Capítulo 7

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   Ele quer me beijar, ele quer me beijar, recito em minha mente. Não posso fazer isso, ele vai casar. Resista, Esther, pelo seu filho. Não consigo, Leonel é lindo demais. Seu cheiro é embriagador, essa boca próxima à minha...
— Esther — sussurra que nem um manto. Meu corpo arrepia.
— Não! — empurro ele para o lado, mas ele me agarra fortemente pelos braços. Grito. Uma mão agarra minha cintura e a outra minha cabeça, o corpo dele fica colocado no meu.
— Me solte, Leonel.
   A força dele é muita, não me dá tempo nem para respirar. Ele instiga sua ereção em mim, como está acostumado a fazer.
— Escute aqui, seu robusto, eu não vou ser sua amante. Ouviu bem? — grito. Ele ri.
— Você me ama, não ama?
— Tire as mãos de mim! — tento lutar contra ele, mas é impossível.
— Esther, me ouve, por favor.
— Saí.
— Me ouve! — ele altera a voz. E eu paro de entrebater-se para encará-lo.
— Todo esse tempo você foi um covarde. Onde está sua inteligência, Leonel? Eu vou te dar um filho e você rebate com uma nova mulher ao seu lado.
   Ele me olha, transparecendo fugazmente, parece perdido em meus olhos.
— Você não sabe o quanto estou magoada. O homem que eu amo vai me destruir por dentro e por fora. Eu sei que você nunca sentiu o mesmo por mim, mas pelo menos gostaria que você me respeitasse, assim como eu faço.
— Esther... eu... sofri quando te transferi para Porto Alegre. Achei que nunca mais ia te ver, ai você aparece grávida, confunde minha cabeça, meus pensamentos. A Lara me tirou de uma depressão horrível, por sua culpa fiquei assim.
— Foi por sua culpa, você é o responsável por isso — repreendo-o com repugnância.
— Tem razão, sou eu o responsável — ele me solta vagarosamente.
   Não! Estava tão quente e gostoso nossos corpos colados. Ele vira a cara, cabisbaixo.
— Você faz muita falta — murmura, e me encara com muito ódio. O que foi agora? Aproximo, hesitante. Não entendo sua reação, mas me arrisco, colocando minhas mãos no ventre.
— Leonel, lute por nós três.
   Ele emudece, confuso. Coloco sua mão direita em minha barriga.
— O seu pequeno ou pequena está aqui, esperando pela luz do dia.
— Eu não vou ser um bom pai.
— Claro que vai.
— Esther, você não devia estar grávida. Com certeza essa gravidez é de risco.
   Baixo a cabeça. É verdade. A gravidez é de risco.
— A médica disse que eu posso morrer no parto.
   Ele fica imóvel, estupefato, e se desvencilha de mim indo em direção à porta. Ele caminha devagar, sem tirar os olhos lacrimejantes dos meus. Ele vai embora quase chorando. O que deu nele? Uma onda de emoções de repente tomou seu âmago de suplício. Ele sai sem me dar um tchau. Deve estar sentindo remorso de saber que posso morrer por causa da gravidez.
   Uma dor enorme no ventre me ataca rapidamente, perco o fôlego e fico pálida.
— Yany! — grito já sem forças. Caio no sofá, desaprumada. Ela desce as escadas rapidamente e me acude.
— Esther, o que houve? — ela me sacode. — Esther!
— Estou com muita dor.
   Ela entra em desespero.
— Ai, meu Deus? Dor em que lugar, Esther?
— No ventre — gemo.
— Deite aqui no sofá, por favor.
— O que você vai fazer? — olho para ela, que está indecisa com as mãos na cabeça. Yany anda de um lado para o outro pensando em algo. E a dor dentro de mim continua.
— Acho que é com o bebê, Yany.
— Eu vou na cozinha esquentar água.
— Para que vai servir?
— Vou colocar sobre a sua barriga. Eu aprendi isso com a minha mãe, espere aí.
   Ai, droga! Será que água morna vai resolver? A dor não para. Leonel não deveria ir embora agora. Meio minutos depois Yany está de volta à sala. Abaixo a saia rapidamente.
— Pronto. Pronto — diz ela, colocando um pano encharcado e quente em minha barriga.
— Isso não resolve — rezingo descrente.
— Ah, Esther, vire essa boca para lá. O Leonel também me ensinou isso uma vez e deu certo.
   Reviro os olhos. Tudo tem que ser Leonel Blanchard.
— Cadê o Leonel?
   Viu? Ela sempre tem que lembrar dele.
— Ele foi embora, Yany — murmuro mal-humorada.
— Ah! E agora, passou a dor?
— Um pouco. Por favor, pegue um cobertor para mim, vou dormir aqui, no sofá.
— Não, lá em cima tem dois quartos. Grávidas têm que dormir confortavelmente, você sabe disso.
— Mas aqui está confortável.
— Eu já disse que não, Esther.

Minha estúpida coragemWhere stories live. Discover now