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Precisei, assim, escolher outra profissão, e fui aprender a pilotar aviões. Voei por quase todos os lugares do mundo. E a geografia, é verdade, me ajudou muito. Só de olhar eu sabia reconhecer o Arizona, nos Estados Unidos, ou a China. O que é muito útil se nos perdemos durante a noite.
Tive na vida montes de contatos com montes de pessoas sérias. Convivi bastante com os adultos. E os conheci bem de perto. Minha opinião sobre eles não melhorou muito.
Quando eu encontrava um adulto que parecia ser gente boa, eu fazia com ele o teste daquele meu desenho da jiboia fechada, que sempre levava comigo. Queria ver se aquela pessoa compreendia mesmo as coisas. Mas, com ela e com muitos outros, a resposta era a mesma: "É um chapéu". Então, eu não conversava sobre jiboias, florestas virgens nem estrelas. Falava sobre esportes, política ou roupas. E aquele adulto ficava contente por encontrar uma pessoa tão sensata.

🌹🌹🌹

Passei a viver meio sozinho, sem ninguém com quem conversar de verdade. Até que, há seis anos, o meu avião sofreu uma pane, em pleno deserto do Saara. Tive de pousar. Alguma coisa tinha quebrado no motor. E como eu não levava ninguém comigo, me preparei para fazer sozinho aquele conserto complicado. Era uma questão de vida ou morte. A água que tinha para beber dava só para oito dias.
Na primeira noite, adormeci na areia. Eu estava a mais de mil quilômetros de qualquer lugar povoado. Mais isolado que um náufrago numa jangada no meio do mar. Vocês podem imaginar a minha surpresa quando, bem cedo, uma vozinha engraçada me acordou, dizendo:
— Por favor... desenhe para mim um carneiro!
— O quê?
— Desenhe para mim um carneiro...
Levantei num pulo, muito espantado. Esfreguei bem os olhos para enxergar melhor. E vi um rapazinho totalmente fora do comum, que me olhava muito sério. Guardei para vocês o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele. Mas, claro, meu desenho é muito menos charmoso que o modelo. Não é culpa minha. Vale lembrar que os adultos me fizeram desistir de ser pintor quando eu tinha seis anos, e depois daquelas jiboias não aprendi a desenhar mais nada.

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