Capítulo 24

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   Acordo rapidamente meio eufórica por conta de um barulho enorme que atinge meu quarto, quando salto da cama, dou de cara com Leonel segurando uma arma. Olho para a parede, que está toda esburacada com uma marca de tiro. Que isso? Tapo a boca não acreditando no que acabei de ver.
— Você...
   Leonel está em pé achando graça no que fez. Ele assopra o bico da arma, calibre 38 se não me engano.
— Seu idiota! — brando.
   Ele para bem atrás de mim e sussurra como um mantra:
— Isso é só o começo. Eu disse que você e o seu amiguinho iam me pagar. Eu vou matar Edward Drummond hoje mesmo.
— Não — gemo, suplicando.
— Sim. Ele merece morrer. Ele tem sido tão impertinente na minha vida esses últimos tempos. Mexeu com você — ele rosna entre dentes.
   Meu corpo chega a arrepiar com a ameaça dele.
— Você é minha — Leonel puxa meu cabelo. Grito. Ele me prende em seu corpo.
— Ai! Me solte, Leonel.
   E ele me segura bem forte pela cintura e pelo cabelo.
— Você acha que eu sou idiota? Acha?! — ele grita, me sacudindo.
— Yany! Yany!
   Peço ajuda em prantos de choro e gritos.
— Pare de gritar, Esther.
   Leonel me joga brutalmente na cama. Grito de novo. Ele monta em cima de mim, jogando todo o seu peso.
— Ai, ai, por favor, pare! Me ajude, Yany.
— Ela não está em casa nem adianta berrar, ninguém vai te ouvir.
   Tento lutar contra ele, dou um soco em seu maxilar. Ele para, fica sério e se levanta da cama com a arma na mão. Ele aponta o objeto para mim. Não! Não!
— Não! — grito. Ele atira, pegando em minha barriga.

08:24 AM

   Acordo gritando da cama. Era um pesadelo? Aquilo era um pesadelo? Céus!
— Graças a Deus! — sussurro.
   Me levanto da cama e vou para o banheiro tomar um banho. Isso irá me fazer bem. Meu Deus, que sonho horrível. Leonel tinha me matado. Ainda bem que foi só um sonho.
— Calma, não é real — digo para o meu reflexo no espelho quando termino de escovar os dentes.
   Acho que vou visitá-lo para ver se aconteceu alguma coisa. Será que aconteceu? Quando termino o banho, escolho uma roupa bem bonita para sair: uma saia justa preta, uma blusa branca, salto preto da Studio TMLS e por último coloco algumas pulseiras no pulso para combinar. Opto por uma maquiagem fraca, apenas um batom rosado e máscara de cílios. Só isso. E desço para tomar meu café da manhã.
   Yany está sentada tomando café e comendo um tipo de creme com frutas. Está tudo misturado numa taça grande de boca larga. Ela me olha assim que chego.
— Vai sair?
— Vou.
— Hum.
   Ela fica em silêncio. Admiro ela por não ter perguntado onde vou.
— Onde vai?
— Demorou...
— Eu notei — ela sorri.
— Vou visitar Leonel no Leblon.
— Sei.
   Ela fica meio desnorteada e me olha com ar de desconfiança. Pego um pedaço de pão e mergulho ele no creme de avelã com cacau.
— O quê? — encaro ela.
— Por que vocês não namoram?
   Rio.
— É — balanço a cabeça para lá e para cá. — Mas, em primeiro lugar, meu pai nunca iria aceitar, em segundo Leonel não me quer porque está passando por um momento que ele diz que, se eu ficar por perto, vou me ferrar junto com ele. Então...
— Espere aí — ela me interrompe incrédula. — Você vai na casa dele, o cara te come e você vai embora?
   Fico em silêncio, zangada, com a petulância de Yany. Bom, se ele me come é porque eu deixo e porque gosto dele.
— Eu gosto dele — digo baixinho.
— Então Leonel tem o pleno poder de sair com outras, vocês dois não estão compromissados.
— Não, ele é só meu.
   Ela dá uma gargalhada, me deixando irritada.
— Esther, você está sendo muito boba nessa história. Acha que ele não deve ter outras curtições por aí?
   Igual a de ontem.
— Yany, você está do meu lado mesmo?
— Claro, mas acho que vocês devem tomar uma decisão para que esse relacionamento se prospere. Isso vai te fazer mal, Esther. Eu já passei por esse impasse.
   Fito minhas mãos entrelaçadas sobre a mesa de mármore. Me levanto para sair.
— Tchau.
   Atravesso a porta.
— Tome cuidado! — grita ela para mim.

09:07 AM

   Toco o interfone da casa de Leonel, é uma mansão, muito grande e chique. O carro de Yany está estacionado do outro lado da rua num estacionamento público. Uma pessoa atende o interfone.
— Casa do Dr. Blanchard, bom dia.
   A voz soa profissional, deve ser da Tânia Bouvier. Uma senhora que trabalha para Leonel a muito tempo, segundo ele Tânia é uma pessoa de confiança.
— Oi, Leonel está em casa?
— Sim. Quem gostaria de falar com ele?
   Decido não responder a pergunta dela.
— Tânia, me deixe entrar, é a Esther. Lembra de mim?
— Ah, sim, lembro. Claro, Esther, pode entrar. Vou abrir o portão — fala ela alegremente.
— Obrigada, Tânia.
   Sinto um alívio percorrer meu âmago, porque juro que achei que não seria tão fácil entrar nessa casa enorme. Ele é um patrão rígido que me dá até pena dos seus funcionários. Eles devem sofrer.
   O portão é aberto lentamente e eu entro. Tânia está na porta da frente me esperando com um largo sorriso.
— Tânia — abraço ela carinhosamente, depois paro para observar a mansão. — Nossa, o Leonel mora num lugar bem escondido.
— Pois é. A casa fica bem longe das outras, ainda por cima coberta por prados — ela sorri. — Ele quis assim quando foi ameaçado pela primeira vez.
— Ameaçado? — fico surpresa.
— É.
— Por quem?
   A curiosidade bate em minhas portas.
— Não posso discutir esse assunto aqui, Srta. Winkler. Não me leve à mal.
   Jogo um olhar compreensivo para ela, então sou conduzida para dentro da casa. Paro bem no centro da sala. Observo tudo; a grande escada de vidro, que dá acesso ao andar de cima, as paredes da casa, as decorações (muito masculina e a cara de Leonel). Ele gosta de disciplinas. Nossa, como essa casa é triste, apagada, não estou vendo nem vasos de flores ao redor dos cantos vazios. Os móveis são de última geração, limpos que até eu me vejo na mesinha metálica, que fica no centro do sofá da sala.
   Quando entrei nem reparei que o som — de algum lugar da sala que não sei — está  tocando uma música lenta e baixinha que faz o ambiente ficar mais aprazível. A música é na voz de um homem, não sei o nome, mas a mulher que está cantando junto com ele é Beyoncé. O som... é bom, Ego — o nome da música, acho.
— Vou chamá-lo — diz Tânia, subindo as escadas de vidro.
   Eu espero, sentada no sofá, com o coração na mão.

Minha estúpida coragemWhere stories live. Discover now