- Sim, sempre fui assim. É a genética sabe - ele falou e bufou - claro que sabe, afinal, mencionou meu pai. 

- Não deveria querer ser igual a ele - murmurei - deveria tentar ser alguém diferente. Deveria casar-se, ter filhos, ser alguém na vida que não fosse um homem que vive no mar e furta pessoas. 

- Esse sou eu, conforme-se - jogou a cabeça para trás e fechou os olhos - e não vai ser por uma mulher que eu vou largar essa vida. Casar? Para quê? 

- Para ter alguém que cuide de ti, que se importe - bradei. Não sabia o porquê de estar tão chateada com isso, não precisava me importar com isso, nem com ele. 

- Se você tem uma mulher na sua cama e uma para arrumar a casa, não é necessário casar.

- Você é um cretino - não vi a hora em que as palavras escaparam dos meus lábios, ódio e decepção as embargavam - um grande bastardo filho da mãe.

Virei-me em direção à porta e quando minha mão estava na maçaneta, ouvi sua voz.

- Espere - olhei em sua direção, encontrando seus belos olhos azuis em mim - solte-me - ele não estava pedindo e aquilo me deixou com ainda mais raiva.

- Se vira e solte-se sozinho - falei e sai batendo o pé.

O vento frio que soprou em minha direção fez com que eu me arrepiasse toda e envolvesse meus braços ao meu redor. Me aproximei da borda da embarcação, observando o horizonte, a movimentação furiosa da imensidão azul, suas ondas batendo no navio e voltando com uma violência ameaçadora. 

- Poseidon, pareces um tanto agitado - comentei baixo.

- Conversando sozinha? - perguntaram atrás de mim, dando-me um susto que quase me fez cair no objeto de minha admiração. 

- Não faça mais isso, assustou-me como o inferno, Stefan - reclamei, minha mão sobre meu coração acelerado. 

- Me perdoe - disse sorrindo e ficou ao meu lado - mas o que está fazendo a essa hora? Alias, o que está fazendo aqui? Achei que tínhamos te deixado em casa.

- Achou? - perguntei, inocentemente.

- Na verdade, eu tenho quase certeza.

- Sabe que eu não conseguiria ficar por lá - comentei, dando de ombros.

- Sim, eu estava esperando vê-la novamente em breve, apenas não pensei que fosse tão logo. 

- E respondendo sua outra pergunta, estava escondida na cabine de William, achando que ele ficaria na cabine do capitão como sempre faz e...

- Ele a encontrou lá - Stefan adivinhou.

- Não exatamente. Eu estava um pouco animadinha e o encontrei. - mordi o lábio - Enfim, eu estava bêbada, o amarrei na cama e trocamos palavras ofensivas. Agora estou aqui.

- Você o quê? - perguntou com os olhos arregalados.

- Não é o que pensa, eu... 

- Você o quê? - repetiu.

- O amarrei na cama, apenas para mostrar-lhe que nem sempre está no comando de tudo - me justifiquei - ele havia me tomado a garrafa de bebida, poxa. 

- Tiro o meu chapéu para você, garota, é corajosa. 

- Obrigada - falei, totalmente sem graça. 

- Mas sabe que ele não deixará isso passar barato, não é?

- Sei sim - suspirei, pesarosa.

- Apesar de gostar de ti - ele acrescentou.

- Não acredito que esse seja o caso - lembrei-me de suas palavras, tristeza e raiva embargavam minha voz - ele é um homem muito insensível, não sabe o que é amar alguém. Imagina como seria uma vida com ele. E eu lhe respondo, caso esteja pensando no assunto, seria atroz conviver como um ser como ele. 

Porém, parar para pensar como seria viver o resto da minha vida com William não parecia ser tão ruim, aliás, nada ruim. Passou pela minha mente ser a pessoa escolhida por ele, ter seus beijos apenas para mim, seu perfeitamente belo corpo nu envolvendo apenas o meu. Entretanto, era algo que estava fora de cogitação. 

- Não acha que está sendo muito dura? - Stefan interrogou, lembrando-me de sua presença. 

- Não, ele me deixou isso bem claro - falei, friamente.

- William nunca foi o mais simpático dos homens...

- Nem de perto - resmunguei.

- Sempre falou tudo o que tinha que falar, nunca demonstra suas verdadeiras emoções, sempre escondido embaixo de uma máscara de gelo...

- E faz isso muito bem, se é uma máscara - o interrompi novamente. 

- Mas com você, ele apenas está querendo manter a pose. 

- Não acredito nisso - bocejei - acho que vou dormir, ou pelo menos tentar. Vejo você amanhã, Stef. 

- Até amanhã - respondeu com um sorriso amigável. 

- Ah, e por favor, solte seu capitão depois, tudo bem? 

- Pode deixar - nós dois rimos e fui para a cabine do capitão. 

Estava escuro lá dentro, então apenas joguei meus sapatos para longe e antes que eu pudesse me deitar, fui agarrada, meus braços dolorosamente envolvidos em minhas costas e uma mão tapava minha boca. A luz foi ligada e um ser desconhecido surgiu na minha frente.

- Ora, ora, viemos para pegar um pirata e ganhamos uma bela dama - disse, sorrindo lascivamente - então você deve ser o novo romance de William.

O homem que estava parado na minha frente usava roupas bem estranhas mas não poderia ser classificado como feio. Tinha a pele bronzeada, os cabelos castanhos amarrados em um rabo de cavalo até a altura dos ombros, os olhos tinha o mesmo tom e possuía um sorriso nefasto. Entretanto, o que me segurava dolorosamente... nunca vi mais horrendo. 

- Quem são vocês? - perguntei quando o homenzarrão tirou a mão da minha boca, mas continuou forçando minhas mãos em minhas costas.

- Vamos dizer que William tem uma dívida conosco e queremos quita-la - disse o moreno andando de um lado para o outro vagarosamente, na minha frente - estávamos pensando em leva-lo, mas... - olhou para mim e colocou a mão no queixo, como se estivesse pensando em uma solução para seu problema. Como se uma lâmpada imaginária brilhasse sobre sua cabeça, seu rosto iluminou-se e um sorriso desagradável serpenteou em seus lábios - ...levar você para atrai-lo será mais divertido. 

Engoli em seco. Como é? Eu não ia ser levada para lugar algum com esse moreno e o esquisitão aqui atrás.

- Me levará apenas morta - jogando minha perna para trás, chutei o saco do miserável atrás de mim, que soltou um pouco seu aperto enquanto gemia pela dor. Porém, não me soltou.

- Ora querida, deixar meu marujo impotente não irá mudar a sua situação - falou e logo ficou sério - E se você estiver viva será melhor, mas se tivermos que mata-la, que seja. 

Um nó formou-se em minha garganta e engolir resultava difícil. 

- Pode leva-la - e do jeito que eu estava, em uma regata e um short de algodão, descalça, fui arrastada para fora, a mão em minha boca havia voltado. 

Comecei a lutar com ele, me balançando e fincando o calcanhar no chão de madeira, mas fiquei quieta quando dei de cara com um navio enorme na frente do que estávamos. Como não havíamos notado algo tão grande ao nosso redor? Uma ponte desceu e conectou-se com o nosso. Lutei novamente, precisava escapar. 

- Segure ela - o moreno gritou para o grandalhão atrás de mim.

Então, mais do que depressa ele me jogou sobre o ombro e caminhou pela ponte, porém eu continuava a esmurra-lo e pedir para que me soltasse. Já estávamos no outro navio e a ponte havia sido removida, quando vi Stefan surgir assoviando e uma faca na mão.

- Stefan - gritei o mais alto que consegui, sua cabeça virou-se rapidamente e seus olhos ficaram amplos quando me encontrou. Eu estava apavorada e realmente ferrada.


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