1 semana depois

Ajeitei meu cabelo pela última vez antes de me olhar no espelho. Estava razoavelmente bom. Usava um vestido branco com minha camisa xadrez por cima. Quanto a maquiagem, um gatinho e batom nude. Peguei minha bolsa e fui em direção ao quarto de Jimin, batendo na porta até ele abrir, ainda apenas enrolado na toalha.
- O que é? - Ele perguntou ajeitando o cabelo molhado.
- Já escolheu sua roupa? - Perguntei, entrando no quarto.
- Não, mas não preciso de ajuda.
- Claro que precisa. Me diga o que tem em mente.
Ele bufou, abrindo a porta do guarda roupa e retirando uma blusa de couro preto e uma calça rasgada. Neguei imediatamente.
- Ah, por que? - Perguntou indignado. - Essa roupa sempre funciona.
- Correção: funcionava há três anos. Ninguém mais se veste assim.
- Então qual é a sua sugestão?
Me levantei, empurrando-o e vasculhando seu guarda roupa até achar exatamente o que eu queria. Escolhi uma blusa de gola alta preta, uma jaqueta jeans clara acompanhada de uma calça da mesma cor.
- Agora vai se secar, já passou da hora.
Ele seguiu minha ordem e eu me encostei no travesseiro enquanto pensava na vida. Pouco tempo depois, ele saiu e se vestiu.
- Pronto - eu disse. - Agora está divino.
- Adoro quando você é útil - Jimin sorriu.
Meu irmão tinha uma maneira estranha de lidar comigo, mas eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava profundamente grato. Logo já estávamos pegando o ônibus para chegar no pub onde Yoongi trabalhava. Ao atingir nosso alvo, percebemos que o lugar estava lotado de pessoas de diversas idades. Entramos e com dificuldade nos aproximamos do bar, onde encontramos o garoto.
- Obrigado por terem vindo - ele anunciou, sacudindo a bebida colorida em suas mãos. - A primeira bebida é por conta da casa.
- (s/n) não pode beber.
- Cala a boca e me deixa ser feliz. Eu aceito, Yoongi. Obrigada.
O moreno me entregou a bebida cor de rosa, que eu cherei antes de virar completamente na minha garganta.
- Ela tem mais experiência que você, Jimin - Yoongi comentou. - E você, vai querer o que?
- O de sempre.
- Tá, mas o que seria "o de sempre?"
- Bloody Mary, seu idiota.
- Vou cuspir na sua bebida.
Yoongi começou a preparar a bebida. Eu passava os dedos pelo meu copo vazio, enchido segundos depois por alguém ao meu lado. Me deparei com Taehyung, em toda a sua sobriedade, usando nada menos que a camisa que lhe dei de aniversário.
- Me vesti especialmente pros seus olhos - ele brincou.
- Tô sabendo.
- Oi, Jimin.
- Taehyung. - Meu irmão ergueu o copo em homenagem a meu amigo.
- O que estão esperando? - Ele perguntou. - Vão dançar.
- Eu tô esperando a minha bebida. O Yoongi deve estar mijando no meu copo.
- Palhaço. - Yoongi surgiu no mesmo instante, depositando o copo em cima da mesa. - Oi, Tae. Que bom que veio.
- Não podia perder esse evento. Falando nisso - começou. - Aquela ali não é a Hyeri?
Jimin ergueu os olhos imediatamente, localizando a garota.
- Merda! Como ela veio parar aqui?!
- Eu a chamei - o barista respondeu. - Porra, cara. Tinha que chamar justamente ela?
- Preciso desse reajuste.
Jimin bebeu metade do drink em três segundos.
- Eu vou desaparecer durante um tempo. Se ela perguntar, eu não vim porque estou com infecção no cu.
Quando olhamos novamente, ele já não estava mais lá. Rimos durante alguns segundos. Graças a Deus, Hyeri não veio falar conosco.
- Queria ficar conversando com vocês, mas não posso. Qualquer coisa é só me gritar - Yoongi se despediu, indo para o outro lado do bar.
Ficamos apenas eu e Taehyung, bebendo sem falar nada.
- Sabe - ele começou. - Eu me pergunto se esse seu namoradinho existe mesmo.
- Ele não é meu namorado.
- Dá pra perceber, afinal, ele nunca aparece.
- Ele está ocupado com o vestibular. É o último ano dele no colégio. Eu entendo que é difícil sair de casa com frequência.
- Porra, mas toda vez?
- Não vou cobrar nada, como você gratuitamente ressaltou, ele não é meu namorado.
- Tudo bem, então. Só acho muito estranho.
Não respondi. Eu sabia o que ele estava tentando fazer. Tae sempre tentava me avisar quando ele sentia algo de errado acontecendo. Porém, daquela vez, eu tinha certeza que não havia nenhum problema.
- Olha quem chegou.
Virei meus olhos para a porta e o vi. Usando uma jaqueta preta, uma blusa com decorações azuis e o cabelo bagunçado. Em toda a sua glória, lá estava Jeon Jungkook. Pra ser sincera, não esperava que ele realmente viesse. Dentre todos os amigos de Jimin, ele era o que menos comparecia nos eventos. Provavelmente o garoto deveria estar muito entediado. Ele sorriu de lado quando viu Taehyung, mas ao bater os olhos em mim, desviou o olhar e o seu sorriso desapareceu. Ótimo, além de não se lembrar de nada, ele não gostava de mim. O rapaz se aproximou lentamente, sentando ao lado de Tae, que o sacudiu.
- Quem diria! Jeon Jungkook num evento que não dá comida de graça!
- Aish - ele sorriu.
Confesso que senti um aperto no coração quando ele fez isso. Afinal, já fazia alguns anos que eu cultivava uma pequena queda por ele. Dados os recentes acontecimentos, eu podia ter certeza que ele não sentia o mesmo. Tae colocou um pouco de sua Heineken no copo vazio do amigo, que deu uma golada.
- Então, o que te trouxe aqui?
- O Jimin me convidou.
Como se tivesse um acesso, Taehyung​ se levantou de repente e andou na direção de uma garota. Rolei os olhos, pensando que ele realmente não tinha jeito. Quando olhei pro lado, percebi que estava sozinha com Jungkook. Ele também percebeu isso, pois visivelmente ficou desconfortável. Mesmo assim, se arrastou pelo banco até ficar do meu lado. Será que ele tinha pena de mim? A ideia me deu um pouco de raiva.
- Cadê seu irmão?
Claro que ele perguntaria sobre o Jimin.
- Saiu correndo quando viu que a Hyeri está aqui. A essa altura ele deve estar pegando alguém ou trancado no banheiro.
- E porque você está sozinha?
- Taehyung foi pegar aquela menina, Yoongi está trabalhando e Gaeul só vem de novo para Seul mês que vem.
- Mas e o seu namorado?
- Eu não tenho namorado.
- E ele é o que seu, então?
Eu o encarei, confusa.
- Me desculpe - ele se corrigiu. - Não é da minha conta.
- Sem problemas. Ele é meu amigo colorido.
Reconheci a batida de Do I Wanna Know tocando nos auto falantes do pub. Sorri, cantarolando a letra.
Ele começou a cantarolar junto e de repente se virou, sorrindo. Olhei para o outro lado na mesma hora. Meu coração estava acelerado e minha mão tremendo.
Antes de me julgar, entenda que eu tinha uma queda, ou muito melhor, um abismo por ele desde os meus 13 anos. Claro que eu sempre soube que nunca teria nada com ele, sendo três anos mais nova e ainda por cima a irmãzinha do melhor amigo dele. Mesmo assim eu tinha a ideia maluca de ter meu primeiro beijo com ele. E tive, no meu aniversário de 16 anos. Porém ele estava bêbado e saiu correndo logo depois. O que de maneira alguma significa que minha paixão por ele deixou de existir; muito pelo contrário.
Somente quando um casal louco e extremamente imersos em seus beijos começou a me empurrar muito pra cima dele que eu me senti incomodada de verdade. O garoto e a garota estavam praticamente transando no banco. Eu senti minhas costas encostarem no peitoral dele e meu corpo todo gelou. Jungkook pôs as mãos em meus ombros, me afastando um pouco.
- Acho melhor sairmos daqui caso desejemos permanecer vivos.
Assenti e o segui para longe do bar. Incrivelmente, todo lugar que tentávamos ficar estava lotado de pessoas, impossibilitando qualquer pessoa de ficar ali. Desisti do interior do pub, andando em direção a saída de trás. Chegando do lado de fora, pus as mãos em meus joelhos, ofegante. O ar fresco invadiu meus pulmões, mas foi embora rapidamente quando senti uma mão em minhas costas.
- (s/n), você está bem?
Olhei de relance para ele, em seu rosto uma expressão preocupada.
- Estou. É que não gosto muito de lugares cheios de gente. Além do mais, estava muito quente lá dentro.
Respirei fundo, erguendo-me e observando o garoto sob a luz da lua. Ele ficava ainda mais bonito nessa iluminação. Minhas bochechas estavam começando a corar, por isso olhei para outro lado.
- Tem certeza que está tudo bem?
- Tenho. Estou ótima.
Caminhei até a entrada, mas tropecei em uma pedra, caindo na parede. Ele correu na minha direção para me ajudar. Quando reparei, estávamos a poucos centímetros um do outro. Engoli a seco, sentindo meu corpo tenso.
- Machucou?
- N-não - gaguejei.
- Tá bêbada?
- Definitivamente não. Precisa de muito mais pra me tombar.
Ele riu, ajeitando uma mecha do meu cabelo.
Será que eu estava pirando ou ele realmente estava me olhando com aquela cara? O que saiu da minha boca em seguida foi completamente idiota.
- E você? Tá bêbado?
Ele negou, olhando com seus olhos profundos no fundo dos meus.
- Eu não queria ficar bêbado. Pretendo lembrar dessa noite com todos os detalhes.
- Você costuma esquecer as coisas quando bebe?
- Geralmente não.
Arregalei meus olhos. Isso significava que...
- Então... Você se lembra?
Dessa vez, foram as bochechas dele que coraram.
- Lembro.
- Desculpa por aquilo.
- Não peça desculpas por algo que não foi errado.
Eu não acreditava no que estava escutando.
Minha boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu. Olhei pra vc baixo, diretamente pra clavícula dele. Ele depositou a mão em meu queixo, o levantando na altura dele. Antes de me beijar, um último olhar foi trocado. Os lábios dele eram exatamente como eu me lembrava: macios, experientes e suaves. O beijo em si era muito suave, porém maravilhoso. Eu abri os olhos delicadamente e vi que os dele estavam fechados. Meu interior se contorceu de felicidade, e num momento de ousadia, peguei a mão que estava em meu rosto e a coloquei em meu quadril. Isso pareceu ativar algo nele, que no segundo seguinte me puxou para mais perto, colando o seu corpo quente no meu. Minhas mãos se entranhavam nos cabelos escuros dele, e ele estava gostando, pois quando puxei mais forte, ele sorriu entre o beijo. Ficamos assim por alguns minutos, explorando a boca um do outro, até que um toque de celular começou a irritar meu ouvido. Ele se afastou para atender, mas eu o puxei pelas golas, o impedindo de sair. Jungkook riu, mas se afastou da mesma forma, sua expressão ficando séria quando atendeu o telefone.
- Alô. - A pessoa do outro lado falou algo. - Como assim onde eu estou? Onde você está?!
Mais alguns zumbidos. Reconheci a voz de Jimin do outro lado da linha.
- Estávamos procurando você. Sim, acho que Hyeri já foi embora há uma eternidade.
Jimin falou mais alguma coisa.
- Tá, já estamos indo.
Ele desligou, guardando o celular e se aproximando de mim mais uma vez. Seus lábios continuavam macios, mas infelizmente permaneceram ali durante pouquíssimo tempo.
- Isso vai ser só uma coisa de uma noite, né? - Perguntei pessimista.
Ele me encarou, como se analisasse cada centímetro do meu rosto.
- Se depender de mim, não.

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