Capítulo 11

5.6K 358 40
                                    

   Mais uma pessoa entra no quarto, é um homem. Edward Drummond. Ah, não. O Leonel está aqui também. Fodeu tudo. Ele veio com flores vermelhas nas mãos. Que homem carinhoso! Leonel olha para Edward com frieza, possessividade e ódio. Ah, merda.
   Edward larga as flores em cima da cama, depois toma a ponta da cama, contemplando-me com carinho.
— Como ela está?
— Quem é você? — diz Leonel irritado, sem responder à pergunta dele.
— O rapaz que ela conheceu no bar semana passada.
— Ah, é? Quais são suas intensões com ela? — ele fica desconfiado e sério. Edward leva a mão nos cabelos e volta.
— Você é o pai dela? — murmura, e há ceticismo em sua voz.
— Não.
— Ah... você é o cara que engravidou ela e agora vai se casar com outra. Lembrei... Leonel Blanchard. Eu sou Edward Drummond, executivo da empresa...
— Eu sei quem você é — Leonel o interrompe com puro ódio nas palavras.
— Então, como ela está?
— Mal.
— A quanto tempo está desacordada?
— Há cinco dias.
   Edward suspira e afaga meus cabelos. Isso faz com que Leonel pire. Sua reação não é normal.
— Coitada, eu adorei conhecê-la naquela noite.
   Não! Edward, o Leonel vai te matar.
— É? Interessante...
— Por que deixou ela assim, cara? Por que não ficou com ela nos momentos mais difíceis? — ele encara Leonel.
— Você não é Deus para me julgar.
— Está invertendo o assunto, Dr. Blanchard. Você sabe do que estou falando.
— Sei, e como você pôde ver na ficha, Edward, eu sou o médico responsável por ela. O horário de visitas não é agora. Quem mandou você entrar aqui?
— A enfermeira me liberou.
   Edward parece irritado.
— A que horas eu posso voltar?
   Leonel revira os olhos, exasperado.
— Se dependesse de mim, nunca — balbucia baixinho.
— Estou falando sério, doutor.
— Fale com a enfermeira... Agora... — ele vai até a porta e a abre, fazendo um gesto com a mão. — Retire-se daqui, por favor.
   Ah! Eu detesto o Leonel autoritário. Ele usa isso da maneira mais cruel com as pessoas que odeia, mas também com as que gosta. Edward sai com a cabeça erguida, mas para logo depois e encara Leonel com frieza.
— Eu vou voltar. Pode ter certeza, Leonel.
   Ele ignora Edward e bate a porta fortemente. Leonel me encara com raiva. Não fique assim, Leo. Que maldição! Ele põe às duas mãos, uma de cada lado, sob a minha cintura. Seus punhos estão firmes no colchão, eu sinto.
— Você continua atraindo vagabundos mesmo em coma numa UTI. Eu juro, Esther, que você vai ser só minha e demais ninguém. Aquele cara nunca vai ter você, se escolher ele em vez de mim, você vai se ver comigo. Não vou ter piedade — ameaça com convicção.
   O que ele está falando? O que isso significa? É uma ameaça. Leonel não pode me machucar, eu gosto dele. Isso é obsessão.
— Eu sei que você está me ouvindo. Esther, você vai sair daqui para ser minha. Entendeu?
   Entendi, respondo mentalmente, embora esteja irritada com ele neste momento.
— Aquele executivo é muito velho para ser seu novo namoradinho. Eu não vou deixar isso ir além. Eu juro. Você me conhece muito bem, Esther.
   Num movimento rápido ele pega minha mão e aperta de forma agressiva. O aparelho indica que a temperatura do meu corpo está subindo. Ele não para de aperta minha mão. Seu tom de voz mudou e seu jeito de agir também. Agora a pouco ele estava tão bom comigo.
— Vai se arrepender de ter me trocado por aquele Zé Mané.
   Ele não é Zé Mané. Que droga! Eu não quero nada com o Edward. A vontade que eu tenho agora é de gritar com Leonel, para ver se entenda.
— Minha Marihá — ele desliza a mão em meu cabelo exposto sobre o ombro direito. — Não gosto que mexem com o que é meu. O Edward vai ter que sumir do nosso caminho, meu bem.
   Ahn? Esse não o Leonel que conheço. Ele olha para as flores e pega o bilhete.
  
   *Espero que goste de flores vermelhas quando acordar e se deparar com elas. Quero te ver bem para poder ficar comigo, me conhecer melhor. Gostei de você, Esther. Obrigado por me fazer rir àquela noite.
   Beijos!
   Edward Drummond*

   Leonel fica possesso de uma hora para outra. Ele amassa o papel, pega as flores e observa com raiva. Consigo ouvir sua respiração, ofegante.
— Filho da puta! — grita, jogando as flores com força no chão. — Eu vou ser obrigado a fazer coisas que eu não quero. Vou te dar uma lição, Esther Winkler.
   O quê? Não. O que ele vai fazer comigo? Eu quero acordar para vê-lo. Meu Deus, eu quero sair desse hospital. Ele vai vai me matar. Não exagere. Ele vai te dar uma lição.
   Movimento meus dedos vagarosamente. Vai, Esther, você consegue. Mexo mais um pouco. Eu consegui! Posso fazer isso. Ouço, do corredor, o nome de Leonel ser chamado para uma reunião. Ele solta minhas mãos.
— Droga! Mas eu voltarei. Até daqui a pouco.
   A voz dele me assusta, é como se fosse o próprio demônio. O que está acontecendo com ele? Eu gostaria de saber e ajudá-lo. Isso não é normal. Ele fala como se fosse um assassino.
   Eu me livrei dele, mas é por alguns minutos. Leonel vai estar de volta e com aquela ira indecifrável. Quando ele fica zangado, é a pior coisa do mundo. Eu detesto isso, ele se torna um esculápio possesso, às vezes eu me pergunto por que ele é assim, perde o equilíbrio de doutor importante.
    Cadê minha família? Eu preciso de todos aqui comigo. O meu pai tem que saber o que Leonel está planejando. Eu posso até morrer nas mãos dele. Como pode? Depois daquele caso lindo e romântico que tivemos. Depois do amor, o melhor, que fizemos em dezembro. Nossa, eu ainda tive a cara de pau de voltar só porque estava num suplício de desejo carnal.
   Leonel Blanchard tem tudo que uma mulher precisa. Ele é fiel, odeia traições, mandão, protetor, bastante bruto e sexy de doer na pele. Nunca vi homem tão bonito quanto ele. Só de vê-lo minha calcinha fica molhada. Mas não posso me derreter agora, não no estado que ele se encontra.

Minha estúpida coragemWhere stories live. Discover now