Capítulo 39

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07:00 AM

   Yany e eu saímos do táxi apressadamente, a pressa é porque o nosso avião vai decolar em quinze minutos. Atrasamos uma hora, mas chegamos. Levamos, no carrinho do aeroporto, duas malas pretas de rodinhas. A mais pesada é a de Yany, ela diz para eu andar rápido, mas, fracamente, não tem como eu andar mais rápido com o vestido longo que estou usando. Ele é de seda, preto e macio, com um V enorme entre meus seios, também aberto atrás expondo minhas costas. Eu pareço mais magra com esse vestido. Ele trás um frescor ao meu corpo. Yany veio de saia justa azul-marinho, blusa branca, saltos altíssimos pretos e algumas pulseiras nos braços.
   Meio minutos depois, estamos embarcando no avião, aliviadas. Enquanto checo meu celular a fim de saber quem está no chat, Yany conversa com um rapaz loiro no banco de lado do avião. Estou no celular, mas com o ouvido bem afiado.

CarlosChagas@chat
Oi, Esther. :-)
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   Quem é esse no chat? Ignoro esse rapaz, ele é estranho. Não converso com estranhos, meu bem. Quem dera fosse Leonel. Checo o perfil dele, mas fico desanimada porque ele não está online, só esteve há quatro horas atrás. Então... Três horas da manhã? Leonel estava acordado todo esse tempo? Minha nossa, eu estava dormindo todo esse tempo.
— Desliguem seus aparelhos eletrônicos, por favor — diz uma aeromoça negra, muito bonita com seus cachos soltos.
   Amo cabelos cacheados, mas, infelizmente, eu não tenho. Sinto uma pontada de inveja da aeromoça. Ela é bonita com essa pele negra e esse rosto limpo igual a de um de bebê. Ela passa pelo corredor dos assentos tagarelando aos passageiros para desligarem os aparelhos eletrônicos. Eu aproveito o momento para fazer isso, depois viro-me e encaro Yany.
— Quem é ele?
— Ele quem?
— O rapaz ali — aponto com o queixo para o Sr. Cabelo Loiro.
— Ah, um amigo da minha família. Conheço ele faz tempo — explica ela tranquilamente. Isso já é um sinal de que eu não preciso ficar desconfiada.
— Hum.
— Vai dormir?
— Vou.
— Eu não.
— Então me acorde quando chegarmos à Porto Alegre.
— Ok.

10:09 AM

   A viagem foi longa, dormir todo esse tempo que até chegamos à Porto Alegre. O avião desligou só agora. Posso ver o aeroporto todinho da janela. Na garagem de carros vejo meu irmão encostado num Audi A3 azul escuro, ele veste uma camisa preta, calça jeans, All Star e cabelo longo cobrindo a nuca. Ele observa o avião sob aquele óculos preto magnífico que cai como uma luva em seus olhos. Taylison parece o Sammy da série Subrenatural com esse cabelo.
— Olha lá o teu namoradinho lindo — digo, olhando para ele da janela do avião.
   A aeromoça dos cabelos cacheados conduz a fileira da frente para sair, ou seja, incluindo Yany e eu com mais oito pessoas atrás de nós. Saímos e posso sentir o ar fresco da manhã invadir meu rosto pálido. Tiro o sobretudo que eu estava usando por causa do frio que fez no Rio de Janeiro, pegando os cariocas de surpresa. Já estamos pertos de Taylison e seu novo carro chique. Ele me abraça primeiro, um abraço demorado que me fez falta desde que fui embora de Porte Alegre.
— Ai! Que saudade de você — ele rosna, mas com um tom de ironia.
   Ele bagunça meu cabelo. Ognoro, pois sinto falta até dessa brincadeira chata dele. Taylison me solta por um instante.
— Sua feia — ele faz beicinho para mim.
— Seu feio — rebato, caindo na gargalhada.
   Taylison abraça Yany com um beijo de tirar o fôlego. Ele gosta mesmo dela.
— Amor — ele pega o rosto dela nas mãos e beija seus lábios. Yany chora.
   Que fofo!
— Senti saudade, Taylison, muita saudade — murmura ela entre um beijo e outro.
   Eles esqueceram que eu estou aqui?
— Hã... — murmuro.
— Desculpe, mana, empolguei demais.
— Estou vendo.
— Vamos então.
— Vamos — respondo.
   Taylison abre a porta da frente para a namorada, fazendo sinal com o dedo de que eu devo ir no banco de trás. Reviro os olhos para ele, mas sorrindo. Me aconchego no carro confortavelmente. Meu irmão dá a partida e sai do aeroporto em direção ao centro de Porto Alegre. Ele liga o som do carro e uma música divertida surge no ar, eu conheço, é da banda Nickelback cujo nome é This Means War (a mesma que ouvi antes daquele acidente que sofri). Eu amo rock. Uma balada, ano passado, tocou só as músicas do Nickelback, eu estava lá, esse dia foi marcante. Lembro que fui com aquele babaca do Thaly Alberto, que hoje está preso por trafico de drogas. Cara idiota. Ele foi o motivo da briga feia que tive com Leonel depois que saí da boate.
   Meu irmão recebe uma ligação de repente, e eu não deixo de ouvir, pois está no som do carro.
— Fala, Pedro.
   Ele ouve o cara do outro lado. A voz dele é rouca e abafada no alto-falante.
— Aí, o nosso chefe quer a conta da obra do seu tio. Ele quer saber quanto o velho vai pagar.
— Ahn.
— Vai ter uma reunião dos arquitetos hoje na empresa.
— Que horas?
— Seis e meia mais ou menos. Chegue cedo, você sabe que o Sr. Lincon gosta de pontualidade.
— Não vai dar de eu ir, não.
— Fala sério, Taylison — o rapaz brinca num tom de ironia. — O Lincon não vai gostar disso.
— Pedro, eu vou justificar depois.
— Posso saber o motivo?
— Minha irmã e minha namorada chegaram hoje de viagem.
— E?
— E eu não vou trabalhar. Fui na obra hoje de manhã, acho que não vai ter problemas.
— Ah, ainda bem que você veio de manhã. É... acho que não vai ter problemas, não.
   O rapaz silencia do outro lado.
— Vem cá, não vai desligar? — diz meu irmão.
— Posso aparecer na sua casa mais tarde?
   Taylison ri, acho que sacou qual é do amigo, mas eu não saquei nada ainda. Não estou nem entendo essa conversa.
— Sei. Tá, cara, apareça lá.
— Valeu, meu irmão.
   Taylison desliga, ele olha para a namorada, pega sua mão e beija.
— Como esta Rio de Janeiro, meu amor?
— Bom, muito bom.
— Quando você viaja pra lá?
— Não sei. — Ele vira uma esquina que dá acesso a uma igreja.
    Eu me lembro perfeitamente dessa igreja, ela é enorme por dentro.
— Hum.
— Cariño, tem muito coisa para fazer na nova obra que meu patrão me colocou junto com um grupo de arquitetos. Só vou estar livre daqui a três meses.
   Agora meu irmão soltou o sotaque da Itália. Está parecendo o vovô, Taylison fala espanhol perfeitamente.
— Tudo bem.
— Prometo que vou recompensar todo esse tempo em que você esteve sozinha...
— Hã, gente, por favor. Estamos quase chegando, deixem essa conversa para mais tarde.
   O rosto do meu irmão se alegra com a minha irritação. Fala sério, esses dois só ficam numa melancolia.

Minha estúpida coragemWhere stories live. Discover now