Capítulo 34

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14:00 PM

   Minhas mãos ficam gélidas à medida que avanço na porta do consultório de Leonel — o maníaco obcecado por mim. Qual será sua reação ao me ver? Droga, tremo quando toco na maçaneta da porta.
   Concentre-se, Esther.
   Abro a porta e entro. Sua cadeira está virada para a grande janela que vai do teto até o chão. A vista é maravilhosa para o bairro Leblon. Leonel está falando ao telefone, instigando os dedos para cima. Ao notar minha presença, ele vira a cadeira de rodinhas.
— Até logo.
   Sua expressão é impassível. Ele está de mau humor. Muito sério mesmo. E sua barba está nascendo de novo, dando a ver que ele fez semana passada.
— Está atrasada.
   Sua voz é grossa. Ui! A vontade que eu tenho é de pular em cima desse homem e fazer amor com ele, ou dar uma trepada, como ele diz, porque é isso que o domina: sexo bruto. Ele me olha de cima para baixo e eu me sinto uma puta, pois estou de macacão-saia jeans curto, com um sinto marrom acima do umbigo e calço um salto também marrom.
   Às vezes eu sei ser menina de treze anos, como agora, por exemplo. Essa roupa me deixa mais vulnerável.
— Desculpe, não vim para trabalhar.
— Ah. Hoje ainda é quarta-feira.
   Ele faz questão de me lembrar.
— Eu sei.
— Então comece o seu trabalho — ordena com a voz ainda áspera.
   Não deixe ele te dominar.
Não.
— O quê? — ele me encara, impassível.
— Eu me demito.
   Ele me fuzila com os olhos. Isso me dá medo.
   Contenha-se.
Você é louca?
   Ergo as sobrancelhas para ele. Olha só quem fala...
— Não, Leonel. O problema é você, eu não quero mais continuar sendo sua assistente — falo um pouco alto.
— O que tem de errado comigo, porra?
   Ele se levanta da cadeira e vem em minha direção, mas eu retrocedo alguns passos perto da porta. Nossa, ele está muito gostoso usando essa camisa branca entreaberta no peito, mostrando seus pelos e seus músculos peitorais.
   Droga! Não se aproxime de mim, Blanchard.
— Você é... — gaguejo quando sinto ele me apertando contra a parede do consultório médico.
— Obsessivo? — indaga, com o rosto perto do meu. — Sim, sou, por você. Eu quero você, Esther.
   Sinto sua respiração, seu ardor, seu aroma, sua ereção.
   Não posso.
Eu. Quero. Você. Para. Mim — ele morde meu lábio, suspirando como louco.
   Um beijo não vai tirar pedaço. Me deixo levar pelo momento, porque eu quero, necessito. Agarro sua cintura, ele segura minha cabeça com ambas as mãos e gruda a testa na minha.
— Por favor, Leonel, não me tente — peço, respirando quente em sua boca. — Quero apenas a droga da demissão.
   Ele demora um pouco para falar.
— Está demitida, mas você só sai daqui depois que foder bem gostoso comigo — sussurra, puxando-me para si.
   E agora? Foder? Que droga! Não quero sair daqui com dores, Leonel mete sem parar, com força.
— Não.
   Tento me desvencilhar dele, mas ele me prende na parede com o braço.
— Você não vai fugir de mim, boneca — ele me beija, voraz, pegando minha perna e erguendo para cima de sua cintura.

   NÃO POSSO ACREDITAR que fiz isso de novo, depois do que eu prometi a mim mesma. Não era para acontecer, Esther. Você é uma tremenda idiota, deixou que Leonel te dominasse.
   Foi excepcionalmente gostoso...
   Olhando para ele de frente à sua mesa nem parece que acabamos de “foder”, como diz. Leonel está assinando algumas papeladas da minha demissão, e faz isso seriamente.
   Esse cabelo bagunçado... hum... Deixa ele mais sexy.
   Odeio admitir que não é só eu quem vejo, algumas mulheres que passam por aqui também. Esse pensamento me deprime.
— Aqui esta — ele me entrega um cheque.
   Olho para o papel, fico incrédula com a quantia: quarenta mil reais.
— Será que dá para você diminuir o preço do meu pagamento. — Isso não é justo, droga.
— O dinheiro é meu, estou acostumado à fazer o que eu quero com ele.
   Engulo em seco.
— É muito dinheiro, Leonel.
— Para mim, não é nada. Eu ganho muito mais do que isso.
   Fico boquiaberta.
— Acredito que você não paga essa quantia para o resto dos seus funcionários.
— Não, não pago, mas eles ganham bem.
   Emudeço por um tempo. Qual é a dele? Ele me encara, com um sorriso malicioso.
— Vai ficar aí sentada? Se for, tenho planos para nós dois dentro deste consultório.
   Meu coro cabeludo coça. Negativo, Dr. Blanchard, não vou cair nessa. Me levanto da cadeira.
— Estou de saída, obrigada.
— Ah, tão cedo... — ele se levanta de sua cadeira e anda até mim com passos apressados.
   Não!
— Não encoste em mim — ordeno, fazendo ele parar no meio do consultório.
— Você está na minha propriedade, Srta. Winkler.
— Isso não te dá o direito de mandar em mim — rebato, zangada.
   Ele se aproxima.
— Pare, Leonel.
   Se aproxima mais um pouco, e mais, até ele me agarrar à força.
— Me solte! — brando.
   Uso a melhor arma: dou um chute no saco dele.
— Ai! — geme, caindo no chão.
— Eu disse para me soltar.
   Saio pela porta, vou correndo pelo corredor a fim de fugir dele. Ouço gritos vindo consultório, como “Esther, você me paga!”.
   Eu me sinto culpada por ter machucado-o, mas era minha única defesa, poxa.

Minha estúpida coragemWhere stories live. Discover now