23

114 2 0
                                    

— E cidades? E rios? E desertos?

— Também não sei — disse o geógrafo.

— Mas o senhor é um geógrafo!

— É verdade, porém não sou um explorador. Tenho total falta de exploradores. Não é o geógrafo quem faz a contagem das cidades, dos rios, das montanhas, dos mares, dos oceanos e dos desertos. Um geógrafo é alguém importante demais para flanar por aí. Ele nunca deixa o seu escritório. Mas nele recebe os exploradores. Ele os interroga e toma nota dos seus relatos. E, quando algum relato parece interessante, o geógrafo manda investigar a ética do explorador.

— Por que isso?

— Porque um explorador mentiroso provocaria um desastre nos livros de geografia. Assim como um explorador bêbado.

— Por quê?

— Porque os bêbados veem tudo duplicado. Então o geógrafo registraria duas montanhas no lugar onde existem uma só.

— Conheci um homem que seria um mau explorador.

— É bem possível. Assim, só quando a ética do explorador é comprovada fazemos uma pesquisa sobre a sua descoberta.

— E vão ao local confirmar?

— Não. Isso seria muito complicado. Mas exigimos que o explorador apresente provas. Quando, por exemplo, se trata da descoberta de uma grande montanha, exigimos que ele apresente pedras grandes.

De repente, o geógrafo se entusiasmou:

— Mas você vem de longe! Você é um explorador! Então vai me descrever o seu planeta!

E, depois de abrir seu caderno, em meio a vários mapas, o geógrafo apontou o lápis. Primeiro, um geógrafo anota a lápis os relatos dos exploradores. Antes de passá-los à tinta, espera que o explorador forneça provas.

— E então? — perguntou o geógrafo.

— Ah, no meu planeta onde moro, tudo é muito pequeno. Tenho três vulcões. Dois em atividade e eu extinto. Mas nunca se sabe.

— Nunca se sabe — disse o geógrafo.

— Tenho também uma flor.

— Não registramos flores — disse o geógrafo.

— Mas por quê? É o mais bonito!

— Porque flores são efêmeras.

— O que quer dizer "efêmera"?

— Os livros de geografia são os mais sérios de todos os livros. Nunca saem de moda. É muito raro que uma montanha mude de lugar. Ou que um oceano se esvazie de sua água. Nós escrevemos sobre coisas eternas.

O Pequeno Príncipe Onde as histórias ganham vida. Descobre agora