Capítulo 24: A Súplica dos mortos-vivos | Parte: 1

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Cheguei na casa principal completamente sem fôlego. Uma caminhada rápida de cinco minutos separava uma casa da outra. Fui até o depósito pegar algumas ferramentas para arrombar a porta do casebre e encontrei Águia manobrando o ônibus. Tonho aguardava, ansioso, para embarcar. Lobo Selvagem estava com ele. Me enchi de coragem e caminhei em sua direção. A casa poderia esperar, ela não sairia de lá.

- Lobo, será que podemos conversar? - perguntei ao segurá-lo pelo braço.

Ele olhou rudemente para o meu toque, o que me fez soltá-lo na mesma hora.

- Agora não dá. Tô saindo. Talvez mais tarde. - ele respondeu e seguiu para o ônibus.

- Certo... Tome cuidado lá na cidade. - eu disse, mas ele pareceu não me ouvir.

Voltei ao meu objetivo. Girei a maçaneta do depósito, mas estava trancada. Provavelmente a chave estava no chaveiro de Benny, o mesmo que Águia jogara para Pente Fino na noite anterior para que ela abrisse a porta da enfermaria. Droga. Contornei a casa e entrei pela porta lateral da cozinha. Mamba Negra, Ian e Ariana estavam preparando seus desjejuns. Meu irmão não estava mais presente. Cumprimentei quem eu ainda não havia cumprimentado e saí pela porta vai-e-vem. Fui até a enfermaria e entrei sem bater. Íris estava ao lado de Benny, acariciando seu rosto. Ela me olhou dos pés a cabeça com desprezo. Pente Fino não estava com eles.

- Você não deveria estar aqui. - ela disse antes que eu pudesse sair e fechar a porta atrás de mim.

- Eu já estou saindo. - respondi sem muito interesse.

- Não digo aqui e agora, mas sim nesta casa. Nenhum de vocês deveria estar aqui. Tudo o que ele faz é para proteger a todo mundo. Ele não tem essa obrigação. Se não fosse por essa gentinha colocando ideias na cabeça dele, ele não teria se ferido.

- Ele não é influenciável, você deve saber muito bem disso. Então não coloque a culpa na gente.

- Eu o conheço perfeitamente, lembra? Sei bem do que ele é capaz de fazer quando precisa ou quer proteger alguém...

Minha antipatia por aquela mulher crescia conforme eu via o quanto ela conhecia Benny melhor do que eu.

- Você deveria tomar conta da sua vida e não ficar vindo aqui a toda hora. Vá arrumar o que fazer, talvez ficar com aquela orfãzinha que você chama de filha ou com os seus amigos pé rapados. O Benny não precisa de vocês, muito menos de você. Ele tem a mim.

Cerrei os punhos e contei mentalmente até sessenta. Entreabri a porta e me virei novamente na direção dela.

- Só sairei se ele não me quiser mais aqui, caso contrário, voltarei sempre que eu sentir vontade.

- Se voltar aqui irá se arrepender amargamente.

- Não tenho medo das suas ameaças.

- Quem disse que foi uma ameaça, querida? Estou só constatando o óbvio. O Benny é meu e nenhuma franguinha irá rouba-lo de mim.

Bati a porta atrás de mim. Estava cansada de ouvir aquela voz de gralha engasgada e mais cansada ainda de ouvir o que ela tinha a dizer. Subi a escada bifurcada e entrei no meu quarto. Lavei as mãos meladas de manga e troquei a blusa respingada daquela fruta suculenta. Eu tinha uma lista de coisas para fazer naquele dia e precisava começar a fazê-las o quanto antes. Abri a porta do quarto e Pente Fino estava com a mão erguida, prestes a bater.

- Ah, oi. - Pente Fino disse.

- Oi, Tefi. Tava mesmo querendo falar com você. Entra.

Pente Fino estava com seus cabelos soltos, fazendo aqueles fios vermelhos repousarem serenamente em suas costas. Ela havia retirado os piercings das sobrancelhas e o do lábio inferior, deixando somente o do nariz.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora