Eu sorri cheio de motivação, e corri para tomar banho. Naquele momento nossa loja era apenas três caixas dentro de um galpão, mas no que dependesse de mim, ergueríamos o maior império de surfe que qualquer surfista já conheceu. E eu conhecia a determinação dos meus pais, eles certamente desejavam a mesma coisa.

Quando saí do banho, já vestido em minhas roupas habituais, encontrei meus pais se despedindo de Camille na porta. Mas o clima era outro. Qualquer ânimo no rosto dos dois havia desaparecido.

"Lamento não poder ajudar. Mas vocês são uma família batalhadora, prevejo excelentes parcerias no futuro de vocês."

"Eu agradeço, senhora Camille. Obrigado por seu tempo."

Assim que o pai fechou a porta, o clima tornou-se pesado e sombrio. Eu podia ver no olhar da mãe que algo havia dado muito errado.

"E então?" Arrisquei perguntar.

O pai esfregou a testa e deu um longo suspiro. Ele não parecia capaz de responder, então a mãe afagou meu cabelo, com um sorriso forçado nos lábios.

"Vamos continuar tentando. Teria sido muita sorte conseguirmos parceria na primeira tentativa."

Eu baixei os olhos e rosnei pela frustração. Àquela altura eu já deveria ter me acostumado ao sabor da decepção, mas a verdade é que sempre doía. E doía ainda mais porque, diferente do meu pai, eu reconhecia a nossa situação. Quem raios fecharia acordo com uma família de pobretões à beira da falência total? Nossa loja eram três caixas, aquilo era simplesmente ridículo.

Ainda assim, se herdei algo do meu pai, foi a teimosia.

"Não podemos fazer nada sobre isso?" Perguntei. "Talvez ela mude de ideia. Aquela agência é a maior empresa da cidade, não é?"

"A crise afetou todo mundo." Meu pai enfim afastou-se da porta e jogou-se no sofá. "O melhor modelo do Le Rouge pediu demissão recentemente. Eles não tem condição de firmar parcerias no momento."

Eu odiei ver a frustração no rosto dos meus pais. A mãe parecia animada pela primeira vez em tanto tempo, simplesmente não era justo. Aquela velha do perfume caro devia gastar mais no café da tarde do que conseguiríamos em um mês de vendas.

"Essa loja é a primeira ideia normal que já tivemos. Não dá pra desistir. Podemos conseguir outro modelo pra eles e..."

Percebendo-me prestes a chorar, a mãe me abraçou apertado, afundando meu rosto em seu vestido de chitão bege.

"Esquece, filho. Vamos começar do chão. Amanhã nós três venderemos na praia, não vai ser divertido? Quase nunca passeamos por aqueles lados da cidade, e podemos ir em família."

Meu pai deu uma risadinha triste.

"É o que pode ser feito. Onde conseguiríamos outro fisiculturista?"

Eu arregalei meus olhos.

"Fisiculturista?" Perguntei

"É, aqueles caras com músculos gigantes. O modelo que se demitiu era um fisiculturista. O Le Rouge precisa de outro, e esses caras são muito raros."

Eu dei um leve sorriso, sentindo voltar uma minúscula faísca de esperança.

Um fisiculturista. Eu sabia exatamente onde procurar.

****

Eu poderia ter conversado com Jones em sua loja, claro. Mas no ramo dos negócios era preciso ter cérebro, e portanto passei os últimos dias planejando como convencê-lo. Parecia simples. Se Jones aceitasse o emprego no Le Rouge nós fecharíamos a única loja concorrente, e ainda conseguiríamos nossa primeira parceria, em um só golpe.

O Preço da Adoração (AMOSTRA)Where stories live. Discover now