Roberto

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- Alô. - Roberto disse ao atender o telefone.

- Eu a matei. Eu a matei. Eu a matei. - Uma mulher do outro lado da linha dizia a frase repetidamente.

- Elen, é você? - Ele perguntou ao olhar o número no identificador de chamadas.

- Eu a matei... - A mulher disse mais uma vez e fez uma longa pausa.

- Alô. Você ainda está aí?

Roberto conseguia ouvir a respiração pesada da mulher, mas não sabia ao certo como ela estava.

- Elen?

A ligação foi interrompida. O som de linha telefônica desocupada foi ouvido. Mil pensamentos surgiram na cabeça de Roberto. 90% deles confirmavam que sua ex-mulher havia enlouquecido de vez. Seu rádio relógio marcava 3:14 da manhã. Ela normalmente não ligaria para ele nem mesmo se a filha que ambos tiveram juntos estivesse no leito de morte. Eles haviam passado por um divórcio longo e exaustivo. Elen ficara com a casa e com a guarda da filha Maria Luíza, de 15 anos. Roberto abriu mão de seu direito sobre a residência para que sua ex e a filha tivessem onde morar. Elen não exercia atividade remunerada há muitos anos e ele não queria colocar ambas para fora do que um dia foi um lar feliz e amoroso.

Tentou novamente falar com Elen. Ligou para sua casa e ligação chamou até cair. Cinco vezes. Aquilo o preocupou. Com um impulso, levantou de sua cama, agarrou o primeiro par de calças que encontrou jogada ao chão e se vestiu, incrementando com uma camiseta de algodão, uma jaqueta de couro - com o desenho de uma imponente águia nas costas - e calçou os tênis surrados.

Procurou a chave do carro por toda a quitinete e a encontrou no meio de pilhas de jornais e garrafas de cervejas amontoados em cima de uma mesa na cozinha. Girou a chave na ignição e instantaneamente o motor soou alto e em bom som. Acelerou até a Rua Cândido Silvério, do outro lado da cidade, Patrocínio Roxo, chegando lá menos de dez minutos depois.

Carros do bombeiro, da polícia militar e ambulância passaram zunindo com suas sirenes enlouquecidas pelo carro de Roberto. ''Onde é o incêndio dessa vez? Bando de maluco.'', pensou ele ao parar o carro em frente a sua antiga casa. Desceu do veículo e observou a vizinhança. Tudo muito quieto. Nem mesmo a famosa dona Maria - a vizinha alcoviteira que sabia da vida de todos da rua - estava butucando a vida alheia da janela da sala de estar de sua casa. Aquela mulher parecia que não dormia nunca, pois sempre sabia o que estava acontecendo na casa de seus vizinhos, independente do horário. E aquele tanto de sirene alardeada na redondeza com certeza seria motivo de interesse para ela.

Cachorros latiam insistentes nos arredores, como se algo os perturbasse. Aquele cenário estava estranho demais para o normal. Aproximou-se do portão da casa e bateu repetidas vezes sem obter resposta. Como ainda tinha a chave, ele o abriu. Elen o proibira de adentrar a casa sem sua permissão e já havia ameaçado trocar as fechaduras se ele insistisse naquele mau hábito. O que ela não havia feito. Ainda. Aquela não era mais sua casa e sua chegada tinha que ser anunciada com antecedência.

Roberto deixou as formalidades de lado e abriu o maldito portão, dirigindo-se à porta de entrada da casa, fazendo o mesmo. Abrindo-a. Já que sua ex-mulher havia quebrado o protocolo e ligado para ele, - diga-se de passagem, às três horas da manhã - ele também quebraria alguns protocolos ali. Mesmo que depois ele levasse vários xingos e fosse ameaçado de ser levado à justiça por perseguir sua ex-mulher e sua filha. Ele precisava ter a certeza que tudo estava bem e que nada havia acontecido com elas.

- Elen. - Roberto gritou ao entreabrir a porta. - Estou entrando.

Ele andava cauteloso pela casa. Vários cômodos estavam com as luzes acesas.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now