Capitulo 8 - Feliz aniversário

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O tempo perdeu completamente o sentido, e tudo parecia parado de alguma maneira. Fui sugada para dentro de um sentimento, uma angustia, até mesmo uma ansiedade, que eu não sabia definir muito bem.
E assim como havia confusão no meu olhar, havia também nos olhos dele. O garoto mal conseguia piscar, mal conseguia se mexer, e foi quase inevitável não transmitir meus pensamentos a ele.

No segundo que a minha voz foi pronunciada, com clareza, na cabeça do garoto, pude ver seus olhos ficarem maiores. Eu diria que até incrédulos, com o que tinha ouvido.
Eu quase podia sentir a sensação, de surpresa, que ele sentia.

De repente ele parecia inseguro, seus olhos já não eram tão focados como antes, e não demorou muito para que ele saísse do meu campo de visão. Me abaixei, com pressa, e peguei o livro que tinha derrubado. Depois contornei a prateleira, a procura do garoto misterioso, que tinha visto segundos atrás.
Mas ele não estava mais lá.
Olhei cada corredor, pessoa e estante, que pudesse me ajudar a encontrar aquele desconhecido, que parecia ter abalado minhas próprias estruturas.
Acabei desistindo depois de cerca de dez minutos, e fui para a fila pagar pelo livro que ainda segurava em minha mão.

Quem era aquele garoto? Eu não fazia ideia.
Só sabia dizer, que nunca tinha sentindo nada como aquilo antes.

Durante todo o caminho para casa, fiquei pensando naqueles olhos, em como eles parecia terrivelmente familiares. E quanto mais pensava, mais tinha certeza que já os tinha visto, assim como tinha certeza que eles eram importantes para mim de alguma maneira.
O jeito que ele me olhava, a forma como ele mordia o lábio descontraidamente, não saia da minha cabeça, nem quando eu fechava os olhos. Mas se era tão profunda aquela sensação, porque eu não conseguia me lembrar de onde o conhecia? Aquela pergunta me atormentou até que a minha cabeça começasse a doer, me obrigando a esquecer o assunto.

Faltava pouco para chegar em casa, quando percebi que a maioria dos postes, encontravam-se com as luzes apagadas. Tornando a noite ainda mais escura do que ela já parecia. Não que eu estivesse com medo do escuro, já tinha superado aquilo de alguma forma, mas de repente comecei a me sentir estranha. Assolada por uma nova sensação de medo, que corria pela minha espinha e se instalava no meu peito.
Era a mesma sensação do cemitério, que estava voltando com força total, me obrigando a correr quando se tornou difícil, até mesmo, respirar outra vez.

Corri o mais rápido que meus pés conseguiram, até que pudesse avistar a minha casa, no meio de todas as outras, que ficavam na minha rua. As luzes estavam todas apagadas, o que queria dizer que não tinha ninguém em casa.
Assim que subi os degraus da porta da frente, estrondosamente, pude jurar ouvir o som de paços vindo atrás de mim, mas não ousei olhar para trás. Estava aterrorizada de mais para pensar na hipótese. Minhas mãos se atrapalharam com as chaves na fechadura, assim como o meu coração parecia bater descompassado, enquanto eu tentava acertar o buraco da chave.
Foi então que eu senti algo segurar uma mexa do meu cabelo, em um gesto casual, e simples, enquanto eu permanecia de costas. Um arrepio ainda maior percorreu minha espinha, quando olhei de rabo de olho para o lado. A única coisa que eu podia ver atrás de mim, era uma enorme mancha negra, suspendendo uma mexa do meu cabelo no ar. Não havia forma, nem consistência, era apenas uma espécie de fumaça estranha.
Lentamente, direcionei meu olhar mais uma vez para a frente, e encaixei a chave na fechadura com agilidade, abrindo a porta e acabando com a ligação estranha que aquela fumaça tinha com o meu corpo. Entrei as pressas, fechando a porta, atrás de mim.
Minha mão logo bateu com força no interruptor da luz, fazendo com que todo o ambiente ficasse claro. Para a minha sorte, tudo parecia perfeitamente normal. Olhei pelas janelas, tendo em mente, que parecia loucura estar procurando por uma fumaça negra, mas ainda sim, tendo certeza do que tinha visto.
Aquilo não poderia ser coisa da minha imaginação, a sensação era real de mais.

2- A Telepata_ IrreversívelWhere stories live. Discover now