Capítulo 26 - Ela

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V.

Minha vida era tranquila, não do tipo sem graça, mas do jeito bom. Aquele em que seu pai é um cara bacana e você ganha todos os privilégios por ser o filho único.

Morávamos em uma pequena cidade da Carolina do sul. Um lugar com três mil habitantes, onde praticamente todo mundo se conhecia, até de mais. Nossa cidade era conhecida por nós habitantes como Novo Mundo, onde se podia acreditar em uma vida melhor. Era como uma cidade programada, parecida com aquelas que a gente sabe ter no Japão, devido aos noticiários.
Tudo era perto de tudo. Não existia muita violência e os comercio que haviam lá eram passados de família para família. Nem mesmo o velho clube, onde todos se reuniam nas sextas a noite, escapava da tradição.

Todas as ruas eram pavimentadas e a nossa cidade fica quase que no meio de um grande vale de flores e arbustos verdes, rodeada pela água do mar em um semicírculo, Novo mundo tinha uma das praias mais tranquilas do litoral da Carolina do Sul. O sol nascia quase que todos os dias, com a mesma intensidade, trazendo aquele calor agradável que fazia boa parte dos habitantes do novo mundo inventarem desculpas, para fazer qualquer coisa, que exigisse um pouco de ar puro.
No centro da cidade, que era onde ficava a maior parte do centro comercial, havia um grande chafariz e a igreja que todos frequentavam aos domingos pela manhã.

Eu particularmente gostava do lugar que sempre chamaria de lar.

Minha escola ficava a menos de quinze minutos da minha casa, o que não me impedia de ir de carro todos os dias de manhã. Até porque não tinha enchido tanto a paciência dos meus pais, para ganhar um carro, e depois caminhar até lá. Não faria sentido algum.

A coisa mais antiga que havia na minha cidade era o prédio da minha escola, que havia pertencido a um grupo de pessoas que colonizaram aquele local. A construção havia servido de convento, na época em que os cavalos davam um duro danado para transportar as pessoas, de um lugar para o outro. O prédio era quase um monumento histórico, tanto que quando o prefeito da cidade fez a restauração no local exigindo que por fora permanecesse igual, assim como nas mesmas cores que a construção original.

As paredes eram tingidas de branco, com fachadas em tom de azul marinho, que só davam espaço para as grandes janelas de vidro que cobriam quase toda à frente. Apesar de ser uma construção antiga o local tinha certo estilo. As portas de metal da entrada estavam sempre abertas e o mais legal da New World High School era que não havia portões ao redor da escola, o que te permitia sempre faltar os períodos de filosofia sem grandes dificuldades.

As salas de aula ficavam no primeiro e segundo andar. Cada uma podendo garantir espaço suficiente para no máximo vinte alunos. Os armários ficavam entre as salas, e o refeitório ocupava quase que toda parte de trás da construção. No terceiro andar ficavam os banheiros principais, o laboratório, as salas de aulas complementares e a biblioteca.

Nos fundos da construção havia local para estacionar os carros, e entre as arvores e o prédio antigo, o diretor tinha construído um prédio novo, já que o antigo ginásio de esportes, que ficava naquele lugar, não tinha mais condições de uso.
A escola era o lugar onde eu passava a maior parte do meu tempo quando não estava ajudando na floricultura do meu pai. A maior da cidade.

Minha mãe e meu pai trabalhavam num turno de dez horas semanais e quatro nos fins de semana. O que me dava bastante tempo livre para ficar de bobeira em casa com os meus amigos. Na maioria das vezes a minha família não era chata. Meus pais nunca brigavam, pelo menos não que eu visse ou percebesse. Na verdade eles pareciam viver em uma eterna lua de mel.
Eles eram tipo aqueles casais de escola grudentos que estão sempre suspirando pelos cantos da sala. Mas eu não ligava, porque eles eram os melhores pais que alguém da minha idade poderia ter, e até imaginar.

2- A Telepata_ IrreversívelWhere stories live. Discover now