Minha estúpida coragem

Capítulo 45

Durante o jantar no restaurante, mais risadas e mais coisas a serem compartilhadas, mas eu não me sinto bem à vontade com todos eles. Estou de vela para dois casais, que saco! Fico calada durante as conversas, só confirmo algumas coisas que eles falam.
A mesa que Érodys escolheu fica perto da entrada do restaurante e é bem fresco, podemos ver o trânsito lá fora e a noite resplandecente. Eu sabia que não era uma boa ideia vir com eles, estou me sentindo sozinha, até Yany meio que me deixou para lá - tipo fora da conversa. Que ódio! Me levanto para ir ao banheiro. Quando olho para o meu reflexo no espelho, vejo, no fundo dos meus olhos, uma garota triste que precisa de algo que a complete. Eu não me sinto bem, droga.
- Ai, meu Deus - resmungo para mim mesma.
Agora sei do que preciso. Leonel. Eu preciso dele, urgentemente. Como posso ser feliz assim? Quando essa droga de sacrifício vai acabar? Não consigo ser forte o suficiente para aguentar a ausência dele. EU PRECISO DESSE HOMEM! Cadê você, Leonel? Eu me perco nas lágrimas que escorrem pelo meu rosto, para que ninguém me note, me encolho atrás da porta de um banheiro feminino. Agarro os joelhos até o queixo e choro entre soluços.
Ouço batidas de bota vindo em minha direção. Não, porra, fique onde está. Uma garota toda de preto - me refiro ao look todo - põe a cabeça atrás da porta e me vê.
- Ei - ela chama.
- Me deixe em paz, por favor.
Ela é impertinente neste momento e também petulante ao escancarar a porta do banheiro e sentar na tampa da privada à minha frente. Enxugo as lágrimas e olho para ela, arregalo os olhos ao ver que a garota é cheia de tatuagens no corpo, piercing no nariz, nas sobrancelhas e no lábio. Ela parece roqueira, até dá medo com essas lentes vermelhas e esse cabelo azul. Credo!
- Fala aí, boneca, que que tá pegando?
- Nada.
- Como nada? Ninguém chora por nada, pô. Conta aí. Isso é coisa de macho, não é, não?
Nossa, ela fala muita gira.
- Eu...
- Pode contar, confie em mim.
Agora a voz dela ficou suave que me deixou mais relaxada, e faz tempo que não desabofo com alguém sobre Leonel.
- Eu amo um cara e não posso ficar com ele.
- Por quê?
- Ele sofre de transtorno obsessivo compulsivo.
- Ih... Então você nem deve chegar perto dele. O cara é perigoso.
- Não é.
A garota fica em silêncio por um tempo, depois suspira e, bem devagar, começa a falar:
- Bom, não gosto dessa palhaçada de amor, mas posso te dar um conselho. Quer?
Encosto a cabeça nos joelhos e choro sem responder a pergunta dela.
- Posso saber seu nome?
Continuo choramingando entre soluços, fazendo meu corpo sacudir.
- Esther Marihá - murmuro.
- Bom, Esther, parece que você tá muito abalada. Já tentou dar o tempo que seu macho precisa em relação ao tratamento?
- Eu estou fazendo isso, mas... acontece que... Eu não estou aguentando a ausência dele, é demais, sabe? Já passou uma semana que não nos falamos.
- Uma semana? - ela meio que ri. - Desculpe, menina, mas uma semana ainda não é nada. Deixa eu contar uma história. Minha mãe ficou um ano sem ver meu pai, ela aguentou, angustiada, mas aguentou. Ele viajou para uma cidade fora do Brasil para trabalhar. Menina... - ela ergue meu queixo para me ver melhor - a distância que Deus colocou na vida de vocês dois talvez seja uma prova do amor que você sente por ele. Talvez... Ah, sei lá. Deus não vai além do que você não possa suportar, quando Ele perceber que já foi demais, Ele vai mandar seu macho de volta, acredite.
Encaro ela, agora enxugando as lágrimas. Eu deixo escapar um sorriso triste.
- Será que ele tem outra? - pergunto, como se ela fosse uma vidente.
- Ele ama você?
- Uma dia ele disse que me amava, mas só foi uma vez. Ele não gosta de expressar sentimos, não gosta dessa baboseira de romance.
- O cara é durão, tipo bruto - emenda ela.
- É. Muito agressivo também.
- Garota - ela toca meu braço - aguente só mais um pouco, tá? Se for para esperar um mês ou mais, vai valer a pena. Você vai ver ele limpo, mesmo que dure um ano.
Vejo sua silhueta desaparecer do banheiro.
- Obrigada - grito para ela.