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       — É que podem vir os tigres, com suas garras!
       — Não há tigres no meu planeta — respondeu o pequeno príncipe. — Além do mais, os tigres não comem plantas.
       — Não sou uma planta — respondeu a flor calmamente.
       — Desculpe...
       — Não tenho nenhum medo de tigres, mas tenho horror às correntes de ar. Você não teria por acaso um para-vento?
       "Horror às correntes de ar... Não é bom sinal para uma planta", pensou o pequeno príncipe. "Esta flor é bem complicada..."
       — À noite, você porá sob uma redoma de vidro. Faz muito frio neste seu planeta. É muito mal localizado. Lá, de onde venho...
       Mas ela não continuou. Afinal, tinha vindo em forma de semente. Não podia conhecer outros mundos. Envergonhada por se deixar surpreender numa mentira tão tola, tossiu duas ou três vezes, para fazer o pequeno príncipe sentir-se culpado, e perguntou:
       — E o para-vento?
       — Eu estava indo buscar, mas você continuou falando!
       Então ela fingiu tossir, para que ele sentisse um pouco de remorso.
       Assim, apesar do amor que sentia, o principezinho logo passou a desconfiar dela. Levava a sério palavras sem importância, e isso o estava deixando muito infeliz.
       — Eu não devia tê-la escutado — confessou um dia. — Não se deve nunca escutar as flores. Deve-se apenas conteplá-las, e sentir o seu perfume. A minha perfumava todo o planeta, mas eu não sabia me contentar com isso. Aquela história das garras, que tanto me irritou, deveria ter me enternecido...
       E ele disse ainda:
       — Eu não soube compreender nada! Devia ter levado em conta seus atos, e não suas palavras. Ela me perfumava e me encantava. Eu nunca deveria ter ido embora! Deveria ter percebido a ternura que havia por trás de suas pobres espertezas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era muito jovem para saber amá-la.

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