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Por favor, alguém me mate. Eu repetia essa frase internamente, enfrentando o maior vexame que já passei na minha vida.

Eu afastei os tentáculos rosa na frente dos olhos e tentei desaparecer atrás da minha caixa de produtos, mas os gritos do meu pai arruinavam qualquer chance de passar despercebido.

"Surfe Somos Nós, a mais nova loja de Orla das Sereias! Equipamentos de surfe para todas as idades, venham conhecer!" Bravou meu pai, agitando um sininho e balançando seu chapéu de polvo igual ao meu, só que laranja.

Por onde passávamos, vários turistas em roupas caras e óculos de sol importado torciam o rosto em desdém, incomodados com a barulheira naquela praia tranquila. Pelo menos eles não fugiam como se eu fosse um bandido, mas até então não tivemos um único cliente.

Eu só rezava, com toda a minha pouca fé, que nenhum conhecido me encontrasse.

"Ânimo, Michel, tem que gritar também, olha quanta gente jovem, eles não vão vir com esse velho chato aqui." Meu pai me acotovelou, divertindo-se como se estivéssemos num parque de diversões. "Assim que vendermos algo, podemos comemorar comendo um milho, o que acha? Pergunta para aquele cara lá onde ele comprou."

Sentindo o sangue gelar, eu me virei para onde meu pai apontava. Droga, tudo menos o Jones, ele contaria tudo ao Grande Alisson.

Não, o cara comendo milho não era o Jones. Era alguém muito, muito pior. E ele logo me viu e veio na nossa direção, com um sorriso animado e lindo em seus lábios rosa-carne.

Grande Alisson. Por que justamente ele? Eu queria correr, me jogar no mar e ser levado pelas ondas.

"Oi, Alis." Sussurrei, tentando esconder o corpo atrás do pai, mas aquela placa era simplesmente grande demais. Isso sem falar no chapéu.

Alisson cravou sua prancha na areia e limpou a manteiga do milho na bermuda, para então apertar a mão do meu pai.

"E aí , Michel. Chapéu maneiro." Eu não sabia se ele falava com sarcasmo, mas ouvir meu nome sair de seus lábios compensou parte do constrangimento. "Oi, e aí, tu é pai dele né? Como tá?"

"É um prazer conhecer um amigo do meu filho. Meu nome é Morgan Goldapfel e nós..."

Meu pai apertou a mão do Alisson tranquilamente, e então, como se tomasse um choque, ele recolheu a mão e o olhou como se visse um fantasma.

"Ai, meu Deus. Eu te vi na televisão. Você é Alisson Dolinsky?" Perguntou ele, quase derrubando sua caixa na areia.

Socorro. Eu sentia que logo me ferraria de verdade, ainda assim mal conseguia respirar ou reagir. A memória daquela noite voltou fresca para a minha mente. Eu podia sentir o gosto do Grande Alisson na minha garganta, e meus mamilos se arrepiaram como se desesperados por mais lambidinhas.

Pensando bem, era ótimo vestir aquela placa enorme e ridícula, porque eu endureci como uma tora, e não fazia idéia de como me controlar. Mesmo que ele conversasse casualmente com o meu pai, a voz do Grande Alisson era quase uma hipnose. Eu queria ouví-lo gemer de novo, e ofegar quente contra a minha pele.

"Surfe Somos Nós?" Ele perguntou, e só então notei que eu mesmo deixei cair minha caixa. "Pensei que fosse ensaio de carnaval, mas tão abrindo uma loja? Que da hora."

"Sim, vamos abrir em breve. Gostaria de comprar alguma coisa?" Meu pai inclinou a caixa, mostrando nossos produtos novinhos.

Droga, que vergonha. Tanto eu tentei parecer legal, e lá estava eu, vendendo tranqueiras na beira da praia com o meu pai. Era como estar naqueles pesadelos em que se aparece na escola sem as calças, só que muito pior.

O Preço da Adoração (AMOSTRA)Where stories live. Discover now