Capítulo 25

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   Finalmente Leonel Blanchard desce para me ver. Ele veste um roupão azul-marinho e usa chinelos nos pés. Está lindo bem à vontade em sua casa, nunca vi ele assim. Parece que acabou de sair do banho, os cabelos estão molhados e soltos. As gotículas de água descem do seu pescoço para baixo. Leonel está extraordinariamente sexy e gostoso. Pare, Esther, ele não está bem-humorado hoje.
   Levanto-me do sofá para cumprimentá-lo, mas não consigo estender a mão para ele, porque acho isso muito esquisito. Eu não sou uma das suas funcionárias-amigas que precisa usar formalidades.
— Tânia.
   A voz dele é grossa. Tânia surge lá de cima saltitando. Rápido.
— Desligue o som — ordena ele.
— Sim, senhor.
   Então ela some da sala, minutos depois, a música para de tocar. Leonel me olha, impassível. Isso me deixa irritada.
— Que droga, será que você podia parar de me olhar assim?
— Não tenho outro jeito de olhar.
— Acredito que tem — rebato.
   Cruzando os braços à frente do peito, com sarcasmo, ele fala:
— Você é muito petulante, né? Quem te deixou entrar na minha casa?
   Que arrogância! Eu vou encarar ele, oras! Não tenho medo de Leonel.
— Não interessa. Eu sei que você pode demitir essa pessoa ou sei lá o que você costuma fazer com ela.
— Não pensei em demissão.
— Mesmo assim não vou falar.
   Sinto ele soltar sua respiração.
— O que você quer? — diz.
— Eu tive um sonho ruim e achei que podia ser real. Fiquei preocupada, então resolvi vir te visitar.
— E você acha que eu quero te ver depois de ontem? — ele fala amargamente.
   Isso me deixa frustrada.
— Esqueceu que você também aprontou ontem? — retruco.
   Ele dá uma gargalhada malvada.
— Eu fiz isso para provocar você, não porque eu quis. Diferentemente do que você fez, quis ir à festa com seu amiguinho — ele abre aspas na palavra amiguinho com os dedos.
   Esse cretino tem razão. Bom, eu quis sair, mas não para o que ele está pensando.
— Acha que eu tenho alguma coisa com o Edward?
   Ele dá de ombros.
— Não sei, mas sei que ele quer comer você.
— E você se importa? — rebato, deixando-o zangado e sério.
— Me importo tanto que quero até matar ele.
   Arregalo os olhos.
— Eu não acredito.
— Ah, não? — ele arqueia as sobrancelhas. — Então vem comigo.
   Ele me puxa pelo braço e sobe a escadaria da casa grudado a mim. Arrisco dar uma olhadela por vão dos vidros transparentes. Lá embaixo dá medo, não vejo muita coisa por conta de um tapete antiderrapante verde-musgo exposto nos degraus para as pessoas não caírem. Leonel vai me puxando nem um pouco delicado. Ele vira à esquerda, pegamos um corredor enorme. É cheio de quadros com imagens de pessoas; vi a mãe dele Lídia, a irmã Maryelli, Cristoffer... É difícil observar com essa rapidez que estamos no pé.
   Leonel vira à direita e abre uma porta. É do seu quarto. Entramos.
— Você duvida de mim? — ele me encara, impassível.
   De repente fico muda, acho que sei o que ele vai sacar da gaveta, onde está com a mão pendurada. Ele abre lentamente.
   É um revólver.
   Nossa, nunca tinha visto um revólver na vida (na TV, sim, e na imaginação também). Credo! Estou com medo agora. O que ele vai fazer? Mostrar que pode tudo? Dar um tiro em mim? Não pode ser a mesma coisa que sonhei hoje de manhã, aquela cena horrível.
   Leonel me pega pelo braço e me leva até a grande varanda do quarto e escancara todas as janelas, que vão do teto até o chão. Lá fora é um jardim, tem uma árvore que passa a altura da casa e que fica bem à frente da janela do quarto dele.
— Olhe aquele pássaro — ele aponta para o piquete da árvore.
— Estou vendo.
— É lindo, não é?
   Faço que sim com a cabeça.
— Ele me atormenta todas as vezes que chego cansado do trabalho, fica cantarolando um som insuportável no piquete dessa árvore.
   Onde ele quer chegar, meu Deus do céu? De repente, Leonel aponta o revólver em direção ao pássaro azul e branco, atira no pobre coitado sem piedade.
— Não! — brando, com as mãos atadas na boca, perplexa.
— Viu só? — ele me encara.
— Como você pode ser tão cruel?
— Eu odeio esse pássaro. Verme!
   Coitadinho dessa ave tão indefesa, ela só estava protegendo o seu ninho que, com certeza deve haver algum filhote recém-nascido dentro. Leonel fecha rapidamente as portas da janela, depois me encara, muito possesso. Droga! Retrocedo alguns passos, pois ele avança em minha direção com o revólver na mão. É como sonhei, penso atorduada. Será que ele vai me matar?
— Vai matar a mulher que você ama? — digo, olhando bem fundo em seus olhos negros.
   Estou quase derramando lágrimas. Ele hesita, mas continua se aproximando, e eu, retrocedendo os passos, com medo.
— Então me mate logo, ande.
   Agora as lágrimas caem sobre meu rosto pálido. Leonel não fala, apenas respira fundo agonizando a raiva e a angústia. Ele me olha, irado, revoltado, até que, infelizmente, minhas costas encontram a parede do quarto. Merda! Ele continua andando.
— Por favor, fale comigo — murmuro, choramingando.
   Ponho as mãos na parede e arranho a tinta branca com as unhas. Meu olhar fica fugazmente.
— Deixe-me ajudá-lo a superar esse trauma — gaguejo entre soluços.
   Pronto. Ele toca em mim; coloca uma mão acima da minha cabeça, posando-a na parede e outra — com o revólver — desliza o objeto em meu rosto.
— Ah... Ah... Ah... — ele respira com a boca aberta, enquanto meu choro contribuí ao impasse que estamos neste momento.
   Estou apavorada.
   Não quero que ele se torne um assassino perverso. Também respiro como ele, tensa.
— Você é doutor, tem vinte e oito anos, estudado e bem-disciplinado, você sabe que se me matar passará por sérios problemas, não sabe?
— Cale a boca — ordena com a voz áspera.
   Fico imóvel com o bico do revólver apontado em meu maxilar. Sorte minha que não está mais quente.
— A vontade que eu tenho neste momento é de te dar uma surra, Esther. Uma surra bem dada.
   Eu paro de chorar.
— Teria coragem? — provoco ele, mas minha intenção não era essa.
   Leonel desce com o bico do revólver mais para baixo, dessa vez ele para bem na minha barriga.
— Ah, teria, sim. Eu quero te dar umas palmadas, menina petulante. Daquelas que seu pai deveria ter dado na sua primeira rebeldia.
   De repente, ele me vira contra a parede numa posição que me deixa totalmente impotente. Leonel toca minha coxa, faz isso com o revólver também, que congela minha pele. Ele encosta todo o seu corpo no meu.
— Vamos conversar, Leonel — proponho, mas sei o que ele quer.
— Negativo. Eu vou ensinar a você neste momento como fico irado quando você me atormenta.
— Minha intenção não foi essa.
— Ah, claro que foi. Essa droga dessas pernas pálidas nesso pedaço de saia, esse corpo delicioso... Não quero saber de conversar agora, Srta. Winkler.
— Você não estava zangado?
   Por dentro estou querendo ele, por fora estou com muito medo. Não consigo acompanhar Leonel, ora está puto da vida, ora está excitado querendo me comer.
— Ficar zangado com você entre quatro paredes? Não, meu bem — sussurra depois que larga a arma no chão.
   Leonel desce lentamente — bem lento mesmo — minha saia justa para baixo. Ai, droga, ele vai transar comigo agora. Respiro com a testa na parede. Ele tira minha blusa, em seguida a calcinha vermelha que resolvi usar, ela é daquelas que enfiam na bunda. Meu corpo entra em chamas, me arrepio todinha. Sabe aquela sensação de prazer que só o homem te dá?
— Vem cá, sua traidora — ele me puxa pelo cabelo e me arrasta para a cama.
   Sou jogada brutalmente no colchão. Grito. Me ajeito rapidamente na cama quando Leonel se aproxima. Ele tira seu roupão me encarando com ódio, ao mesmo tempo desejo, malícia.
— Você vai se arrepender de ter vindo, bonequinha — ri ele se divertindo ao me avaliar: estou assustada e ofegante.
   Ele vai ser bruto.
Por favor, não! — suplico, escondendo-me entre os travesseiros, de joelhos.
   Ele monta na cama e já vai me pegando de qualquer maneira: puxa meu cabelo, me joga na parede e me lasca um beijo bem forçado. Ele beija mordendo. De repente, sou pega de surpresa. Rá!
— Ai!!! — grito bem alto que até os pássaros de fora da casa voam tagarelando dos seus ninhos.
   Seguro no corpo de Leonel, porque é o único jeito de me apoiar na posição em que estamos (ele está me penetrando e forçando meu corpo na cabeceira da cama). E continua com os movimentos fortes, que me rasga toda por dentro.
— Você poderia ser... Ai!
   Tento falar que ele poderia ser menos grosseiro no momento, mas sou calada com uma estocada bruta, então resolvo gritar de novo. Ele puxa meu cabelo, ao mesmo tempo, aperta a carne da minha coxa. A penetração continua. Vaivém, bruto e rápido.
   Não aguento mais.
Ah — ele geme, boquiaberto, enquanto encosta o rosto no meu, mas sem parar o suplício que ressalta contra o meu corpo.
   Realmente, dói transar com esse médico lunático, às vezes ele é tão carinhoso, mas hoje... hoje... Céus!

Minha estúpida coragemWhere stories live. Discover now