beijo, que me pôs em toda essa confusão. Um ano tinha se passado e minha vida havia mudado drasticamente, embora todas as mudanças naquele momento parecessem insignificantes. Uma gota de chuva caiu em meu nariz, fazendo com que eu deixasse meus devaneios e continuasse com meu caminho. Parei no ponto de ônibus, em pé enquanto aguardava o número que precisava pegar. De longe, pude ver uma pessoa que conhecia entrar em seu carro. Era Jimin, carregando um embrulho dourado debaixo de seu braço. Bufei, era nítido que aquele era o presente de aniversário de (s/n). Ele nem ao menos tentava esconder. Talvez eu estivesse o encarando por muito tempo, pois quando reparei, ele também estava olhando na minha direção com a expressão neutra. Não parecia estar com raiva, muito menos feliz. O que ele estava esperando? Que eu acenasse? O chamasse pra jogar Overwatch? Nem que o mundo acabasse naquele mesmo dia. Não sou do tipo que guarda rancor, mas não sou de ferro. Certas coisas me magoam. Algumas, demais. Provavelmente ele notou que estava perdendo seu precioso tempo encarando o ex melhor amigo e tratou de entrar de uma vez no carro. Pode ir embora, pensei. Não há nada para se ver por aqui. O ônibus finalmente chegou e eu entrei, sentando no fundo, perto da janela. O caminho não era tão longo até a casa de Taehyung, por isso não me desliguei completamente. Quando cheguei, o céu dava muitos sinais de que iria cair uma tempestade. Coloquei o capuz e caminhei até a casa. Toquei a campainha, esperando que ele não demorasse uma eternidade para atender.
- Pois não? - Ouvi sua voz perguntar atrás de mim.
- Sou eu. - Me virei. - Posso entrar?
- Claro. - Ele abriu espaço para que eu passasse. - Mas tem certeza?
Parei no meio do caminho, o encarando com olhos ávidos por respostas.
- Como assim?
- Esquece, entra logo.
Revirei meus olhos e finalmente adentrei no corredor, sentindo um calor gostoso tomar conta de meu corpo.
- Por que veio aqui? - Tae perguntou.
- Não posso?
- Foi só uma pergunta, Jungkook. Não é como se eu fosse te expulsar ou algo do tipo.
- Não sei porque vim - respondi, me jogando no sofá. - Não sei mais de nada.
- Isso é tudo por causa da (s/n)?
O encarei com raiva. Sério? Depois de tudo aquilo ele ainda me vinha com essa.
- Ok, já entendi. - Tae se sentou de frente pra mim. - Não posso evitar esse assunto pra sempre. Uma hora você vai ter que falar com alguém sobre isso.
- Não precisa ser hoje - respondi rapidamente. - Especialmente hoje.
- Perguntei se tinha certeza se queria entrar porque ela vem pra cá pra irmos no pier.
- Ah, merda - resmunguei. - Então eu vou embora.
- Deixa de agir como uma criança. Você precisa aprender a lidar com suas ex.
- Ela não é minha ex.
- Então não tem motivos pra esse ataque de nervos. Você não fez nada de errado. - Pra variar, ele acendeu um cigarro. - Ou fez?
Me levantei e peguei o cigarro da mão dele, levando-o até minha boca, onde traguei e senti o efeito da droga mexendo com meus sentidos.
- Certo. Só quer ficar chapado.
Finalmente ele entendeu. Me joguei no chão, deitando sobre o tapete vermelho sangue felpudo e continuei a tragar. A fumaça que se formava acima de mim fazia padrões que eu não conseguia identificar, mas achava bonitos.
- Eu vi o Jimin hoje - falei sem ao menos perceber que tinha falado.
Tae virou-se na minha direção, prestando atenção nas palavras que saíam da minha boca.
- Ele estava carregando um embrulho dourado. Eu sei que é pra (s/n). - Comentei enquanto continuava imerso em fumaça. - Sinto saudade de conversar com ele sobre qualquer merda.
- Já tentou falar com ele depois do que aconteceu?
Soltei uma risadinha irônica, negando com a cabeça em seguida.
- Sou orgulhoso demais pra isso, hyung.
- Tenho que concordar - ele disse. - Do que mais você sente saudade?
- Perguntar a previsão do tempo e receber um "olha no Naver, porra" como resposta.
- Talvez eu devesse largar as artes cênicas e me tornar psicólogo. Arrecadaria uma boa grana com isso.
- Você é um idiota. Sabia disso?
- Você me diz isso todos os dias desde que nos conhecemos.
Meus sentidos estavam bem bagunçados naquele momento, eu podia sentir.
- É tudo minha culpa.
- Do que está falando?
- Eu não deveria ter correspondido aqueles sentimentos dela. Eu estraguei tudo como sempre.
- Não é pra tanto, Kook.
- Além de acabar com uma amizade de anos, destruí um relacionamento que poderia ter um futuro decente. - Comecei a rir como um louco. Não sei bem o porquê. - Ah, eu me odeio.
- Acho que já chega de erva pra você. - Deixei que ele tirasse o cigarro da minha mão. O estrago já estava feito. - Já está falando bobagens demais.
- Por que eu sempre faço isso?
- Fazer o quê, cara?
- Acabo com as coisas que eu amo.
- Você precisa parar de se colocar pra baixo. Não é assim que se supera um relacionamento.
Me levantei bruscamente, dando um susto no meu amigo, que deu um pulo para trás. Encostei minha testa na parede gelada e comecei a bater com a cabeça lá, numa tentativa falha de tirar da minha mente as memórias que eu queria esquecer.
- Eu quero odiar ela. Quero ser capaz de dizer que não preciso dela pra nada, mas não consigo. - Acho que estava chorando, não consigo me lembrar. - Eu. Preciso. Esquecer.
- Tem certeza que quer esquecer mesmo?
- Não quero, mas preciso. Não é? Ela não vai voltar. Por que? - Me virei pra ele. - Por que ela fez isso comigo?
Minha cabeça doía, provavelmente eu estava descarregando minhas frustrações demais e de uma vez só.
- Eu odeio ela - repeti mais pra mim mesmo do que pra ele. - Eu odeio Park (s/n).
Dita aquela mentira ridícula, minha visão ficou turva e eu dormi ali mesmo.
Mais um momento ridículo pra lista de momentos ridículos da minha vida.
Nem tive sonhos, simplesmente caí como uma pedra e acordei pesado como se um caminhão tivesse me atropelado. Senti um cheiro de chocolate quente e me levantei, tombando um pouco para o lado mas logo me recuperando. Abri a porta do quarto sendo recepcionado por uma forte luz branca. Pus-me a caminhar novamente, finalmente chegando na cozinha. Uma caneca com a bebida estava em cima do balcão de madeira, com um bilhete escrito às pressas. Levei o conteúdo da caneca até meus lábios e bebi.

Playing With FireWhere stories live. Discover now