Entro no quarto antes que ela me jogue outra almofada e arrumo minha roupa de dormir para ir tomar banho.

  Espero que essa noite eu tenha um sonho normal e não um em que estou transando com meu chefe. Não aguento mais ter esses sonhos com ele. Nunca sonhei com ninguém que fico, muito menos com quem nunca sequer dei um beijo. Mas agora meu inconsciente deu de sonhar com o cara mais gostoso que já vi — e já vi muitos.

  Durmo e, infelizmente, não sonho com ele. Ok. Sei que disse que não aguento mais sonhar com ele, mas tenho que confessar que os sonhos são sempre muito bons. E eu sempre acordo molhada.

  Me levanto e me arrumo para ir trabalhar. Amanhã é véspera de Ano Novo e a loja vai ficar aberta até às nove da noite. Não sei o que as pessoas têm com o Ano Novo, mais ainda com o visual de Ano Novo, mas elas sempre resolvem comprar a roupa que vão usar na virada em cima da hora, o que gera um lucro tremendo para as lojas e um cansaço enorme para os funcionários, que têm que trabalhar igual a escravos até tarde da noite.

  — Você vai trabalhar hoje? — Natália pergunta quando sai do quarto de dá de cara comigo tomando café. — Não sei se você sabe, mas você está um pouco atrasada.

  Termino de tomar o achocolatado que preparei. — Vou entrar meio dia hoje, Nat. — informo.

  Ela dá uma olhadinha pro relógio de parede para o qual estou de costas. — Acho melhor você se apressar, porque falta vinte para meio dia e o trânsito está uma confusão. — fala.

  Levanto da cadeira num pulo e olho para o relógio. Cecete. — Que droga! — praguejo. — Vou chegar tarde, Nat. A loja provavelmente vai estar um inferno hoje. — digo, correndo até o banheiro para escovar os dentes.

  Ela pega uma maçã na fruteira e dá uma mordida. — Quer que eu lave alguma roupa sua? Vou ficar em casa o dia inteiro, posso fazer isso. — diz parando perto da porta.

  Cuspo na pia. — Tem uma bolsa com umas blusas em cima da minha cama. Se você puder lavar eu vou ser eternamente grata. — digo, enxaguando a boca.

  — Ok. Eu lavo pra você. — fala e sorri.

  Seco a boca e vou até ela e dou um beijo no seu rosto. — Nat, eu te amo. — digo, saindo andando até a sala. — Sério. — falo, pegando a minha bolsa no sofá e indo em direção à porta.

  — Também te amo, Mari. Mas ia amar mais se você tivesse mais juízo. — fala.

  — Beijinho, Nat! — falo, saindo e fechando a porta para que ela não comece o discurso que minha mãe faria.

  Por favor, eu tenho juízo. Sempre uso camisinha, até mesmo no sexo oral. Ok. Às vezes no oral. Tem vezes que gosto de, digamos, ter contato com o pau da pessoa que eu estou chupando.

  O ônibus está lotado. Fico em pé agarrada a um dos ferros feito uma barata encurralada na parede. Me sinto esmagada feito uma sardinha enlatada e tem um cara fedendo do meu lado. O cheiro de suor está insuportável e acho que a moça que está sentada percebe — ou sente — e abre a janela, o que alivia o odor um pouco.

  Chego no shopping meio dia e quatro e quando consigo chegar na loja já são meio dia e dez. Dez minutos atrasada. Merda.

  Meu chefe não fica muito na loja, mas ele não é um dos maiores fãs das pessoas que se atrasam. Para foder com tudo de uma vez e piorar a situação, ele está na loja. Justamente hoje que me atrasei. Merda, merda.

  Corro até a área de funcionários e guardo a minha bolsa. Quando volto, dou de cara com ele.

  — Bom dia! — cumprimenta.

  Tento não encarar seus olhos verdes e nem olhar para seu cabelo preto que faz com que minha mão tenha vontade de agarrá-lo.

  — Bom dia! — digo após alguns segundos.

  — Atrasada? — pergunta levantando uma das sobrancelhas.

  Cacete. Ele fica ainda mais sexy com uma das sobrancelhas levantada.

  Umedeço os lábios tentando conter o nervosismo que estou sentindo — tanto por ter chegado atrasada, quanto pelo modo como sua presença me afeta.

  — Sinto muito. O ônibus estava muito cheio e acabou atrasando. — minto, tentando me explicar.

  Ele levanta uma das mãos. — Todos sabem como fica o trânsito nessas épocas de festa. Se quisesse chegar no horário, sairia mais cedo de casa. — diz em um tom nada amigável.

  Ok. Ele está me dando uma bronca por que cheguei dez minutos atrasada? Puta que pariu.

  — O senhor está certo. Desculpe. Não vai acontecer novamente. — digo, abaixando a cabeça.

  Não sou de abaixar a cabeça para ninguém, mas ele é meu chefe e, por mais que eu odeie admitir, ele está certo. Eu poderia ter saído mais cedo de casa, mas não aguentei porque cheguei tarde.

  Levanto a cabeça e vejo que ele está me encarando. Seus olhos verdes estão fixos no meu rosto e uma pequena ruga é visível no meio de sua testa devido ao olhar tão... penetrante que ele está me dando.

  — Espero que não. — diz e sorri, não parecendo nada com o cara que falou ríspido comigo há alguns minutos. Será que ele sofre algum tipo de bipolaridade ou ele está apenas sendo simpático por que percebeu que pareci um cachorrinho com o rabo entre as pernas quando falou comigo?

  Ele chega para o lado e me dá passagem. Vou andando para o meio da loja, sentindo um pouco de calor que não estava sentindo anteriormente.

  Dou uma olhadinha discreta para trás quando paro perto de uma das araras de roupa e vejo que ele está me olhando. Viro rapidamente e cumprimento uma cliente que chega.

  Enquanto acompanho a cliente, segurando alguns cabides de roupas que ela quer experimentar, olho ao redor em busca dele. Ele está no caixa agora. A mulher que está pagando está com um enorme sorriso no rosto ao observá-lo passar o cartão dela na máquina. Que estúpida! Será que todas as mulheres ficam assim ou acuadas como eu quando estão perto dele?

  — Vou experimentar essas. — a cliente, uma mulher com cara de trinta e poucos anos, fala, indo em direção aos trocadores.

  Acompanho-a e espero do lado de fora para “dar uma opinião”, segundo ela.

  Enquanto ela está lá dentro espero do lado de fora, olhando as vendedoras e as clientes que estão olhando as diversas roupas. Ele continua lá no caixa, mas agora está sozinho. E está me olhando. Ai,Deus! Ele está tão sexy com uma blusa azul clara e uma calça jeans. E está me olhando. Já falei isso, né? Mas ele continua me olhando.

  Ele tem um olhar tão profundo. Acho que se existisse aquelas coisas de vampiros, hipnose e tal, ele com toda certeza conseguiria hipnotizar alguém sem esforço algum. Por mais que eu ache que ele já faça isso.

  Ao invés de virar e dar as costas para ele, cruzo os braços e encaro-o para ver se ele para de me olhar. Que merda! Ele quase nunca está aqui e quando está fica me olhando. Eu não ia ligar se estivéssemos em uma balada e um gato como ele estivesse me olhando, até iria pra cima. Mas aqui? Aqui é meu trabalho e... ele é meu chefe! E não sei nada sobre ele. Vai que ele é casado, tem filhos, cachorro e essas coisas tolas. Gosto de caras gostosos, mas não de gostosos casados.

  Ele sustenta o meu olhar e por longos segundos até que a cliente me chama e antes que eu me vire, ele dá um sorrisinho de canto totalmente sexy e desvia o olhar para o computador à sua frente.

  É coisa da minha mente pervertida que tem sonhos eróticos com ele, ou ele estava realmente flertando comigo? 

Meu chefe dominador (Degustação)Where stories live. Discover now